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THINK OF ONE: Nómadas da cidade.

Não consta que sejam ciganos. Nem tão pouco artistas de circo. Para os seis elementos dos flamengos THINK OF ONE, a vida é feita na estrada, sem nunca estar parado, sempre à procura de alguém desconhecido para tocar. O mentor do projecto, David Bovée, chega mesmo ao ponto de viver diariamente no interior da “naftmobiel”, carrinha transformada em palco móvel com três níveis, com amplificação e luzes de palco incorporados. Ora em Antuérpia (cidade de origem desta formação), ora em Gent, ora em Bruxelas.

Inicialmente, os THINK OF ONE (TOO) eram uma “brass band” de 20 elementos, semelhante a uma banda filarmónica da Flandres. Em vez dos “standards”, desde cedo começaram a interpretar repertório dançável, com influências dos ciganos dos Balcãs.

A necessidade de mobilidade e de tocar de forma mais imediata, reduziu o projecto de duas dezenas de músicos para uma base de 6 elementos. A partir desta estrutura, os músicos dos TOO desdobram-se em múltiplas experiências. Mantêm o espírito da “brass” de dança, através do projecto NAFT. Lançam-se de corpo e alma à música de transe “gnawa” do norte de África em comunhão com quatro músicos marroquinos. Recentemente gravaram com vozes Inuits (esquimós) do Canadá. Em breve, pretendem viajar até Kinshasa – Congo – para, quem sabe, participarem num novo volume de Congotronics (seria demasiado bom se isso acontecesse).

Contudo, o projecto que lhes tem trazido maior notoriedade e permitido tocar com maior regularidade fora da invernosa Bélgica (e que os trará a Lisboa e a Loulé), chama-se “Tráfico”. A eles juntam-se a sexagenária Dona Cila do Coco (voz), Cris Nolasco (voz / percussão), Ganga Barreto (voz / percussão) e Carranca (percussão). Com as raízes e as antenas sintonizadas entre a Bélgica e a região brasileira de Pernambuco, criaram os álbuns “Chuva em Pó” (2004) e “Tráfico” (2006) que alguém poderia lembrar-se de os classificar como “mangue-flemish-punk-brass-beat”. Para o “caranguejo com cérebro” David Bovée, o espírito dos THINK OF ONE (nome inspirado num tema de Thelorious Monk) é fazer música como uma multi-vitaminada sopa. Levam-se vários ingredientes ao lume, trituram-se os legumes e serve-se o creme. No caldeirão de “Tráfico”, cabem os ritmos tradicionais nordestinos, como o coco, cavalo marinho, o maracatu, o frevo e o forro (várias vezes servidos em Portugal por mestres de cerimónias como MESTRE AMBRÓSIO, NAÇÃO ZUMBI, CASCABULHO e CABRUÊRA) e ainda o punk / hardcore, o jazz latino, o reggae e o funk. É neste triturar e misturar de estilos que reside a força dos Think of One. Não só os seis belgas parecem ter vivido toda a vida à beira dos manguezais de Pernambuco, como Dona Cila do Coco parece beber um elixir da força e da juventude para cantar com a garra de uma “rrrriot girl” de 20 anos. Ora comecem por escutar “Tahina”.

os THINK OF ONE actuam hoje em Lisboa, no festival Rotas e amanhã em Loulé, no Festival Med

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