A ACERT de Tondela que comemora este ano três décadas e meia de existência, organiza a 21ª edição do Tom de Festa, entre os dias 13 e 16 de Julho.
Como vem sendo hábito, este é mais um programa multicultural e de resistência mistura jovens talentos nacionais, pérolas escondidas da América Latina e nomes europeus e africanos de enorme respeito.
Aqui vai:
13 de Julho – 4ª feira:
Conservatório Regional de Música de Viseu Dr. Azeredo Perdigão (Portugal)
Trezentos músicos – todos actuais professores e alunos do Conservatório – sobem a um único palco para comemorar (em grande número!) um quarto de século da instituição. A ACERT junta-se a estes artistas, num momento de celebração conjunta que vai abrir com chave de ouro o Tom de Festa 2011.
E para fechar o espectáculo em beleza também, a apoteose final conta com a participação de todas as Orquestras e Coros do Conservatório. Será, pois, uma ocasião privilegiada para ouvir a interpretação de excertos do célebre musical “The Sound of Music”, do compositor Richard Rodgers. Entre o princípio e o fim do concerto, o público é transportado numa viagem pela panóplia de ambientes, estilos e autores evocados por cada uma das Orquestras.
Trata-se, em suma, de uma justa homenagem a uma entidade que nos tem presenteado com um vasto rol de iniciativas ao longo de quase três décadas. Pela mão da Proviseu – Conservatório de Música, ganharam forma exposições, concertos e inúmeros tributos a personalidades locais, entre muitos outros eventos culturais que foram marcando a programação regular.
Destaque-se, mais concretamente, a edição do livro A Divina Música; a encomenda da obra musical “Mosaic”, do compositor João Pedro Oliveira (premiada num concurso internacional em Itália); e o IV Festival de Música da Primavera, que recebeu o “Prémio Animarte Acontecimento Cultural 2011”.
Ale Möller Band (Suécia, Grécia, Senegal, Canadá e México)
Europa, África, América: eis o triângulo onde se desenham as raízes destes artistas. Pelo (en)canto da música, porém, os membros de Ale Möller Band extravasam os três vértices geográficos para percorrer o mundo de lés a lés (ou, melhor dizendo, de dós a rés).
Ao álbum “Bodjal” (2004) foram adicionando o material (escrito em palco, durante ensaios ou até em quartos de hotel) que haveria de dar origem ao disco “Djef Djel”, gravado em 2007 no Atlantis Studio de Estocolmo. Numa clara inovação face ao trabalho anterior, marcado por um leque de participações especiais (por exemplo, Shipra Nandy e Kurash Sultan), o novo CD foi insuflado pela cumplicidade entre os seis elementos da banda.
Em palco, percebe-se porquê: basta ver o magistral Möller, envolvido pela harmonia vocal de Maria Stella e Mamadou Sene, a mesclar o violino de Magnus Stinnerbom com os ritmos de Rafael Huizar e Sebastien Dubé. O fio condutor é o encontro da(s) Música(s) e da(s) Cultura(s) num arsenal de instrumentos que revela, num som único e homogéneo, o ADN artístico de Ale Möller Band.
Dia 14 de Julho – 5ª feira
Vieux Farka Touré (Mali)
Filho de peixe sabe… cantar. Inicialmente, Bourmeime Farka Touré (que adoptou a alcunha “Vieux” em homenagem ao seu avô) não recebeu a bênção artística do pai. Porém, Ali Farka Touré, um dos nomes mais respeitados da World Music, cedo percebeu que o jovem herdara não apenas a vontade de lhe seguir as pisadas, como o talento necessário para empreender os seus próprios voos artísticos.
E foi isso que aconteceu: saindo da sombra gigante de Ali, Farka Touré (o filho) construiu uma ponte geracional entre os blues americanos e africanos. Transportando a sua terra natal entre as cordas da guitarra, tornou-se um embaixador global de uma cultura musical única, onde as sonoridades de África parecem fundir-se com a herança do rock, do reggae, do dub e do funk.
Ao álbum de estreia homónimo (2007) seguiram-se o disco de remix “UFOs Over Bamako” (2008) e um conjunto de tournées que deixavam já adivinhar um extraordinário sucesso. Após “Fondo” (2009), o segundo CD de estúdio, choveram convites para espectáculos, inclusive para a cerimónia de abertura do Mundial de 2010.
Mais tarde, este “Hendrix do Sahara” (como é conhecido na imprensa americana) lançou o álbum ao vivo “Live” (2010) e o fantástico “The Secret” (2011), que conta com a cumplicidade de grandes artistas e marca a sua última colaboração com o pai. A quem quiser saber O Segredo, Vieux aconselha: “ouçam o CD”.
Quinta do Paço (Portugal)
O primeiro ingrediente é o gosto pela tradição musical portuguesa. O segundo é a vontade de reinventar melodias de ‘cantautores’ nacionais. E o terceiro é uma amizade feita partilha de pluralidades afectuosas.
Pelo concelho de Tondela, esta receita é polvilhada em arraiais e encontros festivos. A população acolhe os “cozinheiros”, deixando-se contagiar de alegria e esquecendo todas as tristezas.
Nesta Quinta em que a Música marca (com)passos, os sinais da nossa terra fortalecem-se no seu namoro com o Mundo. Não podemos, claro, esquecer que a Música do Mundo nasce da persistência de quem a ama e interpreta. E que o Tom de Festa é um espaço em que o Local também é necessariamente Universal.
Dia 15 de Julho – 6ª feira
Sofía Rei (Argentina)
Cantora, compositora, letrista e produtora, Sofía Rei conjuga os ritmos sul-americanos com os encantos do jazz, da música electrónica e das improvisações. A música que produz revela a sua natureza multilingue, cantando em espanhol, português e inglês.
Pela originalidade do seu percurso, foi elogiada pela All About Jazz como uma das cantoras mais versáteis e populares de Nova Iorque. Em 2006, o seu disco de estreia, “Ojalá”, subiu directamente para o Top 10 da Jazz Journalists Association, enquanto “Sube Azul” – o mais recente trabalho – está nomeado para os Independent Music Awards de 2011. Nos últimos anos, tem partilhado o palco com artistas consagrados, participado nos mais célebres Festivais do mundo e actuado em salas que dispensam apresentações, como o Carnegie Hall ou o Kennedy Center.
Ao seu lado encontramos um ensemble que entretece texturas musicais tão diversas como as raízes culturais dos seus membros. Dois desses artistas vão emprestar a sua versatilidade e talento ao Tom de Festa: o colombiano Samuel Torres, aclamado como um dos maiores percussionistas e compositores da sua geração; e o peruano Jorge Roeder, contrabaixista consagrado envolvido em inúmeros projectos musicais.
L’Herbe Folle (França)
Ritmos mestiços de muitas paragens parecem segredar ao público que é proibido não dançar. São canções imbuídas de sonhos e desejos. Sons valsadores que se confundem com os ritmos ciganos ou com um jazz livre de rótulos.
Crus ou cozinhados, ingénuos ou sinceros, os textos deixam entrever as preocupações sociais que – musical ou socialmente – os perpassam, invadem e motivam. E não podemos esquecer o rugido dos tambores que esboça as linhas grossas de uma selva tão urbana como rural. Ao mesmo tempo, lamento e cacofonia comunicativa deambulam em danças que a voz exalta e incendeia.
Os Diatónicos (Portugal)
Com a música presa entre as letras da palavra com que escrevem o nome, estes artistas apostam num repertório feito de estilos ecléticos, incluindo originais. Saltando do rock para o popular, tocam (con)certinhos como “animadores infernais” e saltam, correm, rodopiam. A (an)dança não têm parança.
Pelo som de concertinas que bufam, transpiram e gemem, a animação apodera-se da rua ao impulsionar bailados acrobáticos. A melodia contagiante apela a um “a menina dança?”. Em Portugal e no estrangeiro, os Diatónicos levam a euforia da festa a qualquer poiso ou circunstância.
Dia 16 de Julho – Sábado
Diabo na Cruz (Portugal)
Fazem a ponte entre duas margens que viveram separadas durante mais de trinta anos: a da Música Moderna Portuguesa e a da Música Popular Portuguesa. Com temas que são do mais fresco e entusiasmante que se tem feito por cá, os cinco músicos recuam ao tempo das sonoridades tradicionais e juntam-lhes a atitude do século XXI.
Perdoando o folclore português, apresentam-se com guitarras aceleradas e letras contagiantes. É a música popular ao ritmo de um bom rock pop, numa mistura que não abdica de uma injecção permanente de criatividade e dinamismo em palco.
Letras, métrica, interpretação e, sobretudo, composição fazem de “Virou!”, o primeiro álbum de Diabo na Cruz, um trabalho singular. Há muito que a música portuguesa carecia de um Tropicalismo capaz de nos unir, juntando o génio de José Afonso ao de António Variações… sem fronteiras!
“Os Diabo na Cruz não são nova música urbana, como Deolinda e Virgem Suta. Não são reinterpretações populares de velhos cantares como Brigada Victor Jara e Ronda dos Quatro Caminhos, nem fusões pan-europeias como Dazkarieh e Uxu Kalhus. São rock com travo estético e autoral nacional.”
Sérgio Bastos (Expresso – Maio 2010)
Mo’Kalamity & The Wizards (Cabo Verde, França)
A voz suave contrasta com a força das mensagens que pulsam nas suas canções, em jeito de alerta contra a discriminação, a condição das mulheres e o ambiente, entre muitos outros temas. Certo é que num universo profissional maioritariamente dominado por homens, Mo’Kalamity se tornou num dos nomes femininos mais conhecidos da última década.
O seu caminho deixa entrever uma encruzilhada de influências. Natural de Cabo Verde, vai beber às raízes nativas do Oeste africano, mas parece trazer sonoridades afro-americanas e jamaicanas tatuadas na alma. Actualmente reside em Paris, cidade em que – acompanhada pela sua banda, The Wizards – tem levado ao rubro as principais salas de espectáculo.
O seu primeiro álbum, “Warriors of Light”, obteve uma grande aceitação por toda a Europa, enquanto “Deeper Revolution, o mais recente CD, mereceu três nomeações para os Cabo Verde Awards 2011. Entre estes trabalhos, tem dividido o palco com grandes vultos mundiais (Salif Keita, Omar Perry, entre outros) e realizado múltiplos concertos. As salas? Esgotadas. Só não se esgotam as boas energias de Mo’Kalamity & The Wizards.
Cottas Club Brass Band (Portugal)
Participar num espectáculo dos Cottas Club é carimbar o passaporte para uma viagem através de um repertório singular em que a banda reinterpreta o jazz dos anos vinte com o estilo eternizado por Louis Armstrong & All Stars na década de cinquenta.
Pelo caminho, desenha-se no horizonte a fachada do famoso bar Cotton Club, de Nova Iorque, grande pólo de divulgação deste género musical. O nome do grupo surge, então, num duplo piscar de olhos a esse palco nova-iorquino e à velha (perdão, “cota”) história do universo jazzístico. Ao chegarmos ao nosso destino, surpreendemo-nos com um jazz tradicional (Dixieland) que se reinventa no cruzamento com o funk e brassband.
Provenientes da zona Oeste de Portugal, os “Cottas” já lançaram dois CDs e têm vindo a participar em centenas de espectáculos, como os festivais europeus de Dixieland em Tarragona (Espanha) e Dresden (Alemanha). Já em 2011, marcam presença no VI Festival Internacional de street bands, em Amorebieta – País Basco (Espanha).