Resgatar com profundo respeito a tradição do cante alentejano e conduzi-lo da planície para o confronto com outras polifonias vocais do Meditarrâneo, nomeadamente da Córsega.
Eis o propósito do álbum de estreia “Demundado em Tudo” que saiu esta primavera e que os 4uatro ao Sul de José Barros (Navegante), Rui Vaz e José Manuel David (Gaiteiros de Lisboa) e Pedro Mestre (tocador e construtor de violas campaniças) e que será apresentado ao vivo na Festa do Avante. Espectáculo em que o quarteto de colocadas e pujantes vozes e viola campaniça far-se-ão acompanhar pelo Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa e pelo percussionista Rui Júnior.
“Demundado em Tudo” é uma edição Ocarina e tem o seguinte alinhamento: 1. Entrai pastores, 2. O tempo do Entrudo, 3. Cantam as filhas da rosa, 4. Vai remando, 5. Descante aos noivos, 6. Manazinha, 7. La me bruneta (Córsega), 8. Círculo que leva a Lua, 9. O Menino está na neve, 10. O altinho, 11. Versu di tirriola (Córsega), 12. Fui dispor a salsa verde, 13. Mariana Campaniça, 14. Esta noite de Janeiras, 15. Mariana, 16. Ilha dos Vidros, 17. Kyrié (Córsega).
«No início era o Verbo… Ou a melodia? E a palavra nasce do cante, ou é o cante que ganha asas e faz
nascer as palavras? As Vozes que dão corpo a estes textos cantados são reveladoras do sentir, transportam poemas dando‐lhes suporte emocional e expressivo. Como se tudo se tivesse de fazer de novo, reinventando num ciclo interminável o desejo de mudança, a procura do amor, a certeza dos afectos, a memória dos lugares e dos Deuses. Para que esta liturgia se cumpra há que cuidar dos estilos, encontrar a colocação vocal adequada a cada canção, trabalhar muito até se chegar a uma “escrita no tempo” celebrada de cada vez que se canta. E ouvir, experimentar e recriar o que noutros lugares cristalizou em modos de cantar. Porque só quando sabemos ouvir os outros somos capazes de nos entender a nós mesmos.»
Domingos Morais – IELT/FCSH UNL ‐ Instituto de Estudos de Literatura Tradicional – (Março de 2011)