Reportagens

A CLASSE ECON�MICA DE KEPA JUNKERA

Finalmente escrevo sobre o concerto de Kepa Junkera que ocorreu no passado fim de semana, na F�brica da P�lvora. N�o h� d�vida que a Internet veio revolucionar a forma como se comunica e se informa. Poucas horas ap�s o evento j� circulava pela lista de discuss�o das Cr�nicas da Terra v�rias opini�es ao concerto do Kepa, muito tempo antes de qualquer jornal poder exibir o seu artigo (curiosamente, coisa que n�o vi em nenhuma publica��o).
Da� que, passado quase uma semana e ap�s v�rias cr�ticas e refuta��o de cr�ticas de assinantes e das opini�es veiculadas em blogs como a Janela Indiscreta e o Juramento Sem Bandeira, a minha vis�o acaba por ser muito redutora e complementar. No entanto, h� muitos aspectos extra do concerto-de-s�bado-�-noite que merecem ser abordados. Vamos por pontos.

1. Foi um concerto em crescendo, que n�o acrescentou nada �quilo que j� t�nhamos visto em outros palcos. Come�ou morno, acabou menos morno. Kepa continua a exibir todo o seu virtuosismo, mas desta vez houve menos gozo (al�m de o ouvir) em v�-lo tocar. Na Fnac, nos showcases que deu por altura do lan�amento de Bilbao 00:00h, foi muito mais acutilante e imprevis�vel. Tocava com muito mais nervo. Sozinho, com a sua trikitixa, oferecia-nos um espect�culo simples, mas cheio de vitalidade e espontaneidade. Um regalo para os nosso olhos e ouvidos. Aquilo que se viu no S�bado, parece ter sido mais um (entre tantos outros) concerto de um m�sico cansado, acompanhado por outros m�sicos (� excep��o da dupla de percuss�o basca – txalaparta – Oreka TX. Vale a pena ler o que o V�tor Junqueira escreveu sobre eles) sen�o cansados, vulgares, que se limitaram apenas a encher o palco e a m�sica. Apesar de ter logo aos primeiros acordes o p�blico consigo, Kepa abusou da interac��o com o p�blico. Momentos houve de uma certa gra�a quando ele, ao fazer de maestro, conseguia coordenar as palmas do p�blico com o ritmo do baixo e da bateria (outro facto bastante comentado na lista de discuss�o). Mas devia t�-lo feito com brevidade. A sua ac��o arrastou-se, o que quebrou, de certa forma, o crescendo que se sentia no concerto de Kepa, enquanto bel�ssimo instrumentista.

2. A F�brica da P�lvora tem sido palco em outros anos de espect�culos menos conseguidos de outros nomes que j� tocaram por diversas vezes em Portugal. Estou a lembrar-me, por exemplo, do espect�culo do ano passado dos R�dio Tarifa. N�o gostei mesmo nada. Al�m do vento insuport�vel que batia nos microfones, a guitarra el�ctrica estava demasiado alta, comparativamente com o resto dos instrumentos. Em Maio deste ano, em M�rtola, voltei a conciliar-me com a R�dio Tarifa. Por que ser�?

3. � certo que as C�maras Municipais n�o nadam em dinheiro. Ao programarem concertos, tentam faz�-lo pagando o m�nimo cachet poss�vel. As bandas, porque necessitam de vender concertos para sobreviverem, aceitam.

4. Como o Nuno Barros dizia na lista de discuss�o, trazem ?uma vers�o port�til? daquilo que habitualmente fazem. Eu digo que se trata de uma vers�o econ�mica. H� quem prefira em Portugal tocar apenas duas vezes por ano e cobrar tr�s ou quatro mil contos por concerto. S�o op��es. Mas a realidade dos m�sicos mais rodados da folk europeia � bem contr�ria. � obrigat�rio tocar, no m�nimo, 200 a 300 vezes por ano, tendo de suportar um pouco de tudo: m�s condi��es t�cnicas, maus cachets, p�blico que n�o sabe ao que vai, etc, etc, etc. Um desgaste tremendo que facilmente origina noites menos conseguidas.

5. Apesar da actua��o de Kepa Junkera ter sido a que foi. A poss�vel. Pena � que n�o tivesse havido interesse de nenhum jornal em cobrir o evento. Al�m de Kepa ser uma das principais figuras da folk europeia, acabou de lan�ar um duplo �lbum ao vivo, denominado K que �, seguramente, o melhor disco da trilogia mar�tima Bilbao 00h00Maren K. Porque � o consumar do esp�rito explorat�rio dos dois anteriores �lbuns. Onde h� mais coes�o e menos desequil�brios. � estranho que isso aconte�a a quem j� recebeu elogios rasgados por diversos �rg�os de imprensa nacional em Bilbao 00h00. Provavelmente, a editora ainda n�o enviou o disco para as redac��es, nem marcou entrevistas.

6. Na lista de discuss�o, argumentou-se a falta do bandolim e do contra-baixo como uma das raz�es de um concerto menos conseguido nessa noite. Argumentou-se ainda que os m�sicos que tocam em Espanha s�o os mesmos que tocaram em Portugal. Isso poder� acontecer em alguns casos, no entanto, h� concertos e concertos de Kepa. Depende da classe. Se � econ�mica (como acima foi referido) ou se � executiva (como aconteceu nas tr�s noites de Bilbao, onde K foi gravado). Quem o viu no s�bado ficou com uma p�lida ideia do que � o duplo �lbum K.


O instrumento Alboka

7. Pelo que me foi poss�vel escutar de K (alguns temas sacados no Soulseek), existe uma s�ria tentativa de cria��o de uma orquestra �tnica (bem conseguida em muitos casos), como ponto interessante de disfar�ar a limita��o da trikitixa enquanto instrumento reconhecida pelo int�rprete. Brilhantes os metais dos canadianos Bottine Souriante em Herrik Shaw. Interessante o duelo trikitixa vs mandolin com Patrick Vaillant (que tem habitualmente tocado em duo com um outro int�rprete de concertina, o italiano Riccado Tesi). On�rico, a conjuga��o das vozes b�lgaras (que talvez tenham demasiado protagonismo ao longo dos dois discos), com o Grupo coral basco Donostia e a Orquestra de Cordas Alos Quartet. Destaque ainda para a sonoridade da alboka de Ibon Koteron, mais um instrumento tradicional basco. Aerofone pastoril, constitu�do por dois chifres de vaca, com um conjunto de buracos entre eles e que produz uma sonoridade drone, t�o ressonante quanto a sanfona. A prop�sito de Alboka, vale a pena conhecer um outro colectivo basco que se apresenta com o mesmo nome do instrumento. A escutar os �lbuns de Alboka, Bi Beso Lur e Lorius.

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