Päre – “Hausjärvi Beat”
Zebo Records (2016)
A folk finlandesa não pára de nos surpreender. É um organismo, vivo, dinâmico, em constante regeneração, com enorme capacidade de recuperar instrumentos e repertórios perdidos na poeira dos tempos e transformá-los em algo novo e fresco. Assim foi há meia-dúzia de anos com o resgate do jouhikko (lira de duas a três cordas com arco desaparecida no início do Sec. XX) pela mão da Jouhiorkesteri e do seu maior pesquisador e intérprete Ilkka Heinonen que levou este instrumento para o universo do jazz e do free-rock com distorção e solos inflamados à Jimi Hendrix.
Assim é com o colectivo Päre que dá nova vida à gaita-de-foles finlandesa da Idade Média, desaparecida há cerca de 200 anos, recuperada pelo luthier Yrjänä Ermala e interpretada com virtuosismo e muito groove por Petri Prauda (o cordofonista dos geniais Frigg), em conjunto com Tapani Varis (mestre vintage de vários tipos de berimbau de boca, clarinete pastoril e flauta de harmónicos), Piia Kleemola (violino e violino barítono), Jaarno Romppanen (mandola de 10 cordas) e Oskari Lehtonen (kit de percussão que faz lembrar o de André Ferrari dos suecos Väsen).
Em “Hausjärvi Beat”, os Päre convidam-nos para uma sessão xamânica de transe orgânica dominada pelo bordão. Um baile medieval composto por polskas suecas, valsas e minuetos, peças minimalistas para jouhikko e kantele, servidas de forma intensa e selvática com ecos da distorção de “Kaksi” dos Hedningarna, dos violinos inflamados dos Gjallarhorn e do repertório para gaita-de-foles sueca do quarteto trintão Blå Bergens Borduner de Anders Norudde (uma das fontes de inspiração do primeiro disco dos Hedningarna).
Sem dúvida, um dos melhores discos de folk nórdica de 2016.