Discos

Klezmatics  – “Apikorsim / Heretics”

Klezmatics  – “Apikorsim / Heretics”

World Village (2017)

A mais importante instituição de música klezmer anda a celebrar em casamentos judaicos e outras festividades a importante efeméride de 30 anos de existência. Nascidos em Nova Iorque em 1986, os Klezmatics cresceram em tempos interessantes para o mercado da música e o desenvolvimento daquilo a que por razões de marketing se apelidou de “world music”. Nesse mesmo ano, Paul Simon virava agulha para a África do Sul e editava “Graceland”, David Byrne e os Talking Heads também já andavam com a cabeça em África e, dois anos depois lançavam “Naked”. No Reino Unido, onde o festival WOMAD de Peter Gabriel florescia enquanto os Special AKA com “Free Nelson Mandela” e os Latin Quarter com “Radio Africa” trepavam nas listas de singles mais vendidos, músicos da área do punk e do prog rock como Ben Mandelson, Colin Bass e Lu Edmonds exploravam a música do mediterrâneo, dos balcãs e do médio oriente com os 3 Mustaphas 3 que editaram em 87 o seminal “Shopping”; os Pogues e os The Men They Couldn’t Hang tornavam punk e mais eléctrica a folk britânica; os Wedding Present, porventura a mais interessante banda de jangle pop da colheita NME C-86, exibiam a costela ucraniana do guitarrista Peter Solowka e andavam a gravar canções folk cossacas nas famosas Ukrainian Peel Sessions. Em Berlim, nascia a editora Piranha que, três anos mais tarde, começa a editar os discos dos Klezmatics. Equipa alemã que criou sete anos depois a maior feira de músicas do mundo – WOMEX – que viria a mudar definitivamente o panorama da oportunamente (e preguiçosamente apelidada de “world music”.  

Pensar nos Klezmatics é pensar na evolução destas músicas globais, regionais, locais, remotas, que se expressam em idiomas minoritários e, por vezes, esquecidos. Ouvir os Klezmatics é estar perante uma festa judaica inclusiva que integra ritmos ciganos balcânicos, latinos, árabes, sopros de free jazz da downtown nova-iorquina, interpretados por geniais músicos como Lorin Sklamberg (acordeão e voz), Frank London (trompete) e Lisa Gutkin (que há muito tempo substituiu Alicia Svigals).

“Apikorsim” (herege) é o disco “back to the roots” dos Klezmatics. Um disco só música klezmer gravado apenas e só pelos seis elementos da formação que ao longo de três décadas trouxeram para o seu universo a cantora israelita Chava Alberstein, a referência do gospel hebraico Joshua Nelson, a irlandesa Susan McKeown e que recriaram de forma brilhante o legado de Woody Guthrie (em “Wonder Wheel”).

“Apikorsim” é, igualmente, mais uma oportuna mensagem social e política nestes tempos difíceis para mentes americanas mais progressistas, que se preocupam com os direitos da classe trabalhadora e não olham de forma indiferente para o drama dos refugiados.

Para os Klezmatics, estes “apikorsim” ou hereges são aqueles que desafiam as opiniões mais ortodoxas. São aqueles que continuam a cantar “I ain’t afraid of your Yahweh; I ain’t afraid of your Allah; I ain’t afraid of your Jesus; I’m afraid of what you do in the name of your god” (“I Ain’t Afraid” do álbum “Rise Up”). Celebremos, pois, de forma efusiva, estes belíssimos e redondos 30 anos.

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