Um dos grandes encantos do FMM de Sines, é a forma como os músicos se deslumbram com o público e, ao receberem a energia destes, se transcendem em palco ou na rua. Às sete da tarde, Siba Veloso do interior da região nordestina de Pernambuco, abriu oficialmente a X edição do FMM, no interior do auditório do Centro de Artes. Em cima do palco, Siba e a «turma» Fuloresta de Nazaré da Mata liderada pelo carimático septuagenário Biu Roque (ausente por motivos de saúde), toca nas várias manifestações musicais do carnaval nordestino e da música que nasceu na rua, do frevo, à ciranda, ao côco e ao maracatu de baque solto.
Um espectáculo muito bem pensado, que começa com um «set» que reúne as três canções mais orelhudas do segundo disco, “Toda a Vez Que eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar”, como “Será?”, “Meu Time” e o próprio tema-título deste álbum. O espectáculo de Siba é, aliás, uma sequência de «sets» / «medleys» dos diferentes ritmos nordestinos superiormente encadeados. Este arrebatador início é um cartão de visita que deixa bem vincada a ideia de que a música do líder e rabequista dos ex-Mestre Ambrósio é muito mais do que uma réplica de uma fanfarra local. Musicalmente, respiramos as festividades do nordeste profundo dos canaviais e dos cortadores de cana-de-açúcar. Mas as rimas de Siba, apesar do «linguagar» regionalista, são universais. São alfinetadas na classe política que nos sobrecarrega com impostos, são «cartoons» que expõem a cegueira do amor que um «torcedor» tem pelo seu clube. Se, em auditório, facilmente ganhámos afinidade com estes músicos que parecem ter viajado de Pernambuco ao nosso país através de uma máquina do tempo (e que, desta vez, não vestiram as camisas lisas de diferentes cores garridas que tão bem lhes assenta), como o Galego e o seu momento de «break-dance», ou o tocador de Tuba Bolinha de 19 anos (um belo pretendente para a Deolinda que canta o “Fon Fon Fon”), é na rua, ao sabor do improviso, em contacto com o público que, sobretudo, o repentista Siba mete toda a audiência no bolso.
Entre a euforia instrumental carnavalesta domesticada ao som do seu apito,vai fazendo versos sobre o FMM, o desejo de ver estes momentos no You Tube, a falta de cabo de microfone para ir ao quarteirão seguinte, o agente que o trouxe ao nosso país e que acabou de ser avistado. Enfim. Com Siba, qualquer situação é pretexo para uma rima. São momentos como este, em que a reação e o fulgor do público, dão uma dose cavalar de adrenalina aos músicos que prolongam, para além dos limites, todo este «fuá» na terra de Vasco da Gama.
legendas:
1 – Siba
2 – Siba e a Fuloresta no exterior do CAS
3 – Galego e o seu «break dance»
4 – Bolinha, o tocador de Tuba
5 – Siba e a Fuloresta no exterior do CAS II
créditos: Mário Pires / CMS