Reportagens

[reportagem FMM2007 #5] MAMANI KEITA + NICOLAS REPAC: o eléctrico de Bamako


MAMANI KEITA + NICOLAS REPAC | FMM Sines 2007 | Porto Covo | dia 21 de Julho | muito bem composto
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Há cada vez mais gente a considerar a música tradicional do Mali como a melhor do mundo. Tal afirmação poderá soar a exagero, mas as várias músicas do Mali (desde a tradição rítmica wassolou do sul, ao blues eléctricos e encantatórios do norte tocados pelos sonrai e pelos tuaregues, sem esquecer o riquíssimo legado mandinga), apesar de serem actualmente as músicas provenientes de África mais bem divulgadas mundialmente, são também aquelas que se encontram mais expostas à miscigenação. TOUMANI DIABATÉ, uniu a kora e a música clássica mandinga com flamenco, folk britânica (projecto SONGHAI com KETAMA e DANNY THOMPSON) e delta blues (com TAJ MAHAL). Mais recentemente, o percussionista indiano TRILOK GURTU efectuou algumas experiências com griots do Mali registadas em discos como “Farakala”. Na série e na editora francesa Frikiwa, o DJ FREDERIC GALLIANO misturou batidas de house com grandes vozes do Mali, como a griot HADJA KOUYATÉ e outra das representantes da expressão sulista wassoulou, NAHAWA DUMBIA. É neste contexto de exposição total à mistura com várias expressões de dança e da pop do ocidente que pudemos observar MAMANI KEITA (de etnia bambara) com uma banda de formato (quase) rock, liderada pelo guitarrista francês NICOLAS REPAC, que se fazia acompanhar por mais dois franceses (BIENVENUE TANGA, baixo e contrabaixo; PATRICK GORAGUER, bateria) e, finalmente, por um tocador de maliano de n’goni (MORIBA KOITA). Infelizmente, por questões de logística, não foi possível trazer um tocador de balafon que usualmente acompanha a banda e que iria dar outra autenticidade rítmica ao lote de canções apresentadas.

Apesar de todo o contexto de contaminação ocidental, quer com o seu guitarrista actual, quer com outro francês, o “punk-rocker” MARC MINELLI, ou com o inglês Sam Mills (com quem participou no projecto TAMA), MAMANI KEITA parece nunca ter perdido a essência da música bambara que carrega consigo. Em Porto Covo, houve canções orelhudas (quem não entoou instintivamente a melodia ‘ba-ram-pa-ra-ram-pa’ em “Djekafo”), electro-disco, house (que delícia o ritmo dançante de “Djama Nyemao”), rock, oportunidade para MORIBA KOITA mostrar toda a beleza e virtuosismo com o seu instrumento, o n’goni (cordofone que é a alma na música de BASSEKOU KOUYATÉ que passou recentemente pelo África Festival e que se encontra omnipresente no espectáculo da também bambara ROKIA TRAORÉ), e, especialmente, a carismática presença e o inebriante, intenso, anasalado, doce e agudo registo vocal de MAMANI KEITA, a evocar a força e a beleza exótica da etíope FAYTINGA. Uma óptima aquisição para as noites do castelo, no próximo FMM.




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