IN-CANTO | Festival MED | Palco do Castelo | dia 27 de Junho | Espaço bem composto
No palco secundário do Castelo, LUISA AMARO, antiga companheira de CARLOS PAREDES, mostrou durante cerca de uma hora porque é que considera este projecto In-Canto como o fim de um ciclo de memória ao mestre Paredes, iniciado com a edição do seu disco “Canção Para Carlos Paredes” de 2004, gravado em parceria com Miguel Carvalhinho.
Além do belíssimo entendimento entre a guitarra portuguesa de Luisa Amaro e a guitarra clássica de MIGUEL CARVALHINHO, realce-se também intervenção do clarinete de GONÇALO LOPES e das percussões árabes como o tar ou a darabuka de TIAGO PEREIRA (uma surpresa se tivermos em conta a prestação deste percussionista tanto em RONCOS DO DIABO como no SEBASTIÃO ANTUNES TRIO). Ambos promovem um espaço de entendimento entre a música portuguesa e a música clássica do médio-oriente. E que bem que ali fica a dança de JOANA GRÁCIO que, apesar de exibir inevitavelmente a sua sensualidade não ofusca nem a prestação dos músicos, nem o teor mais sério e rigoroso do projecto. A bailarina demarca-se com uma certa classe ao lado mais folclórico daquilo que poderia resultar na vulgar dança do ventre. E ainda bem.
[fotos em breve; video disponível no blog do festival]
AYNUR DOGAN| Festival MED | Palco da Cerca | dia 27 de Junho | Espaço bem composto
No palco da cerca onde, em anos anteriores, assistimos a espectáculos mais festivos (desde AMPARANOIA a BABYLON CIRCUS), foi improvisado um auditório ao ar livre para recebermos sentados a curda do lado Turco AYNUR DOGAN. Não é por acaso que os juízes turcos obrigaram há três anos atrás a retirar o álbum “Keçe Kurdan” (isto é rapariga curda) das lojas de discos, sob o pretexto da canção que dá título ao álbum apelar ao separatismo curdo e de induzir à retirada das mulheres curdas para a montanha.
As canções tradicionais curdas e turcas interpretadas por AYNUR são de confronto, falam de difícil condição da mulher islâmica, de amores impossíveis e crimes de honra e são suportadas por uma poderosíssima secção de percussão. Mas esta tradição ‘denge benge’ é também de aproximação a um universo superior, celestial, a deus, sobretudo quando AYNUR exibe todo o seu portento vocal. A intensidade e profundidade do seu canto evoca os espíritos benignos dos sufis da refinada linhagem de NUSRAT FATEH ALI KHAN ou da grandiosidade musical do azeri ALIM QASIMOV.
A cantora e tocadora de baglama (cordofone local de 7 cordas da família do saz) possui também a sagacidade natural de modernizar os arranjos das suas canções, seja através da inclusão de um violino de toque ocidental ou de um baixo eléctrico. Felizmente, nesta actuação do palco da cerca, não houve aquele sintetizador que estragou um pouco o ‘showcase’ que ela deu na WOMEX de Sevilha em Outubro do ano passado. E foi melhor assim. Ganha e muito a música tradicional que AYNUR interpreta e ganha a audiência que desfruta de um espectáculo de maior autenticidade.
[fotos em breve; video disponível no blog do festival]
SARA TAVARES | Festival MED | Palco da Matriz | dia 27 de Junho | Espaço completamente lotado
Com a ampliação do espaço da zona antiga de Loulé, o Med ganhou mais um belíssimo cenário para a realização de espectáculos com alguns dos cabeças-de-cartaz. O espaço encaixado entre a Igreja Matriz e o Jardim dos Amuados recebeu SARA TAVARES que tocou para uma multidão sentada (foi ela que exigiu as cadeiras) que lotava por completo um espaço que pode receber cerca de 4000 espectadores de pé.
É notável a boa vibração que emana do discurso de SARA que puxou a sua costela de algarvia (era nesta região que vivia a sua mãe e onde ela passava as suas férias de infância) e apresentou à plateia algumas das suas sobrinhas que se encontravam em frente ao palco. Apesar de um início algo morno, a enorme rodagem da cantautora e dos músicos africanos que a acompanham, efectuada sobretudo em solo europeu e americano, confere uma enorme segurança a este espectáculo de facílima combustão que atinge directamente a mente e o corpo da maioria da assistência. SARA TAVARES já não se pode queixar que, quem a conhece, desconhece as canções do arrojado álbum “Balancê” (hábil na forma como miscigena pop, soul, a morna, o soukous e até mesmo o reggae e o dub). Muito bons os momentos em que canta com BOY GE MENDES e em que este cabo-verdiano põe toda a turba a gingar com uma malha de soukous em “Mi Ma Bô”, quando “One Love” na recta final é ampliado e chega aos 13 minutos, ou quando, já em encore, regressam a “Balancê” agora com uma linha brutal de dub servida pelo baixo do guineense GOGUI. Final mais do que perfeito para o primeiro dia de Med.
[fotos em breve; video disponível no blog do festival]
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