Finalmente, há notícias do Tom de Festa que se realiza há mais de duas décadas na ACERT de Tondela. Este ano não haverá o luxo de podermos ver artistas internacionais da estirpe de Vieux Farka Touré. Mas, para esta 22ª edição, há uma enormíssima festa preparada em memória de José Afonso denominada “Terra da Fraternidade” que contará com cerca de duas dezenas artistas / projectos ibéricos em palco.
TOM DE FESTA 2012
26·27·28 JUL’12
TONDELA
22º FESTIVAL DE MÚSICAS DO MUNDO
TERRA DA FRATERNIDADE26 JUL · QUI · 21:30 (na cidade)
“EM VIAGEM PELA CIDADE”
ESPECTÁCULO TEATRO-MUSICAL DE RUAUMA PRODUÇÃO DO TRIGO LIMPO TEATRO ACERT
COM ACTORES E MÚSICOS VOLUNTÁRIOSCORO POLIFÓNICO DA CASA DO POVO DE TONDELA
BANDA SOC. FILARMÓNICA TONDELENSE
“OS CESTOS” GRUPO DE T. AMADOR (NANDUFE)
GRUPO DE T. DA ADCR S.JOÃO DO MONTE
TEIA (ARCA, ALVARIM)26 JUL · QUI · 23:00 (na acert)
KARROSSEL
BAILE MÚSICAS DO MUNDO + PORCO NO ESPETO— — — — — — — — — — —
27 JUL · SEX · 21:30
LUIS PASTOR
FIL’MUS (acert)
SEBASTIÃO ANTUNES— — — — — — — — — — —
28 JUL · SÁB · 21:30
TERRA DA FRATERNIDADECONCERTO DE TRIBUTO A JOSÉ AFONSO*
* 40 ANOS da 1ª INTERPRETAÇÂO PÚBLICA DE “GRÂNDOLA VILA MORENA”
EDIÇÃO PORTUGUESA DO CONCERTO DA GALIZA MAIO’12A COR DA LÍNGUA (acert) + CONVIDADOS) BANDA BASE
CANTOS DA LIBERDADE
CARLOS CLARA GOMES
COUPLE COFFEE
CHÉVERE
FRAN PÉREZ NARF
FRANCISCO FANHAIS
JOÃO AFONSO
JÚLIO PEREIRA
LOURDES GUERRA
LUIS PASTOR
MANUEL FREIRE
NAJLA SHAMI
NEW SKETCH
PRESENÇA DAS FORMIGAS
SEBASTIÃO ANTUNES
SÉS & BOCIXA
TRIGO LIMPO T. ACERT
UXÍA
VITORINO
ZECA MEDEIROSENCERRAMENTO
DJ JOHNNY RED + VJ MECCA— — — — — — — — — — —
EXPOSIÇÕES: FOTOGRAFIA, ARTES PLÁSTICAS E DOCUMENTAL
FEIRA DE PRODUTOS LOCAIS
VISTA CURTA’12 – FESTIVAL DE CURTAS DE VISEUTom de Festa
XXII Festival de Músicas do Mundo ACERT | Tondela’12
Terra da Fraternidade
Um acontecimento que espelhará dificuldades, mas também a mobilização, a cooperação e o sentido comunitário que é a sua incomparável matriz.
Apesar de ser um dos mais antigos Festivais de Música do Mundo nacionais o Tom de Festa obrigou, para a sua realização em 2012, a uma reflexão profunda provocada pelas múltiplas contrariedades que poderiam inviabilizar a 22ª edição.
A Secretaria de Estado da Cultura, através da Direcção Geral das Artes (DgArtes), continua a financiar a ACERT. Contudo, a drástica redução de apoio, não contemplou, pela primeira vez, apoio ao Festival, situação que provoca constrangimentos orçamentais difíceis de ultrapassar.
Um tão pesado golpe que não poupou um acontecimento de grande projecção local, regional, nacional e internacional.
Em contrapartida, a Câmara Municipal de Tondela, ciente da importância deste acontecimento para o concelho, demonstra determinação em continuar parceira da ACERT para que o Festival aconteça. Uma demonstração de que os projectos de desenvolvimento local, apesar das dificuldades, representam ser motor de progresso para uma comunidade.
A ACERT que, ao longo de vinte e dois anos, conseguiu que o Tom de Festa se assumisse como dos acontecimentos marcantes da sua actividade e do panorama dos Festivais nacionais, não desiste e resiste. Associados, comunidade, público de muitos pontos de país, organizações congéneres e artistas nacionais e internacionais demonstraram, das mais distintas formas, o seu desejo de que o Tom de Festa aconteça e se continue a afirmar como um grande acontecimento de encontro, partilha e festa.
A ACERT, ciente das contrariedades, decide avançar, criando bases organizativas e programáticas adequadas a um orçamento escasso. Será um Tom de Festa que celebrará o trabalho voluntário e a solidariedade artística. Um Festival que espelhará dificuldades, mas também a mobilização, a cooperação e o sentido comunitário que é a sua incomparável matriz.
Será um Tom de Festa que não se refugiará em desculpas, assumindo uma genuinidade participativa de excelência.
Será um Tom de Festa que assentará numa programação que congrega a qualidade à autenticidade de parcerias artísticas consolidadas em práticas de entreajuda.
Será um Tom de Festa demonstrativo de que a sua génese prevalece, ajustando-se às capacidades de envolvimento e mobilização duma ACERT, cujo valor se amplia pela singularidade com que resiste, se inova e afirma associativa e solidariamente.
Será um Tom de uma Festa de encontros, de cantos e encantos. Um espaço comunitário em que a cultura e a arte criam pontes entre o local e o universal, entre a tradição e a modernidade.
Será um Tom de Festa descomplexado de comparações que não sejam a dignidade, a autenticidade e a verdade com que assume, com atitude positiva, as dificuldades para criar momentos sublimes e únicos para vivências comuns de afirmação do que somos e do forte desejo de não ficarmos passivos e desistentes.
A ACERT, ao fazer esta opção de continuidade, não omite as pesadas consequências resultantes do violento corte de apoio que sofreu, nem tão pouco das consequências que o mesmo acarretou em termos da redução da sua equipa e das dificuldades de honrar compromissos com os seus fornecedores. A redução drástica do apoio à ACERT não incidiu só na ACERT, mas na economia local (comércio, hotelaria, pequena indústria, serviços) onde era reinvestido uma parte substancial do financiamento. Foi Tondela quem também sofreu com tão pesado desinvestimento.
Apesar disso, acredita-se que as mudanças só poderão advir de uma atitude que favoreça o desenvolvimento de novas capacidades de trabalho, de inovação e de cooperação entre os vários agentes (sociais, culturais e económicos) que podem ser protagonistas da mudança.
A ACERT não se demite das suas responsabilidades públicas e comunitárias. A instabilidade não pode ser sinónimo de desistência. As dificuldades só se podem ultrapassar num quadro de cooperação onde intervenham todos os interlocutores do desenvolvimento local. Porque sabemos o papel que a ACERT tem tido, desinteressadamente, na prática de solidariedades múltiplas, quer local, nacional ou internacionalmente, não temos dúvidas que, de forma recíproca, as alcançaremos de todos os que, neste momento difícil, reconhecem as práticas permanentes de cooperação generosa que fazem parte do historial de 31 anos de ACERT.
O Tom de Festa 2012 será um acontecimento artístico-cultural comunitário. Um momento em que o trabalho conjunto, voluntário, generoso e solidário voltará a fazer o milagre que concretizará sonhos. Um espaço de congregação de forças locais, activistas voluntários, espectadores implicados com o desenvolvimento cultural nacional e artistas para quem a ACERT é a sua casa, o seu poiso de eleição e o seu local de realização artística e humana.
Honraremos o apoio único da Câmara Municipal de Tondela. Mesmo sem o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, financiamento preponderante nas anteriores edições, saberemos potenciar o apoio da Autarquia, desmultiplicando-o imaginativamente como sempre fizemos e potenciando-o com as participações voluntárias e apoios complementares e cooperativos que o Tom de Festa merece pelo que representa.
Um Tom de Festa que, nesta sua XXII edição é Terra da Fraternidade. E, porque em todas as fronteiras é bem-vindo quem vier por bem, aqui prolongamos uma festa começada na Galiza, em Santiago, que homenageia Zeca Afonso mas, muito mais do que isso, o tem presente; afinal, que nos celebra a todos e à vida numa terra que queremos da fraternidade. Para que ele, feroz e amorosamente, nos soubeste mobilizar.
Dezenas de músicos de muitas geografias num momento de significados de pluralidade fraterna e de resistência coerente.
O resto, faremos juntos, dignificando um Tom de Festa que, por direito próprio, é local na substância, é nacional no alcance e é internacional por ser uma porta aberta ao Mundo.
Carta a um amigo maior que o pensamento
Tondela, 28 de Julho de 2012
Queridíssimo Zeca,um grande, enorme abraço.Já não estamos juntos, assim lado a lado, desde que fizeste essa viagem para o único céu em que podias estar no o céu da memória. E esse é um lugar em que estás connosco, e nós contigo; mas atenção… sem comemoracionismos de circunstância ou oportunas, convenientes e solenes ritualizações.É que, de facto, continuamos juntos nesta estrada por onde os amigos vêm: a ouvir-te, a cantar-te e, sobretudo, a sentir-te perto. E procuramos partilhar a força teimosa e doce com que defendeste as âncoras da liberdade e da justiça; a alegria da criação com que construíste inigualáveis textos e melodias; a individualidade do livre-pensador que concretizaste na alteridade e na consideração do outro como produtor do seu próprio “eu”.E, porque em todas as fronteiras é bem-vindo quem vier por bem, aqui prolongamos uma festa começada na Galiza, em Santiago, que te homenageia mas, muito mais do que isso, te tem presente; afinal, que nos celebra a todos e à vida numa terra que queremos da fraternidade. Para que tu, feroz e amorosamente, nos soubeste mobilizar.Esta é também, Zeca, a prova que continuas aqui connosco a participar na realização de acontecimentos desta natureza; ou pensas que, em tempos que não gostarias de viver (mas a que saberias resistir e dar combate), era possível concretizar um concerto com estes participantes e com a sua solidariedade cúmplice, se não fosses tu o seu verdadeiro produtor? Recebe, então, esta carta de saudade mas, sobretudo, de esperança, de todos os que aqui estamos e dos que cá queríamos estar. Porque sabes bem que qualquer um de nós, mesmo que não te tenha conhecido, é teu amigo também.Tua,ACERT
Tom de Festa’12
Terra da Fraternidade
Aqui se credita a Fernando Catroga a expressão “céu da memória”, alma e nervo desta carta.