“Ingravitto” é a última criação do catalão DANI MACACO “EL MONO”. Um dos percursores da música mestiça de Barcelona que revoluciona flamenco e rumba catalã. MACACO continua a albergar um batalhão de músicos de várias nacionalidades e áreas para os seus discos: Juanli ElCanijo, Muchachito Bombo Infierno, Nação Zumbi, La Mari de Chambão, Ms.Maliko e Caparezza.
A propósito da presença de MACACO no Sons do Atlântico, recuperamos uma entrevista com o catalão efectuada há cerca de um ano, no dia da sua actuação no festival Mestiço, publicada no suplemento “W” do Público.
– Nos anos 80, os catalães QUIMI PORTET e MANOLO GARCIA foram dos primeiros músicos a fazer uma mescla de flamenco, rumba, música árabe e pop / rock, com o seu projecto EL ÚLTIMO DE LA FILA. Até que ponto este duo serviu e serve de influência para Macaco?
Há muitas bandas rotuladas de mestiças que não reconhecem essa influência. No meu caso, reconheço a grande influência que o QUIMI e o MANOLO tiveram sobre mim. Gostava muito deles quando era pequeno. Não somente pela fusão de pop / rock com flamenco e rumba, mas sobretudo pela forma como eles jogam com o formato canção, sem divagar muito nos arranjos musicais. Eles são fãs de MACACO.
– Como é que foi possível surgir em Barcelona tantos músicos a tocarem na rua e a miscigenarem músicas locais com reggae, ritmos africanos? Tem a ver com o facto de a cidade albergar uma grande quantidade de imigrantes?
Há uma multiculturalidade real em Barcelona porque há um montão de gente de um montão de países. Há também uma multiculturalidade de fachada. Comecei a tocar na rua. Vivi num piso que foi a chave para toda esta movida e que se situa perto das Ramblas. Vivia com Juanli “Er Canijo”, fundador de OJOS DE BRIJO, que tem agora um projecto muito bom, KALIMA; Carlito Rivolta, baixista de DUSMINGUET, Quico Claus do Brasil; Carlos Jaramilho, engenheiro colombiano que gravou os dois primeiros discos de OJOS DE BRUJO e três discos de MACACO; Muñeco, percussionista e compositor de Amparanoia. Nesta altura saímos à rua com baterias de carros ligadas a amplificadores e aí nasceram os OJOS DE BRUJO. Nessa altura ainda não estava lá a Marina. Como estava nos dois projectos [Ojos e Macaco] levei as maquetas a uma companhia de discos e consegui que editassem as duas bandas. Ambas começaram a ter muito trabalho e acabaram por seguir rumos diferentes. A partir daqui, muitas bandas começaram a fazer movidas destas. Mas quem sobrevive são as bandas que fazem bons discos, boas canções e dão bons concertos. A etiqueta Barcelona não quer dizer nada. É obra de um jornalista que cataloga a música. São as bandas a tocar ao vivo que criam o próprio som.
– Ainda continua a tocar na rua?
Agora não se pode tocar. O governo proibiu. Há uma multiculturalidade real e outra de mentira em Barcelona. Toquei cinco anos na rua. Logo comecei a tocar em clubes. O meu nome andou de boca em boca e acabei a tocar em festivais por toda a Europa, América do Sul, Ásia. Com o tempo, quando esta movida começou a dar frutos, houve muita gente que vinha de propósito a Barcelona conhecer isso porque lhe parecia mágico e muito real. O governo começou a ter medo e a proibir os músicos de tocarem nas Ramblas. A polícia chegou mesmo a deter-me, a mim e ao Muñeco, numa altura em que Macaco já era bastante conhecido.
– Em MACACO parece haver uma necessidade urgente em trabalhar com diversos convidados. Até que ponto eles ajudam a criar essa sonoridade diversificada que enriquece a canção?
MACACO é um projecto que eu criei com o carinho de quem faz um filho. Em MACACO sou como um director de um filme onde há um guião e há actores que gostava que participassem nesse filme. Se em qualquer projecto não há ninguém que marque uma linha, isso pode-se converter num “pastiche”. Também gosto, quando colaboro noutro projecto, que haja alguém que demarque essa linha. Saiba para onde quer ir. Quando gravei com a BANDA IÓNICA da Sicília eles sabiam muito bem o que queriam fazer.
– O que é que procura num músico quando o traz para o seu projecto?
Músicos com mentalidade aberta, que amem as canções, que gostem de viajar, de ‘groove’.