A Organização do FMM de Sines acaba de anunciar mais três interessantes propostas oriundas de África. Com troika ou sem troika, a edição de 2012 promete voltar a ser inesquecível.
A nova geração de África está em Sines, com Fatoumata Diawara, a jovem estrela da música do Mali, e o “bluesman” do deserto Bombino. Jupiter & Okwess International representa uma das mais ricas e sofisticadas nações musicais do mundo, a República Democrática do Congo.
FATOUMATA DIAWARA (MALI)
A cantautora Fatoumata Diawara é a nova estrela da música do Mali, na grande tradição de divas daquele país como Oumou Sangaré (que volta ao FMM Sines este ano, com o norte-americano Béla Fleck) e Rokia Traoré (que se estreou em Portugal também neste festival, em 2004).
Nascida em 1982, começa a sua carreira como atriz, primeiro no Mali, e depois em França, para onde emigra aos 20 anos. É durante as suas digressões teatrais que começa a cantar, ainda sem a pretensão de enveredar pela música como principal ocupação. Passado pouco tempo a atuar nos bares e clubes parisienses, viaja com Cheikh Tidiane Seck ao Mali, onde colabora no disco “Seya”, de Oumou Sangaré, e “Red Earth”, da cantora de jazz Dee Dee Bridgewater, vencedor de um Grammy.
De volta a França, integra o musical “Kirikou et Karaba”, compra uma guitarra e começa a aprender a tocar e a compor, bebendo da fonte inesgotável dos blues ancestrais da região de Wassoulou, entre outras influências.
O seu percurso de aprendizagem e amadurecimento culmina com a gravação do EP “Kanou” e do seu álbum de estreia, “Fatou”, editado em setembro de 2011 pela World Circuit, uma das editoras mais prestigiadas da “world music”.
A sua voz suave e a delicadeza acústica das suas composições colocam-na na linha da frente da música africana contemporânea e fazem dela uma das mais requisitadas artistas do continente na atualidade.
BOMBINO (NÍGER – CULTURA TUAREGUE)
Nascido em 1980 numa família de pastores nómadas tuaregues da região de Agadez, no Níger, Omara Moctar, mais conhecido como Bombino, é um dos mais importantes cantores, guitarristas e compositores do Sahara e do Sahel.
Agadez é uma das regiões mais pobres de África e, nas últimas duas décadas, tem estado no centro das lutas independentistas dos tuaregues. Nos anos 90, durante uma dessas rebeliões, a sua família exila-se na Argélia, onde Bombino aprende a tocar guitarra, influenciado por músicos como Ali Farka Touré, Jimi Hendrix, entre outros.
A sua carreira começa como cozinheiro e trovador, viajando com grupos de turistas que visitavam as dunas do deserto perto de Agadez. Em 1998, integra o grupo Tidawt e, em 2004, estreia-se em disco com “Agamgam”.
“Agadez”, o seu segundo disco, com edição Cumbancha, lançado em 2011, mostra um artista na plena posse das suas capacidades criativas e interpretativas. O seu som, entre os blues, o rock e a música tradicional tuaregue segue o caminho aberto por bandas como Tinariwen e Tartit (ambas já presentes em edições passadas do FMM) na divulgação da nova música do coração do deserto.
JUPITER & OKWESS INTERNATIONAL (R. D. CONGO)
Depois de Konono n.º 1 (2005), Kasaï Allstars (2009), Staff Benda Bilili (2010) e Congotronics vs Rockers (2011), a presença de Jupiter & Okwess International em Sines é mais um contributo do FMM para mostrar em Portugal a música popular, ao mesmo tempo fundada na tradição e profundamente moderna e experimental, da República Democrática do Congo.
Jupiter Bokondji nasceu em Kinshasa, há 50 anos, numa família de “griots” da região de Mongo, e desde cedo acompanhou a avó, curandeira tradicional, tocando percussões em funerais e casamentos.
Em adolescente, passa algum tempo em Berlim-Leste, onde o seu pai trabalhava no corpo diplomático. Nessa cidade descobre a música ocidental e forma uma primeira banda onde junta as percussões Mongo a guitarras de rock.
Quando, aos 20 anos, volta a Kinshasa, ganha a vida como músico em funerais e em várias orquestras locais, ao mesmo tempo que viaja pelo seu país à procura de novos sons. A pouco e pouco, constrói o estilo musical a que chamou “Bofenia Rock”, cruzamento entre o tribal e ancestral e o urbano e cosmopolita.
Em 2004, conhece os cineastas franceses Renaud Barret e Florent de la Tullaye, os mesmos que descobriram os Staff Benda Bilili. Renaud e Florent registam as aventuras musicais de Jupiter no filme documentário “The Dance of Jupiter” (2007) e tornam-no conhecido em todo o mundo.
O seu primeiro disco com edição internacional, “Hotel Univers”, totalmente elétrico, será lançado em março de 2012.
Apresenta-se no FMM Sines com a orquestra Okwess International, composta por músicos de 11 províncias diferentes do Congo.
O FMM Sines – Festival Músicas do Mundo é o maior evento de “world music” realizado em Portugal. A sua 14.ª edição realiza-se nos próximos dias 19, 20, 21, 26, 27 e 28 de julho.
Além dos artistas mencionados nesta nota, já está também confirmada a presença de Oumou Sangaré & Béla Fleck (Mali / EUA) e Hugh Masekela (África do Sul).
Senti falta de mais nomes africanos na ultima edição. Por uma simples razão, as noites ventosas de Sines aquecem sempre mais com as bandas do continente antigo. Este ano promete!
viva Rui,
África é sempre um continente em grande destaque no FMM. No ano passado vi lá grandes concertos: Mário Lúcio, Congotronics, Nathalie Natiembé, Ebo Taylor, Manou Gallo, Blitz The Ambassador, Nomfusi e Cheikh Lô (este morninho). Talvez a percentagem de africanos tenha sido inferior, comparativamente a anos anteriores… abraço