Entrevistas

RUI MOTA: O nosso “samurai” na WOMEX

No próximo mês de Maio, RUI MOTA da Associação MUSICA PT (e de um longo passado na organização dos mais diversos festivais de músicas do mundo em Portugal, como o “Cantigas do Maio” e o Festival “Música dos Portos”) ruma até Berlim para fazer parte do júri encarregue de seleccionar cerca de 40 projectos (entre um número provável de propostas que rondará as 500 ou 600) para outros tantos “showcases” que farão parte da programação da próxima WOMEX. A principal feira de músicas do mundo realiza-se, uma vez mais, em Sevilha, durante a última semana de Outubro.

O júri da WOMEX é composto por sete elementos (“Os 7 samurais”) de várias nacionalidades e “expertises” diferentes. Além de assegurar a qualidade dos “showcases”, este grupo é também responsável pela programação de conferências e pela atribuição do prémio WOMEX (The Womex Award)

Como surgiu a oportunidade de seres júri da WOMEX?

Os convites para integrar o júri são da responsabilidade do director da WOMEX. Penso que, no meu caso, “pesaram” vários argumentos a favor: o facto de eu ser conhecido desde a primeira edição da Feira (1994); o de ter estado envolvido na organização de diversos eventos internacionais (“Encontros Musicais da Tradição Europeia”, “Cantigas do Maio”, “Festima”. “Brassband Festival”, “Música de Portos”, etc.) que, de alguma forma, contribuíram para pôr Portugal no mapa dos Festivais; o de colaborar em diversas “redes” e revistas internacionais da especialidade e – mais recentemente – a criação da Associação MUSICA PT, que veio dar maior visibilidade à música portuguesa no estrangeiro. A acrescentar a todos estes argumentos, pode acrescentar-se o bom momento que a música portuguesa atravessa (nomeadamente o Fado), factor não menosprezável neste reconhecimento tardio. Eu diria, pois, que a “oportunidade” foi uma súmula de factores como, de resto, é habitual nestas coisas…

Quais os critérios de selecção dos 40 projectos que actuam na WOMEX?

Os principais critérios visam contemplar a DIVERSIDADE (musical e geográfica), a CONSAGRAÇÃO (qualidade reconhecida) e a INOVAÇÃO (modernidade na tradição). Desta forma, pretende-se apresentar uma “paleta” (tão representativa quanto possível) do que se faz, actualmente, neste campo. Obviamente que, a escolha do júri, é limitada ao universo dos projectos apresentados.

Por que é que praticamente não há nomes portugueses nos “showcases” da WOMEX? O que é que falta às bandas portuguesas para serem seleccionadas?

É uma boa questão. Estive a comparar números e cheguei à seguinte conclusão: em 12 edições da WOMEX passaram, pelos “showcases” da feira, 5 grupos e/ou intérpretes individuais portugueses (“Romanças”, Sara Tavares, Fernando Lameirinhas, Mariza e Ana Sofia Varela). Se fizermos contas ao número de “showcases” nestes anos todos, devem rondar os 270/280 no total. O que quer dizer que a participação portuguesa não ultrapassou os 2%! Em termos absolutos é, de facto, pouco. Mas, podemos fazer outras contas: qual é o peso real da música portuguesa no mercado internacional? Se calhar ainda é menos…eu diria que a proporção de bandas portuguesas nos “showcases” não andará muito longe da “fatia” da música portuguesa nos “charts” internacionais. Por outro lado, e à excepção do Fado, há pouca música tradicional portuguesa editada no estrangeiro. Eu não sei se falta alguma coisa às bandas portuguesas, mas terão certamente mais sucesso aquelas que tiverem um estilo próprio e original. Uma das razões do sucesso do Fado tem a ver com isso: ser uma música original que vive muito da interpretação que só um português lhe pode dar. Se as bandas portuguesas querem ter sucesso, não devem tentar imitar os modelos “célticos” ou outros, que para aí imperam. Nenhum júri vai escolher uma banda portuguesa que soe a irlandesa. Para isso, escolhe uma original…

Que projectos portugueses vês com potencialidades para poderem efectuar um “showcase” na próxima WOMEX? Dazkarieh? Galandum Galundaina? Quatro ao Sul? Victor Gama? Lumen? Terrakota? Segue-me à Capela?

Penso que há uma grande diferença entre as gravações e a presença em palco da maioria dos grupos portugueses. Quase todos são melhores em disco do que ao “vivo”. Uma pecha da maioria das bandas, que não actuam frequentemente e que, por esse motivo, são pouco convincentes em palco. A falta de profissionalização da maioria dos grupos, pode constituir um “handicap” na apreciação final de um júri habituado a ver boas “performances”…mas, eu não arriscaria prognósticos.

O que é que falta aos grupos folk portugueses – desde os veteranos (Gaiteiros, Brigada, Ronda, Zeca Medeiros) aos mais novos (Dazkarieh, Galandum) – para poderem actuar com maior regularidade no estrangeiro, à semelhança do que acontece com inúmeros fadistas?

A resposta está, parcialmente, dada na pergunta anterior. Acrescentaria, no entanto, dois factores essenciais: “rodagem” dos grupos (o que implica profissionalização) e visibilidade (o que implica distribuição dos discos nos circuitos comerciais próprios). Não é verdade que todos os fadistas actuem com regularidade no estrangeiro. Actuam as mulheres, jovens e bonitas. As fadistas tradicionais e os homens fadistas são pouco contratados. Também aqui, uma questão de “moda” e de “marketing”. No imaginário estrangeiro, o Fado é uma canção de mulheres (tradição Amaliana). Têm mais sucesso as cantoras…

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