Arranca hoje, junto à Torre de Belém em Lisboa, um dos eventos de músicas do mundo mais participado em termos de público. O África Festival apresenta hoje à noite o senegalês CHEIKH LÔ e o angolano BONGA. Amanhã dividem o palco o cabo-verdiano TCHEKA e a maliana OUMOU SANGARÉ. Sábado, apresenta-se o projecto DJUMBAI JAZZ do guineense MAIO COOPE e a banda de reggae da Costa do Marfim TIKEN JAH FAKOLY. Domingo, as festividades encerram com STELLA CHIWESHE do Zimbabué e EYUPHURO de Moçambique. Paralelamente aos dois espectáculos diarios gratuitos haverá outras actividades paralelas a decorrer na Tenda/Ponto de Encontro, no relvado da Torre de Belém: workshops, ateliers, actuações de música e uma exposição de homenagem a Ali Farka Touré, que esteve presente na primeira edição do África Festival. Os ateliers para crianças irão desenrolar-se entre as 11h00 e as 13h00 e vão ensinar os mais novos a reciclar máscaras, fantoches e bonecas e a fabricar instrumentos musicais, além de expressão dramática e dança africana.
Oumou Sangaré
Bonga
Humor corrosivo. Grande “alma”. A tal “alma” que faz com a que a maioria dos portugueses demonstre uma enorme simpatia pela Selecção de Angola, neste mundial. Residente na zona de Lisboa, deve usar o avião estacionado na Portela como seu principal meio de transporte (como Manecas Costa ou Lura), tal a solicitação internacional para concertos (e a pouca rodagem em palcos portugueses que dignifiquem a sua longa carreira). Alvo de um inesperado fenómeno de culto por parte de alguma comunidade melómana e pensante (ficamos muito admirados de ainda não ter tocado no Maxime). O angolano Jose Adelino Barcelo de Carvalho aka Bonga Kwenda, gravou dois grandes discos antes da música oriunda de Àfrica ser catalogada de World Music: “Angola 72” e “Angola 74”. É esse repertório que vai apresentar no África Festival.
Cheikh Lô
O mais recente embaixador do mbalax senegalês, pós-Youssou N’Dour, vem apresentar “LampFall”. Álbum celebra a miscigenação entre a tradição musical da tribo wolof e o reggae, a percussão de bloco de samba do nordeste brasileiro, os arranjos delicados do son cubano e a guitarra gingona do soukous congolês. Cores unidas do mbalax em acção na Torre de Belém.
Tcheka
Há a irredutível beleza da morna e da natureza selvagem de Ribeira da Barca. Há um certo toque tecnicista que nos faz lembrar Bau. Mas é nas portentosas arrancadas vocais, no “swing” a rodos, na genica com que “slapa” nas cordas da sua guitarra acústica, como se de um instrumento de percussão se tratasse e na forma a fronteira entre a morna e o batuque se torna tão ténue, que reside o interesse da obra de Manuel Lopes Andrade, aka Tcheka. “Nu Monda” merece ser escutado com atenção em Belém.
Oumou Sangaré
Verdadeira força viva da natureza, Oumou Sangaré representa o lado mais visível da música do sul do Mali – Wassolou – dominada por vozes femininas que não nasceram na etnia Mandinga dos músicos e contadores de histórias Griots. Ao respeito pela tradição musical rural, sobrepõem-se os temas fracturantes numa sociedade poligâmica que dizem respeito às mulheres urbanas. A energia dispendida em trabalho de acção social, que faz dela “campeã dos direitos humanos”, não lhe tem dado muito tempo para digressões e gravação de novos discos. Rara oportunidade, portanto, de vermos um dos mais importantes e carismáticos nomes da música maliana.
Stella Chiweshe
Se Mapfumo é leão, Chiweshe é a leoa da mbira do Zimbabué. A sua arte reflecte a comunhão com o mundo espiritual da cultura da tribo Shona. O lamelofone mbira, peça central na música de Stella, é a principal porta de entrada para o mundo astral. No seu país mulher alguma ousara liderar uma banda. Chiweshe, à semelhança de Oumou Sangaré (outra interessantíssima presença em Belém), tem ainda o desplante de liderar uma rede de artistas femininos em Harare.