Reportagens

FESTIVAL RA�ZES DO ATL�NTICO: UMA SEREIA EM MAR AGITADO

O Funchal recebeu, durante toda a semana que passou, a quinta edi��o do Festival Ra�zes do Atl�ntico. Como tantos outros, sofre as agruras dos or�amentos municipais ou governamentais dispon�veis que, atendendo � conjuntura actual, tendem a ser mais curtos. Quem n�o tem c�o ca�a com gato. Al�m de um nome de luxo � Ces�ria �vora � o evento contou com a participa��o de um grande contigente madeirense � Encontros da Eira, Pipi Noir e Xarabanda � e de um projecto a capella de Sintra (agrad�vel surpresa estes Officium) que trabalha boa parte do esp�lio madeirense recolhido pelo projecto de Rui Camacho (Xarabanda).

A excel�ncia da folk europeia

Na �ltima noite, os catal�es L�Ham de Foc exibiram todas as credenciais de um projecto a jogar nitidamente na liga dos campe�es europeus da folk europeia, em contraste com os escoceses Mac Umba, divertidos mas tecnicamente limitados a militar na 2� divis�o B.
Custa a acreditar que os festivais do continente n�o tenham �pegado� nestes valencianos. Al�m de terem dois �lbuns t�o interessantes quanto complexos (�Can�� de Dona i Home� de 2002, bem melhor que �U� de 1999), a banda tamb�m � grande, muito grande, ao vivo. Num festival de entrada gratuita, repleto de espectadores acidentais, foi not�rio o enorme respeito por quem estava em cima do palco. Coisa que raramente acontece nos festivais de maior dimens�o e de bilhetes (bem) pagos. Momentos houve, de pausa, em que se escutou… sil�ncio. Nem se ouvia t�o pouco o vizinho do lado a falar. Nem as crian�as a brincar ou a chorar. Nada. Foi bonito de se sentir. Para isso contribuiu o extremo profissionalismo dos m�sicos e dos t�cnicos de som e de luzes que conseguiram transformar metal em ouro, gra�as � simpatia de ambos e de uma not�vel disciplina em palco a fazer lembrar projectos indianos Ghazal, cujos mestres de c�tara indiana acordavam diariamente os protagonistas por volta das tr�s da manh�, para estes praticarem o instrumento.
A receita parece ser simples. � beira do mediterr�neo procura-se um ponto de contacto entre o contempor�neo e o medieval, colocam-se todos os ingredientes provenientes de Creta, do norte de �frica, da P�rsia, da folk italiana, albanesa e b�lgara num �nico caldeir�o. Serve-se tudo em bandeja de prata, num banquete que requer mais talheres do que uma refei��o imperial. � impressionante a forma como os v�rios instrumentos v�o desfilando ao longo de uma hora de �xtase. H� cordas para todos os gostos: ala�des, sanfona, cavaquinho, mandola, c�tara, salt�rio, bouzouki. H� �vientos� (como eles dizem): gaita galega, b�lgara, dol�aina, didgeridoo, clarinete e outro tipo de aerofones aparentados com a bombarda bret� e o duduk arm�nio. H� tamb�m muita percuss�o: darbuca, bendir, pandeireta, menuda, tamborina de cordas e tablas. Excelente os cinco minutos de fama de Diego L�pez, a s�s com as tablas. Mas � em Efr�n L�pez e Mara Aranda que gira todo o universo dos L�Ham de Foc. Ele � a art�ria que bombeia o sangue para toda a cria��o. Ela, a alma que ilumina esta viagem do fant�stico � intemporal pangeia mediterr�nica. Quando � que � mesmo o pr�ximo concerto dos L�Ham de Foc?

Samba com whisky

A seguir, os Mac Umba tinham por miss�o oferecer-nos a boda de um peculiar �casamento� entre as gaitas escocesas das terras altas e a percuss�o brasileira em andamento de samba. Humanamente s�o do melhor que h�. Tecnicamente, n�o escondem a limita��o harm�nica e r�tmica. Pobres em cima de um palco, ricos a animar uma festa de rua.

Mais m�sica menos palavra

Na passada quinta-feira, a institui��o madeirense Xarabanda, que tem feito um trabalho incans�vel de recolha e de forma��o de novos m�sicos, n�o gostou da forma como a organiza��o os recebeu. Um dos interlocutores, Rui Camacho, fez estalar o verniz. Queixou-se do som da organiza��o, da falta de apoios monet�rios para as bandas madeirenses (s� faltou chamar-lhes cubanos), a um rep�rter mais habituado a transcrever declara��es dos intervenientes e da assist�ncia, do que propriamente a escrever um par�grafo que seja de an�lise ao concerto. � verdade que houve problemas de som, mas Rui Camacho ter� de olhar primeiro para a forma ca�tica como � montado um espect�culo dos Xarabanda. Gabo-lhes o m�rito de apresentaram uma verdadeira orquestra de cerca de uma dezena de violas de arame e raj�es, tocados por alunos da sua associa��o. H� (novas) vozes femininas apreci�veis, um bom mestre de cerim�nias (Roberto Moniz). Mas � intoler�vel a forma como se perde tempo a entrar e sair do palco em cada can��o, quebrando toda a poss�vel din�mica de um espect�culo pensado para ir crescendo momento a momento. Como � poss�vel n�o sair de nove ou dez m�sicos em cima do palco um rasgo mais ousado de criatividade, quebrando a linearidade como denominador comum?
No final, a machadada final na nossa paci�ncia. Com todo o respeito pela Dona Isabel Gon�alves, que � uma das fundadoras dos Xarabanda… mas n�o deveria esta senhora tocar percuss�o e cantar apenas fora dos palcos? Assim � dif�cil que o mar passe a ponta de S�o Louren�o, como deseja Rui Camacho. Vai continuar a bater e a voltar para tr�s.

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