Filipa Pais
? Porta do Mundo
(V&A)
? um caso raro. Com uma carreira t?o prof?cua e quase uma d?cada ap?s ter editado ?lbum de estreia a solo “L’Amar”, Filipa Pais lan?a finalmente o seu segundo disco, “? Porta do Mundo”. ?, de facto, uma porta para um mundo imagin?rio e inocente (as imagens remetem-nos para o universo de Principezinho de Exupery), fant?stico, belo, po?tico. Um universo amadurecido e com os p?s bem assentes na terra. H? ecos de tradi??o (“N?o Se Me D? Que Vindimem”, “Altinho”, “Jos? Embala o Menino”) e das medievais Cantigas de Amigo de D. Sancho I, moldados pela contemporaneidade dos elegantes arranjos de Jo?o Paulo Esteves da Silva, criando um luxuriante universo para a voz cristalina e, por vezes arabizada (marcas da Lua Estravagante) de Filipa. O disco ? feito de subtilezas que ? preciso descobrir: H? a poesia de Cesariny, Reinaldo Ferreira e H?lia Correia. H? adufes que retumbam e bandolins a saltitar como a pulga, acorde?es ora alegres e festivos, ora tr?gicos e sombrios, uma l?mpida guitarra infinita que se prolonga al?m horizonte, uma gaita de foles que pede licen?a para entrar, o toque mais cl?ssico de violino de Manuel Rocha (bem diferente do registo da Brigada V?tor Jara), o virtuosismo de Yuri Daniel (contra-baixo) e de J.P. Silva (Piano) em “Cantiga de Amigo”. ? mais um daqueles discos que ir? manter acesa a discuss?o do que ? ou n?o ? M?sica Popular Portuguesa. N?o h? fronteiras estanques. Os mais puristas que torcem o nariz ?s experi?ncias mais cl?ssicas da Ronda dos Quatro Caminhos, t?m de perceber que o mundo actual ? feito de contamina??o e miscigena??o. E nunca como aqui o universo da m?sica tradicional se encontra t?o pr?ximo do jazz. E ainda bem.