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DISCOGRAFIA ESSENCIAL (14) TARAF DE HA?DOUKS – “BAND OF GYPSIES”

Taraf de Ha?douks
Band of Gypsies
(Crammed / Megam?sica)

Depois de dez anos de intensas digress?es ? volta do mundo, a Taraf de Ha?douks (grupo de justiceiros) fizeram justi?a pelas pr?prias m?os. Entraram pela primeira vez, de forma apote?tica na capital Romena, para gravar o seu quarto disco ao vivo. Uma super produ??o que demorou tr?s noites, onde contaram com a presen?a de convidados especiais de vulto: a Ko?ani Orkestar Brass Band da Maced?nia e o turco Tarik Tuysuzoglu. Quem conhece a Taraf de Ha?douks como refer?ncia incontorn?vel da m?sica cigana e da folk que sopra de leste, poder? minimizar tal feito. Apesar da banda criar simpatias com gente ilustre como o actor Johnny Depp, que chegou a pagar cerca de vinte mil contos (cem mil d?lares) para os ver no seu bar Viper Club e com o estilista japon?s Yamamoto que j? vestiu todos os seus elementos, a Taraf de Ha?douks ? praticamente desconhecida na Rom?nia. Se na era Ceausecsu, os m?sicos ciganos eram constantemente vigiados pela pol?cia pol?tica, para n?o cantarem as baladas medievais mitol?gicas que pudessem descrever actos her?icos de outrora e consequentemente desvalorizar a pol?tica comunista, hoje em dia esses mesmos ciganos que det?m o mais baixo n?vel de vida na Rom?nia, continuam a ser alvo de actos racistas generalizados. No entender da popula??o branca, s?o eles os respons?veis pelo cont?nuo mau estar econ?mico e social que o pa?s tem sofrido nestes dez anos da era p?s-Ceasusescu. As consequ?ncias variam: desde a impossibilidade de as crian?as frequentarem a escola e outras institui??es p?blicas, ao acto de fogo posto nas suas casas perpetrado pela popula??o branca. Sem acesso ? educa??o, as crian?as ciganas de Clejani podem n?o saber ler e escrever, mas desde cedo aprendem instintivamente a tradi??o dos “lautari”. Afinal, ? esta a forma mais eficiente de ganharem dinheiro em todo o tipo de celebra??es: casamentos, anivers?rios, baptizados e funerais.
Bela Bart?k poder? acusar os ciganos de corromperem a verdadeira folk dos camponeses da Europa de Leste. No entanto, a Rom?nia s? tem de agradecer-lhes pelo facto de nunca terem parado de tocar e terem continuado a cantar clandestinamente (e a passarem de pais para filhos) as can??es que Ceausescu proibiu e cujos registos magn?ticos queimou, dando um importante contributo para a preserva??o de parte dessa cultura. Da? que tenhamos de concordar com a opini?o do mestre da tabla indiana Zakir Hussain quando diz que, sem os ciganos a hist?ria musical do nosso planeta seria diferente, comparando-os a abelhas que voam por todo o planeta e que misturam o p?len musical que recolhem de diferentes flores. Afinal, foram eles que transportaram da ?ndia o conhecimento de v?rias percuss?es, que se foram desenvolvendo com a di?spora cigana: a dumbak no L?bano, a Tar na N?bia ou a Darbouka na Turquia.
A Taraf de Ha?douks e o sublime registo “Band of Gypsies” acaba por fazer bom uso das palavras mobilidade, espontaneidade, diversidade, cumplicidade e despique que caracterizam cada concerto. O confronto entre gera??es (a dos 70/80 anos e dos 20/30 anos) provoca a dualidade entre a balada cantada e sentida com a mesma m?goa do blues e as composi??es instrumentais tocadas a todo o g?s, como se o pendular pendulasse (a cerca de 300 kmh). O caldeir?o culturas consegue fazer aquilo que os diversos chefes de Estado n?o t?m conseguido: unir toda a extensa regi?o das Balc?s atrav?s da m?sica – da Jugosl?via, Hungria e Rom?nia, at? ? Bulg?ria, Maced?nia, Turquia – com o Norte de ?frica. Todo o seu tecnicismo e improviso p?e ? prova a capacidade de criar empatia em qualquer palco do mundo. Sente-se que a Taraf de Ha?douks precisa do calor do p?blico, como uma acendalha numa fogueira, para entrar em combust?o e dar toda a energia e virtuosismo selvagem que t?m e n?o t?m. Al?m da capacidade que eles possuem de tocar todo o dia e toda a noite, vis?vel h? meia-d?zia de anos em Faro quando se encontravam em rodagem de um document?rio sobre a banda, os treze elementos funcionam como uma equipa bem oleada, sem estrelas, cujo c?mulo da coes?o ? conseguirem mudar de contra-baixista a meio de uma composi??o, sem preju?zo para o espect?culo. A todas estas caracter?sticas vis?veis aos olhos de quem teve a oportunidade de os ver ao vivo em Portugal, de real?ar neste disco o duelo que a Taraf perpetua com a Ko?ani Orkestar, com as cordas dos romenos e os metais dos maced?nios a amplificarem ainda mais o tom de ?xtase selv?tico, mas puro das celebra??es ciganas. Por tudo isto, a Taraf de Ha?douks tornou-se na principal embaixatriz da cultura musical da Rom?nia, para desgosto do cidad?o comum deste pa?s. A justi?a feita por justiceiros tem destas coisas.

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