[reportagem FMM2007 #3] ETRAN FINATAWA: união dos nómadas viris e andróginos

ETRAN FINATAWA | FMM Sines 2007 | Porto Covo | dia 20 de Julho | bem composto

Depois da tradição mirandesa em estado (quase) puro e da poesia errante servo-croata, o primeiro dia do festival da diversidade cultural e musical encerrou com (mais) uma dose de música de transe, circular, hipnótica, própria de cerimónias terapêuticas do deserto do Sara, por duas das tribos nómadas que habitam o extenso território do Niger. Três tuaregues exibem o seu habitual turbante e a guitarra eléctrica imprime o ritmo “ichumar” e os blues abrasivos imortalizados, desde os anos 70, por diversas tribos nómadas (além de tuaregues, também sarahuis e berberes) e não só (também pelos sonrai do deus Ali), que nos guiam pelos espíritos errantes das margens do Rio (também) Níger, que separa o deserto da savana.

Outros três membros de etnia wodaabe, indumentária bem mais vistosa, algo andrógina, que prima por um turbante com uma pena pendurada em direcção ao céu e longas tranças pejadas de missangas (?) que cobrem as orelhas e descem até aos ombros, entoam cantares polifónicos, com vozes muito afeminadas de soprano, batem palmas sincopadas e tocam percussões como a vulgar cabaça, a cabaça de água (Azakalabo) percutida com um curioso bastão de madeira e um conjunto de anéis ligados entre si a um prato metálico que se pendura na perna, abaixo do joelho (Akayaure). O repertório de ambos é alternado e, apesar da convergência harmónica e rítmica, os timbres vocais, muito mais masculinos dos tuaregues, desnudam as diferenças de ambas as tribos na forma de interpretarem canções que tanto podem exultar a beleza da vida nómada, como a exigência da luta pela liberdade a partir do exílio. Um belo concerto, mas demasiado manso se comparado com o poderio eléctrico dos TINARIWEN, ou com a imensa voz sarauhi de MARIEM HASSAN (com nos brindou no FMM de 2006).

Fotos: (c) Mário Pires / CMS