As Crónicas da Terra abrem uma nova secção destinada leitores que acompanham regularmente este espaço. SARA VIDAL, nazarena, actual vocalista dos galegos LUAR NA LUBRE, blogger do actualizadíssimo Sons Vadios, do Sonoridades e colunista do suplemento Hoxe Venres do jornal galego Galicia-Hoxe e uma das principais dinamizadoras da lista de discussão deste espaço, foi desafiada para escrever sobre alguns dos novos valores da folk galega. Sara Vidal preferiu abordar quatro novos discos acabados de sair que lhe são queridos.
DANIEL BELLÓN & DIEGO MACEIRAS
“Unión das Terras”
Phonos, 2006
Destacados pelo prémio Runas do Festival de Ortigueira de 2006, entre uma selecção de 75 maquetas de toda a Península Ibérica, e pelo concurso da Rádio Obradoiro, que lhes permitiu gravar o seu primeiro trabalho discográfico “Unión das Terras”, DANIEL BELLÓN & DIEGO MACEIRAS desde a sua formação em 2005 que revelaram ser um dos grupos mais inovadores e prometedores da nova cena musical galega.
E basta ouvi-los para nos deixarmos convencer pela catalagoção, pois o facto de apenas recorrerem à gaita galega e ao acordeão cromático não impede que seja um disco diverso, ritmano e cativante, não se confinando às melodias tradicionais da Galiza, mas incluindo, igualmente, peças originais e adaptações de temas populares de outros países, como é o exemplo dum “corridinho”.
Ultrapassadas as provas de afirmação e consagração, DANIEL BELLÓN & DIEGO MACEIRAS, exímios tocadores e intérpretes solistas, são, actualmente, uma referência incontornável dentro da nova geração de músicos na Galiza.
SETE SAIAS
“Sete Saias”
PAI Música, 2006
Definindo-se como música celta, e sob a influência musical do harpista RODRIGO ROMANÍ, ex-membro de MILLADOIRO e quem assume grande parte dos arranjos das harpas, surge um novo grupo no panorama musical galego, emergente da Aula de Harpa do Conservatório de Música Tradicional da Escola de Artes e Oficios de Vigo.
SETE SAIAS é um duo composto por CLARA PINO e MARTA QUINTANA, que têm como objectivo recuperar a sonoridade da harpa na música galega, contrapondo com a melodia da voz. No seu repertório, incluem tanto peças tradicionais, principal fonte de inspiração, assim como originais, dos quais se destacam os dois singles “Rompendo a Marea” e “Bágoas de Azar”, havendo a participação de XOSÉ MANUEL BUDIÑO numa versão remisturada do primeiro tema.
Este álbum de estreia “Sete Saias”, cuja primeira edição já se encontra esgotada, tem o mérito de apresentar uma abordagem original sobre a música galega, tendo sido seleccionado para o concurso Runas do Festival de Ortigueira 2007 e deixando expectativas sobre o próximo trabalho.
XABIER DÍAZ
“Coplas para Icía”
Músicas de Salitre, 2007
XABIER DÍAZ é um homem que apropria-se da terra, como essência fundamental na sua construção enquanto pessoa e músico. Por este motivo, “Coplas para Icía” é um disco comprometido com a cultura e tradição musical, que ele sente como próprias, sendo integralmente composto por adaptações de temas recolhidos pelo próprio XABIER DÍAZ um pouco por toda a Galiza.
No entanto, a proposta que nos apresenta não deixa de ser arrojada e inovadora, deixando transparecer o trabalho de artesão, juntamente com a participação de PEDRO LAMAS (saxo e gaita) e SUSO IGLESIAS (acordeão), em converter ecos antigos em cantares contemporâneos.
Ao ouvirmos este segundo trabalho do músico, apercebemo-nos rapidamente que a intenção subjacente não é recordar o passado, mas atrever-se a reinterpretá-lo com harmonias menos características, em busca dum novo sentido num presente cada vez menos tradicionalista. É de destacar a colaboração de GUADI GALEGO e das Pandeireteiras do Grupo Arestora, que exemplificam, na perfeição, esta conjugação de tempos e de intenções.
IALMA
“Nova Era”
EMI, 2007
Dificilmente conseguiríamos imaginar a música “Under the Bridge” de RED HOT CHILI PEPPERS transformada por um grupo de cantareiras, acompanhadas pelo tocar da pandeireta. No entanto, é esta proposta de fusão da música tradicional com o rock/pop que as belgo-galegas IALMA apresentam no seu terceiro trabalho discográfico “Nova Era”.
Neste tema que abre o disco, e no qual colaboraram as septuagenárias cantareiras de Pontecaldelas “DAMAS DE LAXOSO”, intuimos a musicalidade, que em muito se afasta do primeiro álbum a capella “Palabras darei” (2000). Seguindo a evolução duma linha estética mais inovadora, tal como fizeram LEILIA ou ANUBIA, “Nova Era” apresenta-se como uma proposta de fusão mais ambiciosa e abrangente, com composições originais e temas tradicionais de todo o mundo, reflectindo-se, igualmente, na participação de vários músicos, nomeadamente: MERCEDES PEÓN, GUADI GALEGO, RADIO COS (Xurxo e Quique Peón), N´FALY KOUYATÉ (Guiné), AD COMINOTTO (Italia-Bélxica) e SOPHIE CAVEZ (Bélgica), entre outros.
Sara Vidal
já que o norte de portugal é um deserto…musical, juntemo-nos
a galiza…musical.
grande regresso da mercedes peon (Sihá).
Há mais alguém na galiza a ousar dar passos gigantescos na renovação da música galega?
Olá Rui C,
O norte até nem é um deserto musical. Existem inúmeros grupos e uma renovação saudável de público resultante de todo o esforço efectuado pelo Contagiarte e outros espaços. Desde os nomes mais antigos – Toques de Caixa, Comvinha Tradicional, Andarilhos, Galandum Galundaina, Célio Pires, Lenga Lenga, Segue-me à Capela – a uma nova e grande fornalha de jovens músicos – Mandrágora, Mu, Pé na Terra, Arrefole, Lufa-Lufa, Partizan, Chamaste-me Ó, Trovas ao Vento, Toques do Caramulo, Chuchurumel, Diabo a Sete, etc etc etc… o problema não está no norte mas em todo o país em geral. É muito difícil a uma nova banda do norte tocar em Lisboa e uma nova banda da capital tocar na Invicta. Os festivais não apostam muito nas jovens bandas, quem gere os teatros também não. Os bares oferecem apenas parte do que se faz na bilheteira. Sinceramente, gostava imenso de poder ver grande parte destas bandas no bar Tambor Q Fala (um dos mais próximos de minha casa), mas reconheço que aquilo que iriam ganhar com os bilhetes nem para a deslocação dá. Neste sentido a Galiza tem uma coisa óptima – o tal circuito de bares – que permite a uma banda rodar por imensos espaços e localidades. A D’orfeu também está a aplicar essa ideia no centro do país. Oxalá hajam outras iniciativas do género que permitam por toda esta malta a tocar no norte e no sul do país.
Olá Sara e Luís,
Muito obrigado pela divulgação destes nomes, que eu não conhecia – fiquei especialmente surpreso (e curioso, claro) com o projecto Ialma, belgo-galego (ou galaico-belga), e que me colocou uma questão curiosa – o fascínio mútuo entre belgas e galegos, bem presente no grupo de folk-pop Urban Trad (e, de certa maneira, em alguns temas das Lais). Se me permitem, e da Galiza, um nome também recente a juntar a este rol: Nordestin@s…
Olá camarada,
Penso que na Bélgica existe um fascínio por quase tudo o que não seja belga (claro que eles não dispensam as suas milhares de variedade de cerveja de malte). Há sete anos atrás, quando vivi em Gent durante três meses, reparei que havia em Bruxelas uma associação cultural galega (à semelhança daquela que temos junto do CM Pátria onde o Paulo Marinho dava aulas de Gaita) que tinha espectáculos com grupos galegos quase todas as semanas. Não sei se hoje essa realidade se mantém ou não (e aí a Sara é capaz de ser a melhor pessoa para falar), mas há uma abertura não só à música galega como também à música portuguesa. Enquanto lá estive vi espectáculos com fadistas que nem conhecia, travei conhecimento com uma belga que cantava fado em dutch mas que nunca editou um disco, conheci um holandês que escreveu um livro de fado em dutch (tenho esse livro em casa) e frequentei um bar muito especial também em Gent cujo o dono parecia que coleccionava Rough Guides sobre Portugal e Lisboa (para além de outros países). Passava no seu bar gravações muito antigas de fado…
Voltando à Galiza, a região está muito bem representada nas instâncias europeias (se calhar até melhor do que Portugal). Convido-te a consultares o site da Fundacíon Galicia Europa
http://www.fundaciongaliciaeuropa.eu/
A emigração galega sempre teve, e tem, tendência para se juntar em centros próprios, apoiados pela Xunta. No caso de Bruxelas, penso que até têm 2, cada um com a sua orientação política.
E, já agora, o de Lisboa ainda está em actividade, com o Paulo Marinho nas aulas de gaita 🙂 Se alguém estiver interessado em participar num grupo de cantareiras /pandeireteiras, que me avise, porque estamos a tentar criá-lo na Xuventude de Lisboa.
Em relação às Ialma, elas são de origem galega e uma asturiana. Veronica Codesal, que também é vocalista nos Urban Trad, (e que nem sequer tem nacionalidade belga) é quem mais se destaca no grupo, sendo a solista em praticamente todos os temas.
Nordestinas é, de facto, um projecto a considerar na nova música galega. Mas, desde já, deixo aqui a promessa de mais novidades em breve 😉
olá Sara, apenas para lhe dizer que gostei muito da sua actuação (e do seu grupo, Luar na Lubre), no InterCéltico de Sendim. Aliás, estou a ouvir o CD “Camiños da fin da terra”. Parabéns!
N.