Discos

XIXA – “Bloodline”

XIXA – “Bloodline”

Barbès / Glitterhouse

Pode a obsessão momentânea por um estilo musical ou por um disco ser motivo para a criação de uma banda? Pode.  

Brian Lopez e Gabriel Sullivan, ilustres membros dos Giant Sand de Howe Gelb e de Tucson / Arizona, quando se encontravam em digressão em França, apanharam uma das compilações “The Roots Of Chicha” editada pela Barbès de Olivier Conan (carismático mentor do projecto Chicha Libre que já pôs a Av. da Praia de Sines a bailar no FMM de 2009) e nunca mais a largaram. Começaram a fazer versões de algumas dessas chichas e criaram o projecto Chicha Dust que deu eco a esse híbrido canções peruanas que misturam folclore local, ritmos de cumbia colombiana, guarancha cubana com guitarras eléctricas surf e psicadelico-alucinogénicas. Dado o background rock’n’roll de ambos, cedo injectaram doses maciças de distorção e riffs zeppelinianos em clássicos “Como Un Ave” do Grupo Celeste e “El Aguajal“ de Los Shapis.

“Bloodline” é o resultado do amadurecimento de um sexteto liderado por Lopez / Sullivan que rapidamente absorveu a chicha e tornou-a apenas em mais um léxico entre muitos outros à disposição para criação de novas canções rock contaminadas de psicadelismo setentista, outros ritmos afro-latinos (mambo, merengue), synth-pop, linhas de guitarra western spaghetti morricorniana e tuaregues que contam com a preciosa colaboração de Iyad Moussa  Ben Abderahmanne – Tinariwen / Imarhan), ambientes voodoo e góticos à “True Blood” dominados pelo órgão Farfisa, distorções selvagens e meio industriais post-punk que evocam os saudosos californianos Savage Republic, spoken word latina de Logan “dirty verbs” Phillips no pertinente e muito actual manifesto político que é “Living on The Line” a  evocar o tratado de Guadelupe Hidalgo que fez de Tucson uma cidade (outrora mexicana) norte-americana.

XIXA (e não Xixa) é um projecto pensado dos pés à cabeça. Na necessidade de mudarem de nome (porque já havia Chicha Libre), fizeram questão que a nova designação tivesse as mesmas quatro letras de outros nomes fortes como ACDC, KISS, Abba, MGMT. Todo o conceito visual criado pelo vizinho de Tucson, Daniel Martin Diaz, fabuloso pintor, designer, ilustrador, videasta (e também músico) de ascendência mexicana visível na arte gráfica do disco, nas fotos de promoção e no último vídeo “Vampiro”.

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