Discos

Disco do Dia: Macadame – “Firmamento”

Macadame – “Firmamento”

Ed. Autor (2016)

Em Coimbra, nas instalações do GEFAC, preserva-se e recria-se com elegância e modernidade a música popular portuguesa de transmissão oral, respeitando o passado e apontando coordenadas para o futuro. Se o álbum de estreia “Pão Quente e Bacalhau Cru” nos ofereceu recolhas de Giacometti e de Sardinha com arranjos indie pop e progamações dançáveis que nos remetem para o universo de “Sexto Sentido” da Sétima Legião e do legado do Megafone de João Aguardela, este “Firmamento”, produzido por Miguel Ferreira dos Clã, dá um enorme passo em frente no redefinir da estética sonora dos Macadame. A missão é a mesma. A forma como domesticam as programações e teclados de João Fong que respeitam sempre a moda em formato canção, confere ainda mais espaço e brilho à voz de Vânia Couto, à viola braguesa de Alexandre Barros, à guitarra eléctrica de Rui Macedo e ao baixo de Paulo Yoshida, o que torna o som dos Macadame bem mais equilibrado e coeso. E olhem que não é nada fácil a um projecto inspirado na música popular portuguesa ter na electrónica uma das suas forças. Não faltam exemplos de versões dançáveis que erraram completamente o alvo.

Em “Firmamento” há ecos da idade de ouro da electro pop atmosférica e oitentista da Factory de Manchester dos New Order da fase de “Movement” a “Brotherhood” (“Dança das 8 Virgens”, “Deus Menino”, “Quero-te Bem”), guitarras ruidosas e ambientais à Robin Guthrie dos Cocteau Twins e à shoegaze mais planante dos Slowdive (“Se Fores ao Mar Pescar”), algum downtempo de Bristol, aromas de rumba e son cubano com uma guitarra açucarada como se Marc Ribot com os Cubanos Postizos ou Tó Trips dos Dead Combo evocassem a memória de Arsénio Rodríguez (“Manda Voltar”), um moda alentejana cujo som parece extraído da Nagra de Giacometti e que nos faz lembrar uma chamarrita açoriana (“A do Pífaro”).

“Firmamento” não é apenas disco que viaja pelo tempo e pelo mundo e que oferece uma indumentária urbana, global e sedutora a modas que cresceram e passaram de voz em voz no universo rural e regional, é um objecto de coleção, que inclui belíssimas ilustrações de Ana Biscaio (sexto elemento do projecto que se apresenta ao vivo com tela, tintas e pinceis) e design e lettering de Paul Hardman.

Previous ArticleNext Article

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.

pt_PTPortuguese
pt_PTPortuguese

Send this to a friend