Reportagens

[reportagem FMM2007 #1] GALANDUM GALUNDAINA: força tranquila da cultura em resistência

GALANDUM GALUNDAINA | FMM Sines 2007 | Porto Covo | dia 20 de Julho | Vazio no início, bem composto no final da actuação
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Quem tem acompanhado as longíssimas noites do Castelo de Sines e da Avenida da Praia, em que as grandes enchentes não nos permitem esticar nem o dedo mindinho, nunca iria imaginar que, às 21h30, o frio e a escassa moldura humana presentes na zona da doca de pesca de Porto Covo pudessem evocar um outro local (Ilhas Faröe) a quem aí se encontrava. Em contraste com o recinto, nessa altura os veraneantes lotavam por completo as estreitas ruas da vila que olha de frente para a Ilha do Pessegueiro o que dava a entender que o grosso dos turistas ainda estava descontraidamente a atacar o paté de sardinha e a manteiga de alho num restaurante próximo (não é, turma do fórum sons?). Um quarto de hora depois, as gaitas-de-foles mirandesas, as flautas pastoris, os tamboris, não mandaram o palco de Sines abaixo porque o som ainda não estava muito alto, mas começaram a chamar os festivaleiros que, no final da actuação da jovem banda mirandesa já preenchiam de forma considerável o recinto consagrado à extensão do FMM de Porto Covo.

Apesar de o repertório dos GALANDUM GALUNDAINA confinar-se (quase só) ao universo do planalto transmontano, tem sido notável a evolução do projecto de PAULO PRETO e dos irmãos MEIRINHOS feita, sobretudo, com um enorme respeito pelo riquíssimo legado de tierras de Miranda (todos eles continuam e continuarão a apresentar as modas na língua mirandesa). Os “lhaços”, com a presença habitual dos PAULITEIROS a auto-exercitarem a melhor forma de não saírem do palco nem com os dedos roxos, nem com o pescoço partido, a omnipresente “Dona Tresa” já em “encore” e modas clássicas como “Pingacho”, Lhoba Parda”, “Cerigoça”,. “Chin Glin Din” traçam o retrato-piloto de um espectáculo que, apesar de o termos visto já várias vezes, nunca nos cansamos dele, simplesmente porque os GALANDUM GALUNDAINA exalam o amor que sentem por esta “cultura de resistência”, que tem evoluído tranquilamente. Depois da integração da sanfona num projecto que sempre soube servir-se muito bem das gaitas-de-foles transmontanas e das harmoniosas polifonias vocais, os GALANDUM GALUNDAINA vão alargando cada vez mais o leque de instrumentos de cordas (e de bordão), utilizando agora uma rabel (ou rabeca) em modas como “Fraile Cornudo”, numa versão bem mais tensa e carregada de “drone” (que evoca o espírito sueco “hedningarniano”), do que aquela bem mais acelerada que podemos escutar em “Danças e Folias” da BRIGADA VICTOR JARA. O olhar para o outro lado da fronteira (sobretudo para Leão e Castela) através do trabalho que têm desenvolvido conjuntamente com PACO DIEZ, tem feito muito bem aos GALANDUM GALUNDAINA que, além de rodarem muito mais na vizinha Espanha (onde o roteiro “folk” está anos luz à frente do nosso), têm ganho uma notável maturidade, sem nunca necessitarem de deixar de ter os dois pés em Miranda. Em Porto Covo os autores do fabuloso “Modas I Anzonas” mostraram (e que maneira) porque é que deveriam ter sido agraciados com o Prémio José Afonso de 2006.

Alinhamento

– “Entrada”
– “Gaita”
– “Nós Tenemos Muitos Nabos”
– “Se Teu Pai Me Dera”
– “21 de Maio”
– “Tamborileira”
– “Pingacho”
– “Redondo”
– “Berdugal”
– “Redondo Espanhola”
– “La Lhoba Parda”
– “Fraile Cornudo”
– Chin Glin Din”
– “25 + Castelo”

Encore:
– “Tamborileira + Cerigoça”
– “Dona Tresa”


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