Carla Pires – “Aqui”
Ocarina (2016)
Carla Pires é, infelizmente, uma fadista com muito mais mercado internacional do que nacional. Sem nunca deixar o lado mais clássico do fado, é uma cantora de aventuras e rupturas. Entre “Aqui” e “Rota das Paixões” (de 2011) estreou na Holanda o espectáculo “Fado Ritual e Sombras”, que une o fado com a dança contemporânea, coreografado por Vasco Wellenkamp.
“Aqui” apresenta-nos Carla Pires totalmente segura de si. Acompanhada por Luís Guerreiro (guitarra portuguesa), Pedro Pinhal (guitarra clássica) e André Moreira (baixo acústico e eléctrico), apresenta-se cheia de alma em formato a capella a interpretar “Utopia” de José Afonso e o tema-título “Aqui”, letra da própria cantora para uma adaptação do fado versículo de Alfredo Marceneiro.
Um disco que traz a luta pelos seus ideais neste tempo indecisão e incerteza para o fado, quebrando algumas ameias. Se em “Utopia” tinha estado brilhante, que dizer da versão em ritmo de marcha lisboeta de “O Povo Canta na Rua” do GAC – Vozes na acompanhada pelas vozes de ex-integrantes deste histórico colectivo: Rui Vaz, Pedro Casaes e Margarida Antunes da Silva. E ainda ataca com garra “Cavalo à Solta” de Ary dos Santos e Fernando Tordo.
“Aqui” mostra igualmente como é possível fazer dialogar o fado com outros géneros que lhe são próximos e de tirando polaroids desta Lisboa cada vez mais multicultural. “Há Samba nas Colinas de Lisboa” mete o bandolim e o cavaquinho de Edu Miranda a chorar de tão bom que é. “Tango Quase Fado” vai ao Rio de Prata e traz o bandoneon de Marcelo Mecadante. “Voltar a Ser Criança”, com Letra do inevitável Tiago Torres da Silva (que ainda há bem pouco tempo ajudou a construir a belíssima obra “Muito Depois” de Joana Amendoeira), música de Samuel Quedas, traz o piano de Filipe Raposo para um dos momentos mais íntimos e belos de “Aqui”.
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