Diabo a Sete – “Figura de Gente”
Sons Vadios (2016)
Aos 14 anos de idade, em plena fase de rebeldia, os Diabo a Sete (agora a seis) exalam uma força tranquila que se reflecte na solidez de um colectivo folk rock movido a rasgos de cavaquinho e machinho, repicadas de bandolim e intensos bordões de sanfona e de gaita de foles (e nunca de guitarra eléctrica) que soube ajustar-se às constantes mudanças e evoluir com as dores de crescimento.
Figura de Gente parece um disco de transição, de um passar de testemunho de Julieta Silva (voz, sanfona, pianinho e arranjadora na quase totalidade dos temas) para a recém chegada Sara Vidal (voz, harpa, pandeireta galega) que consegue conquistar o seu espaço e deixar sua a impressão digital ao longo destes oito temas, sobretudo no “celta” e planante Quarto Crescente e na quase marcha fúnebre Cantiga de Vir ao Mundo.
O verdadeiro ADN dos Diabo a Sete (D7) surge aqui, de forma mais doseada, sobretudo no “mantra” Tamboril que é o verdadeiro Paraíso Fiscal deste disco. O tema mais intenso, enérgico e “radio friendly”. Mais uma vez, o baterista Miguel Cardina exibe a boa arte de “jogging para escribas”, num exercício semelhante ao de Macareu dos Gaiteiros de Lisboa.
A capacidade de Cardina em escrever boas canções carregadas de metáforas sobre os Tempos Anormais que vivemos é sem dúvida uma das grandes forças dos D7. Só é pena que esta virtude, esta enorme capacidade criativa, tenha ofuscado, nos últimos tempos, a recriação de modas de recolha. Mas já que estamos em pleno assinalar de três décadas de saudade de Zeca Afonso, de referir que Outono Embargado, é erguido a partir de uma melodia base da Balada de Outono que rapidamente ganha a identidade matriz dos D7 e onde se percebe igualmente a enorme capacidade de integração da cantora e instrumentista Sara Vidal (ex voz dos galegos Luar na Lubre, vocalista d’A Presença das Formigas, mentora, cantora, harpista e guitarrista do trio “celta” Espiral) em projectos já consolidados.
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