MESTRE AMBRÓSIO “Fuá Na Casa de CaBRal”” Sony Music(CD 2000)
uma visão mais enraizada e regionalista do mangue beat |
[texto originalmente publicado em Maio de 2004 neste espaço]
Se CHICO SCIENCE correspondia à renovação da música nordestina a partir de elementos exteriores como funk e hip hop, os MESTRE AMBRÓSIO partem de toda uma panóplia riquíssima de ritmos como o maracatu, coco de roda, baque solto, baque virado, forró, chote e ciranda para dar uma visão mais enraizada do mangue beat (género musical apelidado pelos brasileiros do sul à nova música regional que vem do nordeste).
Ao segundo álbum, os MESTRE AMBRÓSIO aprofundam as suas raízes locais, numa amálgama sonora essencialmente construída à base de inúmeras percussões (pandeiro, alfaias, chocalhos, preacas, reco-reco, agogô, zabumba, caxixi, caixa com hit-hat top 13”, bombo 12”, etc), alimentada por uma rabeca de sonoridade vetusta, um fole de 8 baixos folião que comanda o forró pé de calçada (vertente urbana do forró pé da serra), além da guitarra e baixo responsáveis pelo formato híbrido de tradição e modernidade.
O universo dos MESTRE AMBRÓSIO é grande como o Brasil e profundo como a Amazónia. Entre os ritmos trazidos pelos escravos africanos, dilui-se a harmonia portuguesa e respira-se o ambiente misterioso da Mata Norte, complementado com uma dose lúdica e encenada do Cavalo Marinho – folguedo do norte de Permanbuco composto por dança, poesia, teatro que comporta várias personagens e cujo mestre de cerimónias é… Mestre Ambrósio.
Neste disco há um maior risco por parte da banda, não só em assumir um lado mais popular, como também na exploração de outras paisagens (“Chamá Maria” é um misto de tango com melodias ciganas de leste). Há ainda a inclusão de três temas já editados no álbum de estreia em versões que conseguem ter nova amplitude: “Usina”,” Se Zé Limeira Sambasse Maracatu”, “Pé-de-Calçada”). O humor e sátira de SIBA continua irrepreensível. Tentem escutar a história de como Cabral descobriu o Brasil e logo se arrependeu.