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Festival Med [dia #4] ROSA NEGRA, L’HAM DE FOC, OLIVE TREE, VINICIO CAPOSSELA, YERBA BUENA

ROSA NEGRA | Festival MED | Palco do Castelo | dia 30 de Junho | Espaço bem composto

O compromisso assumido pelos Rosa Negra de fundir o fado com a música sefardita está cada vez mais consistente. No início da quarta noite de Med no palco do Castelo, sentiu-se a forte presença da fadista Carmo acompanhada por Rui Filipe em teclados e acordeão de arranjos luxuriantes das 1001 noites, por uma secção de cordas (violino e violoncelo) que evoca as orquestras clássicas do médio oriente, um trompete de sabor andaluz e uma percussão darabuka que remete para um universo da música modal. Na actuação elegante (em termos musicais e, sobretudo cénicos que fizeram com que Mário Pires tivesse tirado belíssimas fotografias) dos Rosa Negra, houve (ainda) muitos ecos de Amália (casos de “Vou dar de Beber à Dor”, “Longe Daqui”). Mas os Rosa Negra parecem saber muito bem para onde querem ir e brindaram-nos também com canções originais de influência sefardita. Oxalá nunca percam a linha do oriente que os une e continuem a trilhar estes caminhos dos judeus expulsos da Península Ibérica no séc. XV.

L’HAM DE FOC| Festival MED | Palco da cerca | dia 30 de Junho | Espaço lotado

No palco da Cerca, pudemos observar um dos mais interessantes projectos folk da vizinha Espanha e, provavelmente aquele que mais instrumentos tocam em cima do palco: cerca de 40. O octeto L’ham de Foc, liderado por Efran Lopez e Mara Aranda demonstrou, mais uma vez, um enorme respeito pela música medieval e modal, que vai Afonso X – o sábio, aos sefarditas, do mediterrâneo ocidental ao oriental. Da Andaluzia, à Grécia e à Turquia, do magrebe à mesopotâmia, desfiando canções, sobretudo, do terceiro álbum “Cor de Porc”, como “Per La Boca” e Tristos Ulls”. Vítimas do forte vento que se fez sentir nessa noite, os L’ham de Foc foram penosamente arrastando a sua actuação com longas pausas para afinação dos delicados instrumentos de cordas, como o alaúde, o rabab afegão, a sanfona ou o baglama (da família do saz). Um espectáculo que soube a muito pouco dado os espectáculos interessantes que ocorriam em paralelo noutros palcos e que tornou inevitável a saída a meio da actuação deste magnífico projecto que merece voltar o quanto antes ao nosso país (sobretudo a um auditório como o da Culturgeste), quer como L’ham de Foc, quer como o outro projecto (que já tem “showcase” marcado para a WOMEX”) Aman Aman focado em canções sefarditas do ocidente e do oriente.

OLIVE TREE | Festival MED | Palco do Castelo | dia 30 de Junho | Espaço completamente apinhado

Às 11h da noite do quarto dia de Med, a concorrência dos dois principais palcos era forte. Na Martiz actuava o italiano Vinicio Capossela, na Cerca os espanhóis L’ham de foc. Tal conjuntura não impediu que o trio Olive Tree tornasse o espaço do Castelo numa verdadeira festa “rave”, completamente apinhada de gente que dançava e pulava, instigada pelo pelo tom tom repetitivo e hipnótico do digeridoo monocórdico de Renato Oliveira e pelos ritmos frenéticos da bateria de Tito Silva e das percussões de Pedro Vasconcelos. Sem recurso a qualquer tipo de elementos electronicamente processados, a música de trance, orgânica, dos Olive Tree foi das mais dançáveis, combativas e estimulantes de todo o MED.

VINICIO CAPOSSELA| Festival MED | Palco da Matriz | dia 30 de Junho | Espaço bem composto

Quando pensávamos que já não havia segredos bem escodidos na música, eis que temos a felicidade de ver o cantautor errante germano-italiano Vinicio Caposella em palco. Homem de mil e uma faces, de músicas sem fim, de vários trajes e instrumentos, Vinicio Capossela é a diversidade cultural ambulante. Nas multi-músicas de Capossela há tango e romantismo (quando dedica “Con Una Rosa” a todas as rosas do Algarve), um certo charme saudosista evocativo dos grandes senhores da canção italiana de outrora, como Renato Carosone e Adriano Calentano (“Che Cosse L’amor” é um verdadeiro hino da canção safada transalpina elegantemente revestida por arranjos de jazz latino), ecos da cultura underground norte-americana “on the road” mitificada por nomes como Jack Kerouac e Tom Waits (implícitos sobretudo no último e sombrio álbum “Ovunoue Proteggi”), influências cinemáticas de Pasolini e de Nino Rota.
De dobro à cintura e chapéu à cowboy, Capossela tanto toca música tex-mex e mariachi, como pisca o olho à rembetika grega, ao mambo e cha cha cha das caraíbas e à música circence contaminada pelo universo grotesco dos ciganos de leste fimado por Kusturica (sobretudo no divertido “Marajà”), como ataca uma espécie de tarantela (punk?) napolitana que descamba para um final noise à sonic youth. Tudo isto é possível porque há um naipe notável de músicos em palco. Uma dupla de cordas grega (com bouzouki e um pequeno mandolin), um tocador de vibrafone e theremin e, sobretudo, um endiabrado guitarrista nitidamente influenciado por Ribot, quer no intimismo selecto daquilo que fez com os Cubanos Postizos, quer nos espásmos de alta voltagem do free-rock. Capossela em palco foi muito maior do que a soma de todas as músicas que o influenciaram.

YERBA BUENA| Festival MED | Palco da cerca | dia 30 de Junho | Espaço completamente apinhado

Antes de acabarmos a quarta noite em beleza, com o set da Dj Raquel Bulha, andámos de “Burrito” com os nova-iorquinos Yerba Buena, liderados pelo cantautor e produtor colombiano Andrés Levi. Nos Yerba Buena, há sobretudo uma grande sabedoria em misturar diferentes ritmos afro-latinos mais tradicionais (da salsa, à cumbia, ao merengue e ao afrobeat) com roupagens ultra modernas e pujantes de funk, rock e hip hop. Guajira, é um exemplo de como os Yerba Buena transformam um tema nitidamente ancorado no son cubano em pop latino mais universal. Valeu pela boa onda.

fotos (c) Retorta

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