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Omiri – “Baile Electrónico”

Omiri – “Baile Electrónico”

Bigorna

Sete anos passam num piscar de olhos. Foi o período de tempo que o cabo-verdiano Mário Lúcio levou para editar “Funanight”, o sucessor de “Kreol”. São cerca de 2550 os dias que separam o álbum “Dentro da Matriz” deste “Baile Electrónico”, o segundo álbum do projecto pessoalíssimo de Vasco Ribeiro Casais (mentor de Dazkarieh, Seiva, Sopro) que volta a colocar em confronto o contexto das danças tradicionais portuguesas e europeias e dos instrumentos acústicos (gaitas de foles, nyckelharpa, cavaquinho, bouzouki e viola braguesa) com programações electrónicas e distorções que vão do dub ao noise folk e manipulação de recolhas contemporâneas de tradição oral portuguesa efectuadas por Tiago Pereira da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria.

Se em palco Vasco Ribeiro Casais é um Ed Sheeran dos sete instrumentos, na forma como consegue estar sozinho e extremamente concentrado a samplar em tempo real, a tocar todos estes cordofofones e aerofones e a coordenar a maquinaria que dispara as programações rítmicas e os sons e imagens de Tiago Pereira, em estúdio mostra precisão e habilidade e na forma como esquarteja e monta pequeninas peças sonoras e visuais (isentas de gorduras) em camadas que servem os diferentes momentos de um tema que divaga por diferentes danças e estéticas.

“Baile Electrónico” tem aqui verdadeiros momentos de génio de um multi-instrumentista, arranjador, produtor de rara sensibilidade na forma de construir temas de três / quatro minutos que saltitam constantemente entre ritmos, géneros musicais e recolhas sonoras. Quem já assistiu ao vivo ao “Corridinho da Margarida” facilmente repara que a “velhinha” Margarida Fidalgo Magalhães é uma figura icónica cantada em uníssono. Sublime como “A Porta da Belandrona” parte do corridinho para viajar pelo mundo entre uma polska sueca, um dub jamaicano cheio de eco (à Lee “Scratch” Perry) e uma malha noise-folk-rock, com outras recolhas das Moças Nagragadas sempre ali à espreita para exibir o seu admirável e hipnótico “flow” com que destravam as trava línguas que se encontram omnipresentes no disco e que inspiram até outros temas mais marafados como a “Polca Pornográfica” ou o “Canarinho”. Igualmente notável a forma como Omiri encaixa em “Fado em Picadinho”, o meio fado, meio corridinho, cantado por Celina da Piedade com os sons processados da “Ilha dos Vidros” de Mariana Maria e Maria Inácia e a base rítmica “etnofolkadelic” à Shooglenifty e Martyn Bennett. E quando nem precisamos falar da maravilhosa fusão entre o rap de Capicua, a voz icónica de Adélia Garcia e as peneiras da mirandesas Las Çarandas em “País Colmeia”, é porque “Baile Electrónico” está mesmo um disco enorme. E como tem crescido o Vasco…

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