Reportagens

SUSHEELA RAMAN: entre o c�u e o inferno

Sons em Tr�nsito, Teatro Aveirense, 29NOV03

Estiveram duas Susheelas Ramans distintas em palco. Uma et�rea de voz l�mpida e deslumbrante, quando resgata os espirituais indianos. Uma outra terrena, roqueira e assaz vulgar, quando investe pela vertente pop/rock ocidental (de torcer o nariz a temas como �Woman� e � vers�o de Tim Buckley de �Song To the Siren� que, felizmente, n�o foi interpretada). Se, durante o festival, assistimos a boa parte de projectos bem melhores ao vivo do que em disco (Ojos de Brujo s�o o exemplo mais gritante), na actua��o de Susheela deu-se o inverso. N�o � que os m�sicos sejam maus, antes pelo contr�rio. Sam Mills, desde os 23 Skidoo, passando pelo projecto do indiano Paban das Baul e pelos Tama do Guineense Toumani Diakit�, � um dos m�sicos de fus�o que mais admiro. O baixo de Hilaire Prenda � tamb�m ele todo muito compassado e incisivo, fazendo lembrar o toque peculiar de Jah Wobble. O percussionista guineense, Djanuno Dabo (antigo companheiro de inf�ncia de Manecas Costa nos Africa-Livre e actual membro de Tama), � eficaz, apesar da sua sonoridade algo fr�gil, que tem mais a ver com a delicadeza da kora do que com a for�a bruta dos djembes. Possui um talento vocal escondido que foi utilizado somente uma vez no bel�ssimo �Sarasa�. Este homem devia ir mais vezes l� para a frente, assumir parte das despesas. Evoca as fus�es norte-sul bem sucedidas, entre a sueca Ellika Frisell e Solo Cissokho, ou entre este m�sico senegal�s e a norueguesa Kirsten Braten Berg.
Ambos exibiram uma certa agilidade sonora, vagueando por ritmos dub, ambientes klezmer, pela beleza ac�stica da sonoridade mandinga e pelas levitantes ragas (infelizmente a sonoridade de c�tara indiana era pr�-gravada e repetitiva).
Se Susheela se tivesse limitado � fus�o �ndia � Universo Mandinga, talvez tivesse tirado melhor proveito da sua actua��o e causado bem melhor impress�o. S� que, Susheela investiu por v�rias vezes por universos mais sinuosos, com poses de vocalista de banda de hard rock, totalmente desajustadas para com a m�sica que interpreta. Nesses momentos, sentia-se que n�o tinha banda para o som que ambicionava apresentar. Aqui, o colectivo revelava todas as suas fragilidades. Al�m de se notar a aus�ncia de um baterista (onde estavas Tony Allen?), ou de uma percuss�o mais forte (Dhol do Punjabi, por exemplo), faltavam tamb�m os metais e as guitarras estridentes (onde estavas Albert Kuvezin?). Levam trabalho de sobra para casa.

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