Destaque, Entrevistas

Unthanks: Tudo em família

Rachel Unthank (c) Mário Pires

Em 2008, Rachel Unthank & The Winterset passou pelo FMM de Sines. As Crónicas da Terra tiveram oportunidade de falar com as duas irmãs Rachel e Becky que agora respondem pelo apelido paterno: The Unthanks. Para elas, uma banda é como uma família.

Quem teve a sorte de ver as irmãs Becky e Rachel Unthanks, há dois anos atrás, no FMM de Sines, num final de tarde em plena Avenida da Praia, não pode deixar de observar um dos momentos mais ternurentos deste festival. Enquanto as inglesas cantavam “sea chanties”, exibiam o seu “clog dancing” de socas ou marcavam o ritmo das suas canções folk através dos seus saltos altos, um conjunto de crianças inglesas (?), nórdicas (?) de 3 ou 4 anos brincava descomplexadamente, junto ao palco, como se estivessem num jardim-escola. Um belíssimo polaroid de Sines evocativo de certos festivais na Europa do norte, cujas actividades iniciam-se logo pela manhã e onde a afluência de carrinhos de bebé ao recinto dos festivais é tão concorrida como os tocadores de djembé nos festivais portugueses.

filha de peixe sabe pescar

Apesar da paisagem idílica, da inocência das crianças, da extrema beleza das vozes de Becky e Rachel, muita da sua música é rude e brava como uma tempestade marítima. Filhas de um intérprete de canções acapella marítimas nos Keelers, as Unthanks possuem os pés bem assentes na tradição de Northumberland, nos rituais festivos da localidade histórica de Allendale (próxima da Escócia) mas também as antenas sintonizadas com expressões musicais variadas e mais actuais: do jazz à contemporânea, da música experimental e minimal, ao indie rock. De «Antony & The Johnsons», a «Robert Wyatt». Mais do que cantar, as Unthanks gostam sobretudo de contar uma boa história. «Crescemos neste ambiente e é muito natural cantá-los», dizem. Afinal, este cante não diz respeito apenas aos homens. «Há também há muitos “sea chanties” do ponto vista feminino como aqueles que costumamos cantar, em que as mulheres perdem os seus maridos no mar durante o tempo de caça à baleia, em que este as deixa sozinhas com crianças para criar, em que a mulher é vítima de violência doméstica. Gostamos de interpretar histórias de mulheres. São sempre muito complexas. Há sempre amor e perda.»

Becky Unthank (c) Mário Pires

As Unthanks nasceram e cresceram num ambiente de música folk britânica «a ouvir gente como Waterson: Carthy», mas as suas composições demarcam-se da folk pura e dura, fazendo com que a legião de críticos ortodoxos cresça à medida que elas vão furando, e bem, em outros circuitos musicais. Facto que lhes tem garantido uma enorme legião de fãs de estrelas rock (Radiohead e Portishead à cabeça) e de ilustres compositores (Robert Wyatt), uma nomeação para o prémio Mercury (pelo segundo álbum “The Bairns”) que contempla usualmente a indústria pop, além de terem lugar cativo nas colheitas dos últimos três da folk inglesa, de acordo com os prémios da BBC Radio 2.

Rachel e Becky gostam sobretudo «de encontrar uma boa história e de a ilustrar através da música», afimam. «Para nós, de uma maneira, a raiz de uma canção ou de uma história é muito semelhante àquelas que os Waterson: Carthy interpretam. Mas com a ajuda da Niopha Keegan [violinista que veio substituir Jackie Oates] gostamos de ilustrar essas canções à nossa maneira. Penso que o som pode parecer diferente do resto da folk inglesa por causa do piano, que não é muito usado na folk britânica. Dá-nos um outro sentimento.»

A este apurado sentido estético, junta-se a veia melómana de quem trata bem uma composição de Robert Wyatt (como é possível escutar em “Sea Song”): «Ouvir a música dele, diz-nos muito. A forma como ultrapassa fronteiras. Com ele, aprendemos novas abordagens, novas técnicas», referiam no intervalo de um espectáculo no Castelo de Sines onde se sentiram estarrecidas com Faiz Ali Faiz. «Os ritmos, a poesia, o êxtase. Ele liga-se de uma forma profunda à audiência», comentavam as manas Unthanks, rendidas à arte qawwali do paquistanês.

É muito bom saber que há músicos que não se fecham nos camarins e que aproveitam o tempo que estão em determinado festival para conhecer outros músicos, outras culturas.

As Unthanks apresentam o seu mais recente álbum “Here’s the Tender Coming” no nosso país dias 8 de Maio em Braga (Theatro Circo), 9 de Maio em Espinho (Auditório da Academia) e 10 de Maio em Sintra (CC Olga Cadaval).

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