Entrevistas

Diego El Cigala – FlamenTango com assinatura Cigala

diego el cigala

Diego El Cigala, madrileno, incrível intérprete de flamenco, incansável pesquisador de músicas latino-americanas. Da Cuba à Argentina, passando pelo Perú. “Sentiendo America” é o espectáculo que apresenta dia 27 de Fevereiro no CCB em Lisboa e no dia seguinte na Casa da Música do Porto. Aqui escutamos alguma da música afro-cubana que gravou em “Lágrimas Negras” e tangos e milongas presentes no disco “Cigala & Tango” registado ao vivo, no Teatro Gran Rex em Buenos Aires. A acompanhar a genial voz cigana, estarão Isidro Suarez na percussão, Yelsy Heredia no contrabaixo e Jaime Calabuch “Jumitus” no piano.

Como é que nasceu o seu interesse pelo tango ao ponto de ter gravado o disco “Cigala & Tango”?

Sim, enamorei-me pelo tango e na Argentina num anfiteatro onde estava a apresentar “Lágrimas Negras”, cantei um tango, “Garganta con Arena” e quando senti a reacção do público, de 3000 almas, aí surgiu-me a ideia do disco. Se, com um tema, tinha obtido esta reacção, o que aconteceria com mais dez temas? Então pus mãos ao trabalho. O meu companheiro Andrés Calamaro conhecia os músicos Néstor Marconi (bandonéon), Juanjo Domínguez (guitarra) e conhecia temas de Atahualpa Yupanqui, de Martin Fierro. Foi um trabalho arrojado e perigoso porque não sabíamos como público iria reagir ao facto de o flamenco invadir o território do tango. A partir do momento em que tivemos os primeiros aplausos senti que estávamos no caminho certo. Andei investigando também a música andina e sobretudo a do norte da Argentina como “La Chacarena”. Vontei a sentir o mesmo entusiasmo quando andava a trabalhar no disco que gravei com o Bebo Valdés. Estas são as coisas que valem a pena: quando fazemos um projecto sem olhar ao lado prático, comercial, para ganhar dinheiro com as vendas de discos. Fizemos isto pelo amor que temos à música. Eu sempre digo que o melhor que me aconteceu foi ter conhecido o Bebo e ter gravado o “Lágrimas Negras”. Com “Cigala & Tango” passa-se o mesmo. As canções falam de amor, desamor, de tragédia, são muito parecidas ao universo do flamenco. Não queria cantar como um tanguero, como Gardel, queria cantar a partir do ponto de vista de como eu sinto o tango. E a graça de tudo isto é que se eu tivesse sido mais metódico não teria tido este resultado.

A sua evolução enquanto cantor de flamenco está intimamente ligada à interpretação de música latino-americana (Cubana, Argentina, Mexicana). É mais fácil o flamenco comunicar com estas músicas hispânicas do que com músicas lusófonas (fado, morna)?

O flamenco facilmente se pode acoplar aos ritmos latino-americanos, afro-cubanos. Em termos rítmicos é mais difícil fazer a junção de uma buleria com um fado. Gostava muito de cantar um fado. Adoro a Dulce Pontes. Mas não quero que perca a frescura e a sabedoria do que é o fado, mas que também tenha flamenco. Não poderia cantar um fado como um português. Nem tão pouco poderia expressar-me em “portunhol”. Necessitaria correr o tempo, a sabedoria da música e da melodia do que é o fado e levá-lo para o território de Cigala.

Tento fazer uma obra de tango onde se reconheça a assinatura Cigala. Estive recentemente no Perú. Todos sabemos que o cajon peruano foi introduzido no mundo do flamenco. Fui a um ensaio de uma grande cantora – Eva Ayllón – tocavam como os músicos de flamenco, sons e ritmos como tanguillos de flamenco que nós estamos acostumados a tocar toda a vida. E eles tocavam isto sem nos terem escutado. Perguntava-me como era possível haver tanta semelhança. E sinto o mesmo com a música brasileira. É mais harmonia. Quero gravar com Djavan, conhecêmo-nos e ele gosta muito de flamenco. Disse-me que tinha de fazer algo com música brasileira.

O que é que une o flamenco com estas várias músicas latino-americanas? o jazz que permite abrir caminhos para a improvisação?

A música latina e o flamenco viaja muito sobre improvisação. No nosso concerto, como há muita rítmica, muitos espaços, há um momento de solos de piano que passa para o contrabaixo. É daqui que sai a inspiração. Se eu não dou liberdade aos músicos, a música já não sai. Procuro que eles me surpreendam.

O seu último disco recebeu um Grammy Latino na categoria de melhor disco de tango. Como é que o Diego, que não é um cantor de tango, aceitou este prémio?

Quando recebi a notícia estava na Costa Rica e fiquei muito surpreendido. Primeiro porque nas nomeações estavam grandes momes do tango como Adriana Varela, Susana Rinaldi, o neto do Ástor Piazzolla. Penso que conquistei o prémio por fazer uma coisa diferente, menos linear.

Depois de ter gravado música afro-cubana e argentina, que outros projectos tem em mente?

Em Abril sai um novo disco mais andino, nortenho [N.R.: da Argentina]. É uma homenagem a Mercedes Sosa, Atahualpa Yupanqui e Martin Fierro. Tem chacarera, zambas, tango. Não há piano, nem bandoneon. Há guitarras. Um guitarra eléctrica anos 50, tipo Django Reinhardt, junto com uma acústica e uma flamenca. Chama-se “Romance de la Luna Tucumana”.

Irá tocar algum tema deste disco nos espectáculos de Lisboa e do Porto?

Sim. Irei cantar uma milonga.

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