Charanga – Tribut’ó Ti Tobias
Edição de Autor (2016)
Verdadeiro O.V.N.I. da música nacional (e Ibérica), os Charanga demarcaram bem o seu território ao unir de forma descomprometida programações de dubstep e drum’n’bass com com música de raiz popular, de desgarradas, repasseados a fandangos e corridinhos, sobretudo repertório tocado com gaita de foles, quer pelos Galandum Galundaina, quer pelo torrejano Estraguinha, ao elaborar mashups improváveis entre gaitadas de melodias de Kraftwerk e António Variações, complementado com uma elaborada e sofisticada performance humorística e kitsch em cima do palco com sucessivos gags monthyphitianos a quem tiramos o barrete ribatejano.
O segundo álbum Tribut’ó Ti Tobias alarga o extravagante universo dos Charanga, mas parece igualmente um álbum de transição que une o omnipresente humor, os inevitáveis mashups (desta vez com mais um momento de génio de um mashup entre um repasseado mirandês com a música genérica dos Jogos Sem Fronteiras e samplers da voz de Eládio Clímaco), estuda (como Tom Zé) a música do emigrante dos anos 60 (só é pena a Carta de um Emigante não ter sotaque francófono incluído) e, acima de tudo, reforça o sentimento de missão em conhecer melhor as raízes da música Ibérica e em desenvolver repertório assente nesta matriz e em criar repertório a partir daqui (como é o caso da Moda dos Burros de Cacilhas de João Cleto). É desta forma que saudamos peças como Olá Guardador de Rebanhos e Rapsódia do Pandeiro. Este último, revirado do avesso, que mistura a tal rapsódia sacada aos Galandum com repertório do mago castelhano e leonês Eliseo Parra com quem Rui Aires tocou. Um dos temas em que o cordofonista folk Miguel Simões (bandolim, cavaquinho e bouzouki em Grelinhos da Charanga, Olá Guardador de Rebanhos e Natal da Carrascona) participa. Ele que está agora a substituir André Neto (violino, programações) e a desenvolver novos arranjos ao repertório do alinhamento dos espectáculos (deste e do anterior disco). A ouvir e a ver.
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