Reportagens

FESTA DO AVANTE: DOMINGO, 7SET03

RONDA DOS QUATRO CAMINHOS. Entre o c�u e o inferno.

Ver a Ronda dos Quatro Caminhos apresentar ao vivo o disco .Terra de Abrigo. � j� motivo mais do que suficiente para nos deslocarmos � Quinta da Atalaia. No entanto, � pena que, devido a quest�es puramente log�sticas e de organiza��o, um espect�culo que em circunst�ncias normais seria sublime, acabou por se tornar numa frustrante experi�ncia.

� admir�vel a forma como a Ronda conseguiu com .Terra de Abrigo. abanar a toda a sua estrutura e os tiques de m�sica .pumba. (express�o inventada por Ant�nio Pires do Blitz) � volta do ressoar dos bombos e das omnipresentes chulas. N�o foi um pr�dio que caiu e outro que se ergueu dos escombros de uma certa acomoda��o tradicional-urbana de banda de bar, que se vinha a notar nos �ltimos discos. Remodelou-se, por�m, uma nova fachada, com materiais semelhantes, mas com outras cores bem mais vivas. N�o sendo t�o ambiciosos no espect�culo como foram no disco . faltaram outras vozes como a Katia Guerreiro e Amina Alaoui, al�m de uma maior aproxima��o � m�sica �rabe-andaluz . a Ronda cumpriu aquilo que lhe competia fazer. Trouxe para o palco uma orquestra cl�ssica . a Sinfonienta de Lisboa . para proporcionar ao cante alentejano uma maior aproxima��o entre o c�u e a terra. Um puro exerc�cio de levita��o que a Ronda arbitrava. Aqui e ali, l� impunha as marcas do passado. L� vinham as chulas e a dispens�vel voz de Jo�o Oliveira que, apesar de tudo, se conseguia tolerar.

Completamente inexplic�vel foi a decis�o da organiza��o da Festa em programar um concerto destes no pequeno palco do Audit�rio 1� de Maio. Ser� que o palco 25 de Abril estaria assim t�o inacess�vel a um projecto respons�vel por um dos melhores discos de 2003 na �rea da m�sica tradicional? Apesar de tudo, deu-se um milagre de f�sica. Sessenta pessoas em palco, bem aconchegadas entre si, n�o foram suficientes para partir o estrado. A bancada da assist�ncia tamb�m n�o caiu por acaso. No meio dos palavr�es e dos encontr�es (por sorte n�o chegaram a vias de facto) que alguns membros da assist�ncia de meia-idade iam trocando entre si, devido a quest�es m�nimas do deixa ou n�o deixa passar l� para cima, n�o se conseguia escutar NADA. Primeiro, porque estes singelos cidad�os . aptos de imediato a criticar a .malta jovem. do seu mau civismo, seja por que raz�o for . perturbaram, com um burburinho ensurdecedor, durante mais de um quarto de hora (tempo que demoraram a chegar os Seguran�as), todos aqueles que estavam no interior do recinto. Segundo, porque o som tamb�m tinha as suas debilidades. As vozes demasiado elevadas, a orquestra demasiado baixa. Al�m disso, quem estava c� atr�s . n�o se podia ir para a frente dado que a assist�ncia deixou-se ficar sentada, n�o se levantando para permitir aqueles que ficam engalfinhados na entradas, pudessem tamb�m ir l� para dentro . levava com um som enrolado, de lata. Resta-nos a expectativa de vermos este espect�culo numa sala apropriada para a dimens�o do projecto, com condi��es t�cnicas decentes e com um p�blico minimamente educado. Tenho esperan�a que isso aconte�a no CCB, no princ�pio do pr�ximo ano.

REALEJO. A menina dan�a?

A seguir � Ronda, foram os Realejo que, apenas com cinco elementos, encheram e de que maneira o palco do Audit�rio 1� de Maio. Parece que Fernando Meireles concretizou aquilo que deixara subentender no tema final do primeiro disco .Sanfonia. (a .Cantiga 216.) e que desenvolvera a espa�os no �lbum seguinte, .Cen�rios.. O Realejo deixou a carapa�a de fr�gil projecto folk de c�mara, para se tornar numa banda de dan�a semi-ac�stica. A filia��o Blowzabella continua a mesma. A inspira��o subversiva dos Hedningarna assume-se de vez. A portugalidade no meio das composi��es de folk europeia para Sanfona tamb�m continua bem vincada, sobretudo nas m�os de Amadeu Magalh�es. A grande surpresa que os Realejo agora apresentam � a aus�ncia do violoncelo de Of�lia Ribeiro e a inclus�o de um baixista que n�o se limita a marcar passo. Ele torna a m�sica do Realejo muito mais .swingante.. Houve quem dissesse que o Realejo parecia os Shooglenifty. As ra�zes de ambos s�o bem distintas. Contudo, o projecto de Coimbra ganhou uma certa cavalgada r�tmica, semelhante � desses escoceses. Pena � que o espect�culo n�o tenham durado mais do que uns m�seros trinta e tal minutos. Soube a muito pouco.

GALANDUM GALUNDAINA E CRISTINA PATO. A desorienta��o � portuguesa

Houve, por parte da organiza��o, uma tentativa desenfreada de cortar a direito, apesar dos atrasos habituais que vinham de tr�s. Esta n�o deixou a Ronda fazer o encore (o que motivou assobiadelas por parte da assist�ncia), limitou o tempo de actua��o do Realejo que acabaram de tocar �s 17h25. A ideia era que n�o houvesse nenhuma actividade durante o discurso de Carvalhas que come�ou �s 18h. At� aqui tudo bem. Hor�rios s�o para cumprir e h� que cortar a direito para recuperar o tempo perdido. O pr�ximo concerto nesta sala come�ava �s 19h30. S� que, a essa hora e, at� �s 20h30, n�o houve direito ao programado concerto de Galandum Galundaina. Houve sim sound checks dos m�sicos que vinham a seguir aos mirandeses. O facto de estes s� come�arem a tocar uma hora depois do previsto, alterou substancialmente aquilo que tinha programado: ver Galandum at� pouco depois das 20h e ir para o palco 25 de Abril assistir a parte substancial de Cristina Pato. Tive azar. Se o Audit�rio 1� de Maio manteve nos tr�s dias atrasos de uma hora, o 25 de Abril foi sempre certinho. Acabei por ver uns dez ou quinze minutos do primeiro e mais uns dez da segunda. Tive pena de ter perdido o resto de Galandum, porque exibiram a sua habitual genuinidade. O falar mirand�s, a ra�a bruta das gaitas, do tamboril, dos bombos e das flautas pastoris. Levaram tamb�m consigo uma sanfona para interpretarem romances (dado in�dito). N�o tive pena nenhuma da Cristina Pato e arrependi-me de ter vindo para cima. A menina que ainda � muito verde (n�o de cabelo, que desta vez exibia a cor natural, mas de cabe�a . isso notava-se no discurso dela) � bem pior em palco do que nos discos. J� sabia que fazia um misto de rock com folk galego. S� que h� folk rock e folk rock. Resentidos e Siniestro Total s�o uma coisa, aquilo que Cristina Pato apresentou � outra. Bem distinta. Rock FM dos anos 80, pesado, xunga e sensabor�o, ao servi�o dos solos da gaiteira. Imaginem o cruzamento entre os Def Leppard e o Carlos N��ez. Prefiro mil vezes a Susana Seivane.

Previous ArticleNext Article
pt_PTPortuguese
pt_PTPortuguese

Send this to a friend