Entrevistas

[Entrevista AMPARANOIA] A luta que a vida dá

Depois de ter actuado há dois anos na tenda raízes do Rock in Rio, o projecto AMPARANOIA de AMPARO SANCHEZ regressa ao nosso país, agora ao Festival Med de Loulé, para apresentar o mais novo registo, “La Vida Te Dá”. Este é um dos concertos mais aguardados de um projecto que recentemente conquistou um dos BBC Radio Awards da Radio 3 e que assinou um dos seus melhores discos, após uma digressão e visita ao México e à comunidade indígena Zapatista de “San Cristobal” para rodar o documentário “Somos Viento”. Segue-se a conversa por e-mail com a carismática Amparo.

– O seu pai cantava flamenco quando fazia pão e a sua mãe boleros cubanos quando bordava. De que forma é que a tua família a influenciu a começar uma carreira artística? Que cantores escutava com os seus pais?

Creio que a infância, o sítio onde cresces e a música que te rodeia influncieam a tua via a forma de te expressares. Sem dúvida que o facto de ser do sul de Espanha e de ter uma família amante de música contribuiu para que fosse o que sou hoje.

– O seu primeiro filho nasceu quando tinha 16 anos. Acha que o facto de ter sido mãe muito jovem lhe deu mais garra para lutar pelos direitos das mulheres, das minorias étnicas?

Sim. Deu-me garra para lutar e para demonstrar ao meu flho e a mim mesma que apesar de ser jovem seria responsável, sem deixar de sonhar. Sempre quis ser cantora.

– A AMPARO é uma revolucionária. Mas a sua revolução é colorida, alegre, poética. Esse é o reflexo da sua admiração pela causa zapatista que luta com canções e poemas?

Sem dúvida que a luta zapatista é o movimento com o qual mais me identifico. De alguma maneira isso está presente nas minhas canções. Convida à revolução interior, a actuar localmente, a reparar o que está mal ao teu redor.

– Disse uma vez que a revolução acontece no interior de cada ser humano. Como pretende mudar o mundo?

Creio que o mundo está a mudar. Os poderosos e corruptos tendem a ser descobertos e são cada vez mais as pessoas que trabalham a favor dos direitos humanos e por um mundo mais justo.

– Disse à revista FRoots que “a música pode acompanhar-nos, dar-nos força, abrir-nos os olhos e manter-nos interessados em outras culturas”. Só a música é que lhe permite evoluir enquanto ser humano?

Esse foi o caminho que elegi para crescer enquano pessoa, para conhecer outras culturas e outras gentes. Mas cada um sabe de si. Cada um deve descobrir o seu próprio caminho.

– Quando se mudou do Sul de Espanha para Barcelona começou a tocar com muita gente que representa a força actual da música mestiça: MANU CHAO, MACACO, DUSMINGUET, FERMIN MUGURUZA e OJOS DE BRUJO, entre outros. O que é que aprendeu com toda esta gente?

O meu maestro foi MANU CHAO. Fermin tem toda a minha admiração e respeito, assim como todos os outros grupos que apareceram depois de Amparanoia. Creio que todos temos aprendido uns com os outros.

– É esse grande sentimento comunitário e participativo que existe na Zona Bastarda de Barcelona responsável pela grande força da música mestiça?

Na verdade, no princípio havia essa união. Agora há muitos músicos que se afastam desse movimento. Sigo unida com as pessoas que sempre foram meus amigos e que eu considero familiares. Dos outros não sei nada.

– Também teve a oportunidade de viver em Marselha.Aí há músicos locais que colaboram com músicos do norte do Brasil, como por exemplo MASSILIA SOUND SYSTEM e LA TALVERA com SILVÉRIO PESSOA. Por que é que não existe uma troca de experiências entre Marselha e Barcelona, uma vez que os muitos dos músicos de ambas as cidades parecem estar na mesma sintonia?

Creio que as coisas têm de surgir naturalmente. As colaborações fazem-se quando há química e são espontâneas. De alguma forma, apaixonas-te pelo que os outros fazem e desejas fazer algo com eles.

– O que é que mudou na vida de AMPARANOIA pelo facto de terem conquistado um dos prémios de World Music de 2005 da BBC Radio 3, referente a melhor banda europeia? Mais digressões? Maior reputação?

Abrem-se mais portas para novos países. Sentimo-nos reconhecidos depois de tantos anos de trabalho.

– A sua música mestiça faz-me acreditar que o flamenco, o son cubano, a rumba catalã, a música cigana do centro da Europa e as rancheras mexicanas fazem parte da mesma família. Qual o ponto comum a todas estas músicas que permitem a Amparanoia unir de forma perfeita todas as peças deste “puzzle”?

É essa a minha tarefa. A de unir todas as músicas que me influenciam e que me tocam no coração e de ir buscar todos os pontos de encontro.

– Depois de ter realizado o documentário “Somos Viento” em San Cristobal, no Sul do México, o que pensa fazer para tentar melhorar a vida dessa comunidade indigena? Será a música a melhor arma para lutar contra a opressão ou há outras forma mais eficaz?

Foi muito importante para mim visitar as comunidades indígenas zapatistas e poder partilhar com as pessoas esse encontro. Tentamos mostrar em 50 minutos a luta destes povos, a nossa luta, as canções deles que nos inspiraram. Gostaria que este documentário servisse para que as pessoas vejam que a resistência nos dá liberdade e dignidade. É um exemplo de luta pacífica.

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