Reportagens

Hazmat Modine: De Nova Orleães a Tuva

Uma das grandes qualidades dos Hazmat Modine que salta ao ouvido à primeira audição do seu disco “Bahamut”, é a forma mutante como os seus blues de raiz sulista nos oferecem multiplas visões temporais e geográficas da música americana e do resto do mundo: das canções de trabalho em linhas férreas, registadas por Alan Lomax com aquele som analógico e poeirento; à alma negra de Sonny Boy Williamson e ao «swing» do performer e do saltimbanco britânico Rory McLeod, quando as duas harmónicas se confrontam e imprimem um ritmo frenético; ao balanço do ragtime e do foxtrot do início do século XX; à serenidade acústica de uma banjitar que suporta os harmónicos vocais dos Huun Huur-Tu de Tuva; à forma esguia como as guitarras eléctricas facilmente entram em territórios caribenhos do reggae e do calypso, à slide que nos remete para o Hawaii e ao olhar para a música de casamentos judaicos e cigana do leste da Europa (sobretudo Romena), por via dos metais, do clarinete e do cimbalão.

No palco de Porto Covo, o que faltou em alguns destes elementos, sobretudo o característico som do cimbalão que imprime um ritmo selvagem (alô Kalman Balogh) ao proto-foxtrot de “Who Walked In When I Walked Out” e os inesquecíveis Huun-Huur-Tu que o tocador de Tuba (Sousafone), Joseph Daley, muito bem imitou em “Everybody Loves You”, sobrou em emotividade, na forma rude e brutal como as harmónicas se entendiam, como Wade Schuman, de postura algo ébria (de cansaço) e pouco articulada conseguia manter sempre a orquestra sob controlo, ou como os solos de bateria de Richard Huntley mantinham a atenção da audiência desperta.
Hazmat Modine, um projecto interessantíssimo em disco e em cima do palco que merece regressar ao nosso país, seja a um festival de ar livre, ou através de um espectáculo de auditório.

(c) Fotos Mário Pires / CM Sines

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