Quem os viu em palco no Festival de M�sicas do Mundo de Sines, achou-os mornos. Tamb�m tive essa sensa��o quando os vi num ‘showcase’ realizado no Womex de Berlim, em 99. Podem n�o ser um projecto orientado para tocar ao vivo, mas os Simentera s�o autores de quatro bel�ssimos �lbuns: ‘Ra�z’ (1995), ‘Barro e Voz’ (1997), ‘Simentera’ (2000) e ‘Tr’adicional’ (2003). Qual deles o melhor?
Copyright � 2003 Achim Lewandowski
M�RIO L�CIO, compositor e arranjador dos Simentera, � perempt�rio em afirmar que a Simentera n�o � um colectivo constitu�do por “grandes m�sicos”. Ao inv�s s�o “m�sicos grandes”. �, de facto, not�vel o colectivismo destes cabo verdianos, em que as individualidades se diluem num todo comum: “Quando assumimos a ideia de grupo, quer�amos que houvessem nove m�sicos em palco e n�o apenas quatro. Cada um dos elementos toca v�rios instrumentos, canta como solista e faz coros. � um trabalho participativo desenvolvido ao longo dos anos. Queremos que todos desenvolvam as suas potencialidades e que, ao mesmo tempo, sejam uma unidade indissoci�vel. Tivemos de fazer um trabalho mental, espiritual e t�cnico. Quando estamos em palco, h� uma comunica��o muito forte. H� toler�ncia e entre-ajuda, solidariedade. Se algu�m falhar o outro est� ali para cobrir”, revela M�rio L�cio.
Este � o esp�rito vis�vel em todos as edi��es fonogr�ficas dos Simentera que, apesar de n�o serem exuberantes em palco, resulta muito favoravelmente em disco. Sente-se que, M�rio L�cio ao fazer os arranjos, sabe bem o que quer: extrair toda a beleza serena e et�rea dos diferentes ritmos e melodias de Cabo Verde (morna, coladera, funana, samba local) e da delicadeza dos instrumentos ac�sticos, deixando para segundo plano quaisquer excessos de protagonismo de determinado solista. Nem os convidados em “Tr’adicional” tiveram grandes honras de brilhar individualmente. Antes, foram integrados como mais um elemento dos Simentera.
’TR’ADICIONAL’, o quarto �lbum, acentua o esp�rito colectivista dos Simentera. A ‘m�quina’ encontra-se bem oleada. Por vezes n�o sabemos quem est� a cantar – ser� Tet� Alinho? E Terezinha Ara�jo? Ou Maria de Sousa? Existe ainda um entendimento impar entre o grupo e os artistas convidados: os senegaleses Toure Kunda, o camaron�s Manu Dibango, o brasileiro Paulinho da Viola, al�m de Maria Jo�o e M�rio Laginha. Sem vedetismos em excesso, o mais importante para M�rio L�cio era o de colocar estas estrelas a tocar como m�sicos dos Simentera. Al�m disso, procurar aquilo que a hist�ria ofereceu de comum entre os representantes da uma cultura lus�fona. “Se somos da mesma cultura, podemos tocar a mesma m�sica se pusermos as lembran�as a funcionar”, sustenta M�rio L�cio a prop�sito dos artistas convidados s�o nitidamente ofuscados pelo colectivo j� referenciado e que cujo ‘swing’ que trazem encaixa perfeitamente na est�tica Simentera. A ideia de M�rio L�cio � a de que “n�o h� um destaque a quem quer que seja. O Manu Dibango toca connosco, como se fosse um saxofonista dos Simentera”.
Conforme � poss�vel constatar no t�tulo do disco, a hist�ria universal tirou (“Tr’) e acrescentou (“adicional”) valores � cultura de Cabo Verde. Apesar do flagelo social que constitui a escravatura e que roubou � terra um sem n�mero de gente, a m�sica foi a grande beneficiada com esta miscigena��o triangular entre �frica, Europa e Am�rica. “Fomos ao encontro de uma parte da nossa cultura. Quando fomos � procura de um camaron�s, estamos a trazer n�o s� um convidado especial mas uma parte da nossas ra�zes. Quando vamos buscar a Maria Jo�o e o M�rio Laginha… temos as mesmas ra�zes ainda que fa�amos m�sica em estilos diferentes. Paulinho da Viola � parte da nossa identidade. O Brasil tem muita influ�ncia na m�sica de Cabo Verde. Ajuda a nossa m�sica a desenvolver-se. � uma refer�ncia muito actual”.
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”A VIDA COMO UM TODO”. Todos os m�sicos dos Simentera vivem e trabalham em Cabo Verde, em �reas de elite: da medicina � advocacia. N�o h� no colectivo uma total dedica��o � m�sica que executam e recolhem em todo o arquip�lago. Mas o porta-voz do grupo recusa que a actividade musical seja secund�ria. “� paralela e tamb�m um ganha-p�o”, revela. “Assumimos a vida como um todo. As oito horas de trabalho di�rio, a actividade dos Simentera, o tempo para estar com a fam�lia e o trabalho comunit�rio local”.
O ESTATUTO DE M�SICO INTERNACIONAL. Ao longo de quase uma d�cada de trabalho, alguns elementos dos Simentera t�m sido prejudicados por manterem esta actividade, como a n�o progress�o na carreira, dado que o grupo frequentemente desloca-se em digress�o � volta do mundo por um ou dois meses. Antes de partirem, visitam o Ministro da Cultura e o Primeiro Ministro que alerta os servi�os para serem mais flex�veis com a justifica��o das faltas. No entanto, esta � uma luta que os Simentera travam h� oito ou nove anos e que “ainda n�o foi conquistada. Lutamos para que haja uma legisla��o que favore�a o estatuto de m�sico internacional. Este, tal como um atleta, tamb�m � um embaixador do seu pa�s e deve ser reconhecido como tal”, afirma M�rio L�cio. Ele apenas pretende que “o m�sico de projec��o internacional e que tem de sair do pa�s no �mbito do seu trabalho art�stico, n�o dever� ter de pedir autoriza��o ao seu servi�o para se ausentar. Bastaria comunicar atempadamente a sua aus�ncia com um prazo de tempo estabelecido”. Apesar de tudo, os Simentera tem tido “quase sempre a colabora��o do governo, seja este de esquerda ou de direita”. S� que, ainda n�o h� legisla��o que lhes d� o estatuto pretendido.
‘Tr’adicional’ � uma edi��o da francesa Melodie. � distribu�do em Portugal pela Megam�sica.
Acabei de comprar o Tr’adicional e gosto tanto que queria saber as letras para as poder ensinar aos meus alunos. Alguem me poderia ajudar a transcreve-las? Por favor enviem mensagem com o titulo “letras dos Simentera”…detestaria apaga-la por engano 😉 Obrigada!
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