Discos

KIMMO POHONEN, KROKE, BORIS KOVAC: A Sant?ssima trindade da folk europeia

Kroke
Ten Pieces to Save the World
(Oriente / Megam?sica)

Kimmo Pohjonen
Kluster
(Rocadillo / Mundo da Can??o)

Boris Kovac & Ladaaba Orkest
Ballads at the End of Time
(Piranha / Megam?sica)

Kroke, Kimmo Pohjonen e Boris Kovac encontram-se no clube restrito dos compositores e int?rpretes da folk do velho continente que, ap?s terem estudado a fundo as suas tradi??es musicais (afinal, a matriz do seu trabalho), conseguem apresentar solu??es inovadoras, extravasando a geografia e as compartimenta??es estanques a que muitos g?neros estavam sujeitos pelos mais puristas, conferindo uma nova e empolgante dimens?o ao seu legado, sem necessidade de ceder aos clich?s das modas da miscigena??o de ocasi?o, impostas pelo mercado editorial e pelos produtores de espect?culos.

Os polacos Kroke de s?lida forma??o cl?ssica e jazz?stica, para quem a m?sica klezmer ? um modo de vida, continuam a esbater todas as fronteiras da m?sica caracter?stica da di?spora judaica, aprofundando a ruptura com o modelo de base um pouco mais conservador (mas que, m?os dos Kroke ? bastante criativo, basta escutar o ?lbum ao vivo “Live at The Pit”) assente na tr?ade violino, contrabaixo e acorde?o. “Sounds Of The Vanishing World” (de 99) f?-los olhar para o Universo atrav?s de uma janela em Crac?via. Em “Ten Pieces To Save The World” os Kroke tornam-se cidad?os errantes do mundo, sem contudo perderem as suas maiores refer?ncias. O sangue klezmer a continua a correr-lhes nas veias. Em “Cave”, tema inicial, mant?m o mesmo tom fren?tico, a sublime t?cnica com que mudam frequentemente de ritmo e pe?a, incorporando agora instrumentos de sopro, guitarra e percuss?o (al?m daquela que Tomasz Kukurba improvisa com o seu contra-baixo), em flashes de flamenco e m?sica mediterr?nica de aroma turco que encaixam na perfei??o, como num puzzle, entre andamentos klezmer de euforia e tristeza. Em “Cave”, escutam-se pingos a cair por entre ambientes electr?nicos e soturnos de contempla??o aos Boards of Canada. “Montains” repleto de altos e baixos como as montanhas e a folk norueguesa, revela-nos o lado mais cl?ssico-contempor?neo por via das cordas. Um ?lbum inovador, com solu??es simples onde uns assobios, um estalar de dedos, um dedilhar do contra-baixo e um acorde?o manso, chegam para construir uma pe?a carregada de swing (“Take It Easy”).

Embuido do esp?rito da Sibelius Academy e de um dos mais carism?ticos professores de m?sica finlandeses, Heikki Leitinen que aconselha primeiro a estudar a fundo a tradi??o e posteriormente a efectuar trabalho explorat?rio, a ir mais al?m, Kimmo Pohjonen cedo se revelou como um dos mais criativos, rebeldes e consistentes m?sicos da folk europeia. J? no seu anterior projecto, os Ottopasuuna, testava o experimentalismo (sobretudo em “Suokaasua”), incorporando ru?dos de correntes a serem arrastadas, decompondo melodias, sem perder a adocicada sonoridade da folk finlandesa. No seu projecto a solo, Pohjonen, transcende-se, projectando momentos de tens?o e ambientes sombrios kalevaliano-cibern?ticos. “Kluster” ? a parte dois de “Kielo” onde a folk purista ? literalmente implodida. Aqui Pohjonen usa o acorde?o como um instrumento de destrui??o maci?a, ocupando todo o nosso espectro sonoro, inquietando-nos, amorda?ando-nos a alma. As notas que tira do fole contaminado por overdubs e samples do pr?prio acorde?o usados como percuss?o, s?o como m?sseis que explodem nas nossas colunas, anunciando o apocalipse de forma t?o veemente quanto a israelita Meira Asher.

Boris Kovac apresenta a sequela de “Last Balkan Tango”, m?sica p?s-apocal?tica para fazer dan?ar quem sobreviveu ao fim do mundo, carregada de nostalgia, humor negro e eleg?ncia, de coordenadas bem definidas no grande caldeir?o balc?nico da extrema pobreza cigana, mas a piscar o olho ?s vetustas e decandentes valsas, cha cha chas e tango de requintada ostenta??o, prato forte dos bailes nobres dos grandes sal?es imperiais da velha e rica Europa. H? na m?sica deste jugoslavo um certo toque minimal e cin?filo, tornando-o numa op??o pertinente para criar os ambientes sonoros dos maravilhosos universos imagin?rios de Peter Greenway, em alternativa a Michael Nyman. S?o deliciosas as passagens em que se escutam vozes de rua que parecem ser italianas e que se erguem dos escombros de uma guerra nuclear, ou quando o jazz swingante rasga a toda a tristeza melanc?lica que atravessa o ?lbum e devolve-nos a alegria esfuziante de uma big band dos anos 40 / 50.

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