KIMI DJABATÉ no AMAC (Barreiro) | (c) Luís Rei
Os músicos africanos residentes em Portugal nunca tiveram vida fácil. Sempre houve um certo preconceito que ainda hoje leva muitas das Câmaras Municipais a declinar propostas de artistas negros que falam a nossa língua. Para muitos, a grande Lisboa é apenas um local onde a sua família reside e um local de descanso de meia-dúzia de dias entre datas de uma intensa digressão pela Europa e pelos Estados Unidos. Mas, se os cabo-verdianos, felizmente, vão-se mexendo e bem, o mesmo não podemos dizer dos artistas guineenses que vivem “guetizados”. Salvo a honrosa excepção de MANECAS COSTA (e, de forma menos intensa de ENEIDA MARTA), artistas como KIMI DJABATÉ, MAIO COOPE, IBRAHIMA GALISSÁ mereciam muito mais do que um concerto aqui e ali na Galeria Zé dos Bois, no AMAC do Barreiro, no bar do CCB ou na loja da Trem Azul.
KIMI DJABATÉ que actuou este fim-de-semana no Bairro Alto, perante uma plateia de 30 ou 40 almas, deveria, há muito, estar a frequentar com regularidade palcos internacionais. Depois de ter lançado há ano e meio um álbum – “Teriké” que funde a essência da música do império mandinga com pop e jazz “swingante” (arranjada pelo trompetista alemão JOHANNES KRIEGER da TORA TORA BIG BAND), KIMI DJABATÉ aposta agora num repertório mais clássico, mais africano, menos dado a fusões. Em balafon, guitarra acústica ou eléctrica, num registo mais contemplativo, ou em clima de grande festividade, KIMI DJABATÉ, além de um nobre compositor de canções, é um intérprete de sangue quente que empolga e põe a dançar com relativa facilidade toda uma plateia. E se os programadores culturais ainda “resistem” a integrar músicos de pele negra na agenda regular das suas salas municipais, é deveras estranho que um músico com esta categoria não tenha feito mais do que um Raízes do Atlântico do Funchal há dois anos. É estranho e incompreensível num contexto em que a música griot do Mali tem tido cada vez mais espaço no roteiro dos principais festivais “world” nacionais. Repete-se a história dos clubes nacionais de futebol recheados de jogadores estrangeiros de duvidosa qualidade que impedem a progressão de jovens promessas lusas. Somos hábeis a preferir o que vem de fora. A ignorar o que temos em casa. Muitas vezes de qualidade semelhante e com a vantagem de não se pagarem exorbitâncias em viagens.