Reportagens

FMM de SINES: a garbosa armada do “almirante” Seixas

Pela primeira vez, consegui assistir a todos os dias e a todos os espectáculos do FMM de Sines alargado à extensão de Porto Covo. Foram nove dias de grande intensidade em que tive a missão e a oportunidade de entrevistar cerca de vinte dos trinta e três intervenientes desta nona edição para editar posteriormente em vídeo (a disponibilizar via you tube no blog e no site do FMM) e em áudio (para o programa de rádio Terra Pura). Foram nove os dias de enorme gozo (e de grande estresse também) em que pude sobretudo saborear aquilo que é melhor profissão do mundo: a de ser consecutivamente e agradavelmente surpreendido com artistas fascinantes, seja como repórter, seja como entrevistador. Destaco uma conversa com Erika Stucky em que ela continuamente fez uso de todos os seus recursos vocais, quer a imitar o choro de um bebé, quer a exemplificar o yodel. A norte-americana de ascendência helvética possui uma forma expansiva de ser aliado a uma simplicidade e uma humildade que cativa de imediato que nunca ouviu falar dela. São esses momentos como este, em que nos cruzamos com um ser humano fascinante (aqui não é necessário falar das suas várias artes performativas) que nos dão o necessário suplemento energético para continuarmos a viver de alma e coração o FMM e esquecer todo o cansaço e a tensão acumulada pelo facto de termos de estar disponíveis a todo o momento, há nove dias sucessivos.

Aproveito para agradecer profundamente ao “almirante” Seixas e à incansável e muito organizada e motivada equipa de produção e promoção do FMM toda esta experiência extremamente enriquecedora que nos foi proporcionada (a mim e ao Mário Pires que filmou e fotografou). Creio que não tínhamos conseguido efectuar metade das entrevistas realizadas se não fosse o vosso trabalho planificado ao detalhe. Há aqui muito material com interesse como revelações em primeira-mão e momentos musicais informais que necessitam de ser editados e que por isso mesmo irão ser publicados a pouco e pouco, a partir da próxima semana. Além disso, tive também a oportunidade de recolher gravações com boa qualidade sonora de alguns dos concertos que vão ser também editados e transmitidos em cinco ou seis emissões especiais da Terra Pura, a partir de Setembro. Prometo também, até ao próximo feriado de quarta-feira, dia 15, completar as apreciações (pessoais) aos restantes 27 concertos em falta daquele que considero, por todas as razões já explanadas, o melhor festival de sempre a que já assisti no nosso país (claro que nunca esquecerei as experiências vividas nem em Kaustinen na Finlândia, nem em Falun na Suécia, que fazem de mim um verdadeiro aficionado da folk nórdica).
Tal como o Andanças (por razões distintas), o FMM é um festival vivido intensamente por cada espectador a qualquer hora do dia. Com ou sem actividades programadas. O meu FMM foi uma epifania vivida sobretudo à base de música. E que grandes concertos e que belos momentos de improviso a que eu, pelo menos, assisti…

Nota 5:

GOGOL
BELLOWHEAD
JACKY MOLARD
ERIKA STUCKY & ROOTS OF COMMUNICATION

Nota 4,5:

HAYDAMAKY
NORSKT
TRILOK GURTU BAND
GALANDUM GALUNDAINA
MAMANI KEITA & NICOLAS REPAC
ETRURIA CRIMINALE BANDA
DARKO RUNDEK & CARGO ORKESTAR
CARLOS BICA

Nota 4:

TARTIT
MAHMOUD AHMED
LULA PENA
OUMOU SANGARÉ
K’NAAN

Alguns dos grandes momentos:

– A sincronia perfeita entre o fogo de artifício e os Gogol Bordello e toda a excitação final de quem viu este concerto no telhado do gabinete de imprensa;
– A Erica Stucky a integrar na sua performance as badaladas dos sinos de igreja de Sines (curiosamente, só os ouvi na sua actuação);
– As Ttutunak que não se sentiram minimamente incomodadas ao partir involuntariamente uma das pedras de uma das suas Txalapartas durante um dos seus improvisos;
– o DJ Ill Vibe a tocar percussão com a agulha de um dos seus pratos;
– O embaraço da Lula Pena a tentar afinar a guitarra;
– Os “Gamíadas” do camarada Pires;
– A declaração de amor entre Rachid Taha e Carlos Seixas em cima do palco (esta é meramente provocativa);
– O balde de caipirinhas que se encontrava no gabinete de imprensa no último dia;

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18 Comments

  1. eiii!! que saudades desses momentos (puseram-me um sorriso grande e agora que os li voltou) e não vi o balde.
    Acrescento na tua lista, Aronas e o piano fantástico de Aron Ottignon que me tirou das comidas para uma dança de final de tarde, como a da noite em Porto Covo ao som de Etran Finatawa, o bater das palmas com as guitarras provam que não é preciso muita aceleração para se dançar.

  2. e a Lula Pena a pedir água e rebuçados
    e um dos Hypnotic Brass Ensemble sentado no muro da praia a tentar arranjar o seu trompete com medo de chatear a organização com isso porque “eles têm sido tão atenciosos, estar a chatea-los com isto seria estupidez”

    hehe

    tenho que organizar as minhas coisitas pra ver se finalmente descrevo o meu fmm em condições…

    Não sei se te cheguei a agradecer os cds, tanta era a confusão! Por isso aqui fica um obrigado e até uma próxima 🙂 (Avante?)

  3. Oh. Não vi esse balde de caipirinhas… BAH.

    Também foi a primeira vez que consegui estar lá todos os dias. É certo que perdi alguns concertos (aquele que mais me arrependo é o dos Norskt), mas foi por outra boa razão que também faz parte indissociável deste festival (a camaradagem). Não houve, ao contrário das últimas edições, um concerto que me tivesse deixado completamente virado do avesso (o chamado 10/10), mas no geral, também acho que sou capaz de dizer que foi o meu melhor festival de sempre. Onde é que isto vai parar, se eu acabo por admitir justamente isso, todos os anos que passam?

  4. Olá Sara,

    Não te vi por lá. Quantos dias é que lá estiveste? Podia ter-te levado os discos como levei ao Marco.

    Não tens de agradecer, Marco. Espero que tenhas gostado sobretudo dos AV. Eu é que tenho de pedir desculpa pelo atraso. Acho que a Lula Pena pediu “água-ou-coisa-que-o-valha” :d Fico à espera do teu texto 😉

    Vítor, foi o perdeste por teres ido muito pouco ao GI este ano. Se o 9º foi como foi. Nem quero pensar como será o cartaz do 10 aniversário. Mas há também aspectos que podem ser melhorados. Espero poder abordar esse assunto em breve, depois dos textos que ainda tenho de publicar.

    beijos e abraços

  5. heheh os AV foram a track que mais ouvi do cd do FMM do ano passado, por isso… é claro que gostei!
    Exacto, foi mesmo “água-ou-coisa-que-o-valha” 🙂
    Já coloquei fotos e vídeos no livejournal, seguir-se-ão uns pequenos textos brevemente

  6. notas 5, 4,5, 4 … e então o RACHID TAHA !!??? de longe o melhor concerton do fmm deste ano!!! é absolutamente escandaloso ficar de fora nessas classificações!!!!! música para homens e mulheres a valer!!!

  7. Olá Joe,

    Viu todos os concertos do FMM deste ano? O Rachid Taha deu meio bom concerto, apesar da sua postura cambaleante, com a voz sumida e excessivamente anasalada (o que é que terá andado a cheirar…?). Até ao Ecoute Moi Camarade, foi o desatino total. Só a partir daí conseguiu pegar a sério no público. Ainda foi a tempo porque deu quase duas horas de concerto. Mas tirando alguns bons momentos – Rock El Casbah, Josephine e o tal ecoute moi – houve electricidade e azeite em excesso.

    Não viu o Carlos Seixas em cima do palco (mesmo no final) a exemplificar como se dizia em português Je t’aime, I love You?

    Pires, estava à espera de um “henriquíadas” sobre a nossa senhora da rocha.

    Sara, não vais ao avante, não? Toumani diabaté, fanfare ciocarlia com as estrelas ciganas e tal e tal…

    Marco, os AV têm novo disco e estou mortinho por lhe pôr as mãos em cima.

    beijos e abraços

  8. Camarada Luis, o Rachid Taha vai dar um concerto no festival de Jazz de Monteroux e vai ser transmitido pela TV5…para os que gostam mesmo e já não estão de férias…Eh!Eh! E Plasencia? Alguem vai? Abraços

  9. caro Luís Rei! não, não vi todos os concertos do fmm deste ano! apenas os dos últimos três dias e sei que perdi bons concertos como por exemplo o do Darko Rundek! quanto ao Rachid Taha a mim pegou-me logo desde o tema inicial “Voilà, Voilà”(se bem que numa versão mais contida)! a mim e a mais dois ou três que acabámos por contagiar quase todos à nossa volta à medida que o concerto ia decorrendo e ainda muito antes da apoteose geral da segunda metade do concerto! é pena que a maioria do público em Portugal, precise de referências como por exemplo, neste caso, a versão de Rock El Casbah para reagir perante a diferença, a genialidade, a irreverência cool e a intensidade e vibração de um músico como o Rachid Taha! Mas foi bonito de ver essa reacção que tardou mas que acabou por se manifestar intensamente! Mas como já disse à Raquel Bulha sou suspeito neste caso, sou um incondicional do Rachid Taha que já conheço há 15 anos e considero um dos génios absolutos da música pop dos últimos 20 anos! Dentro do rai argelino e apesar de outras excelências só conheço um músico para pôr ao lado do Rachid: Malik, apesar de ser uma descoberta recente e só conhecer meia dúzia de canções. Vou ver se convenço o Carlos Seixas a trazê-lo para o próximo ano! Para terminar Luís, não, não acho que tenha havido electricidade a mais no concerto do Rachid, acho que esteve no ponto ideal, um equílibrio perfeito entre os instrumentos tradicionais e os eléctricos para quem tem uma costela punk, outra de DJ e naturalmente outra magrebina! se o concerto do Rachid Taha teve electricidade a mais o dos Gogol Bordello foi uma bomba atómica! e não foi por isso que deixámos de gostar! Quanto à voz do Rachid: é única e inimitável : poderosa, sensível, do tamanho do mundo!! Um abraço !

  10. oi salamandrina! agradeço a informação do concerto do Rachid Taha mas já não fui a tempo! só hoje li a mensagem e lamento imenso ter perdido o concerto! se por acaso alguém gravou e puder fazer uma cópia agradecia imensamente! saudações!

  11. Olá Joe,

    Muito obrigado pela pertinência dos teus comentários.

    Acredito que tenhas sentido o concerto do Rachid de forma intensa. Apesar de uma certa frieza inicial ele conseguiu agarrar o castelo. No entanto, apesar de alguns momentos escaldantes não gostei assim muito do resultado final. Os discos são musicalmente muito mas muito mais ricos. Ao vivo, além dos problemas de voz e de postura acima mencionados, o raï-pop-rock dominado por teclado e electricidade em excesso (com poucos elementos – praticamente só o alaúde – que ancorem a música do Rachid no Magrebe) é algo manhoso.

    A “bomba atómica” que falas conquistou tudo e todos por diversos aspectos:

    – grande profissionalismo do Eugene que deu tudo em palco e sabe como ninguém montar um “cabaret” explosivo, pleno de suor, força e sensualidade;
    – a banda não se limitou a usar a energia do punk / rock para tomar de assalto o castelo. Houve sempre uma fortíssima base de música cigana ucraniana / russa bem tocada quer pelo violinista, quer pelo acordeonista;

    Apesar de não ser um grande fã de ambos os discos de Gogol Bordello fiquei completamente rendido ao concerto

    abraço e espero que continues a enriquecer este espaço com os teus comentários

  12. Olá Luís! Uma última achega em relação ao assunto Rachid Taha no FMM Sines: nos concertos ao vivo e ao ar livre quer-se intensidade e emoções fortes, convite à dança, contágio e empatia com os músicos, numa palavra festa, e se for brava melhor ainda! E se isso for conseguido com três ou cinquenta instrumentos em cima do palco é indiferente! A “riqueza” musical quer-se mais nos discos! Nos concertos do FMM deve-se apelar sobretudo à riqueza da festa. E foi isso que o Rachid Taha proporcionou: uma grande festa no castelo, com todos os músicos a contribuirem para um objectivo comum, sem lugar a vedetismos pessoais nem brilharetes instrumentais, em nome do groove e da fusão perfeita (east meets west), num concerto pop rock mas de inconfundível sabor norte africano! E para terminar passo a transcrever alguns dos epítetos com que a própria organização do FMM brindou a actuação do Rachid Taha: “O grande Rachid”, “A rebelião dançante da voz da diáspora”, “Os seus 49 anos não o prenderam”, “Um grande punk-rocker”, “Foi um concerto que envolveu o castelo de uma maneira muito vibrante”, “Rachid Taha, um grande showman”, “Um concerto espectacular”, “O homem que dominou o castelo”, “A interacção com os seus músicos e o público foi uma constante”, “Magnífico”. Conclusão: eu, a generalidade do público e a organização fomos unânimes em relação à excelência do concerto! Mas atenção, uma unanimidade inteiramente merecida, como quando Portugal joga muito bem e ganha! Eu que nem vou muito em unanimidades! O Luís Rei terá sido mesmo uma das excepções a juntar à Raquel Bulha que também não gostou por aí além. Saudações e até um dia destes!

  13. Olá Joe, nem eu nem a Raquel fomos os únicos a torcer o nariz ao concerto. Olha que vi críticas bem piores – demolidoras (e injustas em muitos aspectos), até – à actuação do homem e à noite de sexta-feira. Como já disse, gostei da entrega dele e da interacção que teve com o público a partir do “Ecoute Moi” (o momento decisivo de viragem). Não considero que tenha sido um mau concerto. Foi meio concertão. Mas nem por isso gostei de certos tiques demasiado roqueiros do guitarrista e do gajo que tocava alaúde. Apesar de tudo, tipo o chapéu ao Rachid pela entrega que teve ao dar quase duas horas de espectáculo (o que atrasou um pouco as coisas da Av da Praia) num estado em que não sabíamos muito bem quando é que ele se estendia ao comprido no palco.

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