Reportagens

FESTA DO AVANTE: SEXTA-FEIRA, 5SET03

J� n�o ia � Festa do Avante h� alguns anos. A falta de nomes internacionais que me motivem a sair de casa tem sido uma constante. Este ano n�o foi excep��o. S� que, esta 27� edi��o dava-me a oportunidade de ver num s� fim-de-semana uma m�o cheia de grupos portugueses. Conhecer finalmente as Tucanas e os CantAutores. Ver pela primeira vez em palco a magia de Dan�as Ocultas. Reviver bons momentos do Cantigas do Maio e do Interc�ltico do Porto, com as algarvias Mo�oilas e a Brigada V�tor Jar�, acompanhada do sexteto de metais de Tom�s Pimentel. Saborear ao vivo aquele que � um dos grandes discos da colheita de 2003 de m�sica portuguesa: ?Terra de Abrigo?, da Ronda dos Quatro Caminhos?. Verificar a evolu��o do Realejo que, al�m de ter sofrido mudan�as na sua forma��o, tem trilhado caminhos mais dan��veis, pondo de lado a anterior est�tica mais classicista.

TUCANAS. No in�cio era o tambor.

A noite de sexta-feira foi aziaga. Tinha sa�do de casa pouco antes das nove, com esperan�a de ainda ver a Filipa Pais. S� que a ponte 25 de Abril e a falta de estacionamento na Amora n�o me deixou chegar antes das dez e meia. Mesmo a tempo de ver as Tucanas de in�cio. Elas que arrastam consigo uma consider�vel audi�ncia que sobrelotou o Audit�rio 1� de Maio, onde era dific�limo de entrar, em parte, por culpa daqueles que se sentavam no ch�o, roubando espa�o ao interior e provocando um ajuntamento ca�tico nas sa�das. Uma constante nos restantes dias.
Com uma agenda de concertos sobrecarregada e sem qualquer disco gravado, as Tucanas constituem um verdadeiro fen�meno de popularidade, constru�da palco a palco. O ?grupo de percuss�o criativa?, como elas pr�prias se autodefinem, apresenta-se extremamente bem oleado. Irrepreens�veis ao n�vel coreogr�fico. Sente-se que h� trabalho de casa exaustivo (e quil�metros de estrada em cima), quer quando est�o a bater na chapa e no pl�stico, quer quando v�m para a frente do palco e percutem com as m�os nas pernas, no peito e nos bra�os umas das outras. Bonito de se ver. O projecto � ambicioso. Explora ritmos tribais do cora��o de �frica. Resgata aos anos 80 o esp�rito p�s punk e industrial de Neubauten e de Test Dept. Ecoa a Jap�o, atrav�s dos tais bidons de pl�stico, tocados como se fossem gigantes taikos. O ritmo � tribal, � ancestral, � prim�rio, � agressivo e arrebatador. � l�dico, inocente e infantil. Como conceito � excelente. S� que, nestes moldes, dificilmente far�o um disco aud�vel do princ�pio ao fim, a n�o ser que convidem outros m�sicos, com outros instrumentos (aerofones e cordofones). Ah! J� agora, trabalhem mais essas vozes, sff!

MO�OILAS. O encanto rural

Injustamente, as Mo�oilas foram v�timas dos atrasos e do mau alinhamento do palco do Audit�rio 1� de Maio, tocando para dezenas de pessoas, num espa�o que pouco antes tinha rebentado pelas costuras. Os resistentes, esses, regozijaram com a gra�a das M��oilas na sua interpreta��o idiossincr�tica da tradi��o de repert�rio oral, maioritariamente, oriundo da Serra o Caldeir�o. Singelas, donas de um divino encanto rural, de um delicioso sotaque do sul e um humor fresco e alcoviteiro, as quatro vozes enchem todo o palco. Instrumentos para qu�? N�o Precisam. Elas entram de mansinho, metem a primeira, segunda, terceira, quarta, quinta e disparam com um corridinho. Al�m de recuperarem repert�rio regional, as M��oilas chegam mesmo a adaptar versos para a realidade urbana actual (dando conta de vizinhas que v�em o canal 18) e propositamente para a Festa do Avante, cantando uma esp�cie de cart�o de visita. Que pena n�o ter a letra aqui � m�o. Levem-nas para o estrangeiro que elas merecem.

MARIA ALICE para qu� complicar?

N�o gostei de Maria Alice, apesar da calorosa voz desta. O desfilar de mornas e coladeras provenientes sobretudo do seu �ltimo disco, ?L�grima e S�plica?, foi frio e distante do pouco p�blico. Nota-se que h� bons m�sicos, mas a atitude destes � demasiado previs�vel. Tentam construir uma sonoridade sumptuosa. Para qu� um baterista e um percussionista na mesma banda? � que o som � demasiado linear para tanto aparato. De vez em quando, l� se chega � frente o guitarrista. Com um solo excessivamente cerebral, pouco emotivo. � a t�pica banda de anima��o nocturna, cujo fraque que envergam prende-lhes os movimentos. Oxal� perdessem metade da ?cagan�a? e tocassem com os p�s descal�os e de fato de macaco.

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