Inauguro aqui um novo espaço regular que pretende ser de reflexão, impressões e pistas informais, ao sabor de vários estados de espírito, elaborado num tom mais pessoal e transversal às várias áreas musicais.
1. Portugueses em Espanha
Ainda sou do tempo em que nos regozijávamos sempre que um artista luso passava além-Badajoz. Com toda a exposição mediática de MARIZA em todo o mundo e o com fado sempre pronto a pronto a ser consumido na Europa (no Benelux em Especial), na América e na Ásia (sobretudo Japão), tornaram-se comuns as notícias de todo o tipo de fadistas que actuam nos mais recônditos lugares do planeta. Mas não deixa de ser curioso que uma produtora de Espectáculos em Espanha – a Syntorama – trabalhe sobretudo com músicos portugueses. E que seja ela, muitas vezes, a dar notícias em primeira mão dos nossos artistas (veja-se o caso MADREDEUS e o seu ano sabático). Na sua agenda de concertos a realizar até Junho deste ano constam oito datas de DULCE PONTES, cinco de CRISTINA BRANCO, quatro de MARIZA, três de RODRIGO LEÃO, duas de KÁTIA GUERREIRO, duas de TERESA SALGUEIRO e mais duas de LURA. Mais. Ainda falta a digressão que A NAIFA prometeu (aos microfones da Terra Pura, em Novembro de 2006) efectuar durante o ano de 2007. É obra.
2. DULCE PONTES castelhana
Não é novidade para ninguém que DULCE PONTES nunca foi muito bem compreendida no nosso país. Nas entrevistas que tem dado por cá, na forma como actua (no puxar de forma excessiva pela voz) e como escreve (aquela dos “Palhaços Encapuçados”, enfim… não havia necessidade), nunca escondeu um certo mal-estar com muitos portugueses (sobretudo com aqueles que escrevem nos jornais). É curioso que, além da artista ter muito – mas muito – mais receptividade em Espanha, seja também em castelhano que se encontra o espaço cibernético com a informação mais actualizada da autora de “O Coração Tem Três Portas”.
3. A política cultural do Norte
Quando alguém anuncia a vinda de um artista estrangeiro à capital, é de imediato lançada a incontornável questão, no Fórum Sons : “E a norte?”. Dado a programação para os próximos meses da Casa da Música, do Theatro Circo de Braga, da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, do Centro Cultural Vila Flor, é caso para perguntar: “E MAYRA ANDRADE, BALCAN BEAT BOX, SUSHEELA RAMAN, MUSICIANS OF THE NILE e TUXEDOMOON na capital?”. Maldita descentralização.
4. Ainda há paciência para os manos Aston?
Por estes dias, aqueles que conjuntamente com FIELDS OF THE NEPHILIM, SISTERS OF MERCY, SISTERHOOD, THE MISSION et al, fizeram parte de parte da minha adolescência passada na Jukebox do Bairro Alto, actuam na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Perdi as contas às vezes que uma produtora de espectáculos da Margem Sul – a Intermusic – trouxe os GENE LOVES JEZEBEL ao nosso país. Pergunto-me: ainda há gente que não ficou cansada de os ver?
5. Aventura nórdica de RÃO KYAO
Do oriente ao mediterrâneo até território nórdico. RÃO KYAO não tem parado. É pena que o projecto que recentemente criou com o virtuoso acordeonista italiano RICCARDO TESI tenha passado completamente despercebido aos mais atentos a estas músicas. Esperemos que a nova aventura com o norueguês KARL SEGLEM (outrora membro dos UTLA e que é um dos mais interessantes músicos nórdicos que têm miscigenado a tradição dos fiordes com rock progressivo, jazz e música improvisada) se faça notar. Ambos deverão actuar em Portugal lá para Junho ou Julho. Aguardemos (ansiosamente).
Claro. Esta “atenção espanhola” à música portuguesa, só comprova a tendência dos últimos anos: são os estrangeiros que “puxam” pela nossa música de qualidade e é (parcialmente) graças a eles que a nossa música se vai ouvindo lá fora…
Dito de outra forma: em casa de ferreiro, espeto de pau.