Kalakan – “Elementuak”
Edição de Autor (2017)
Nos últimos tempos, grupos como os bascos Xarnege, têm-nos alertado para os profundos laços culturais entre os euskadis do nordeste de Espanha, do sudoeste de França e os gascões (gentes locais da região da Gasconha que faz fronteira com o País Basco) e, já agora, entre os occitanistas.
Das províncias de Baixa Navarra e de Lapurdi, situadas no departamento francês dos Pirenéus Atlânticos, os Kalakan oferecem-nos polifonias vocais harmónicas, ritmadas e vigorosas de repertório ancestral euskera, algumas delas próximas de grupos corais corsos ou de projectos de ritmo e voz da Occitânia como Lo Còr De La Plana, apoiado em percussão corporal que pisca o olhos aos brasileiros Barbatuques, tambores, tamboris e na inevitável txalaparta, para além de aerofones locais como a estridente alboka e a flauta de tamborileiro.
O segundo álbum dos Kalakan editado em 2015, “Elementuak” (elementos) é o recentrar do grupo. O assentar das fundações na causa da música tradicional basca, necessária após uma extraordinária experiência de digressão de oito meses que o trio desfrutou em 2012 (sem ainda ter completado um ano de existência) com Madonna, por alturas da digressão do álbum “MDNA”. Uma rigorosa dieta “vegan” ante as suculentas produções pop de William Orbit e os duetos carnais de uma das rainhas da pop com Nicki Minaj.
“Elementuak” é pois um regresso à terra, à origem, às raízes para, a partir daí, se construir repertório basco ancestral do futuro próximo. Há aqui um lado artesanal, um moldar manual de barro semelhante ao dos Galandum Galundaina. Mas também há dança e bordão xamânico característicos de projectos como Bidaia (ora oiçam “Amaiur” e “Rebelion”) e curiosas experiências rítmicas (uma notável cover de “Baiana” dos Barbatuques em euskera) e minimalistas (como uma txalaparta tocada de mansinho por cima de um planante harmonium indiano em “Txai”).
A edição física de “Elementuak” é igualmente uma ode ao espírito DIY. Não tem código de barras, não é comercializado em lojas de discos, apenas e só mão-a-mão nos locais das actuações dos Kalakan.
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