Mário Lúcio é um verdadeiro atlas em movimento da música mestiça e das origens dos variadíssimos sons criados no arquipélago de Cabo Verde, por africanos de várias etnias que criaram toda a riqueza melódica e rítmica, essencialmente, com instrumentos europeus.
Em “Badyo”, o seu (já) terceiro álbum a solo, o ex-lider dos Simentera continua a esgravatar um caminho trilhado pelo disco “Tr’adicional” deste histórico colectivo, em busca da génese da música mestiça feita pelos “Badyos”. Mas, o que é um “Badyo? Mia Couto explica:
«Badyo – Este é o nome por que é conhecido hoje o habitante de Santiago, a primeira ilha a ser habitada no Arquipélago de Cabo Verde. Mas, Vadio era todo o negro que recusava a condição de escravo; e, livre, não reconhecia o controlo das instituições sociais dominantes. Ele é o mandinga, o mandjaco, o pepel, o bantu, o Congo, o fula, o yoruba, o wolof vindos de Africa como escravos e que, entre outras plantações, semearam o gérmen do nosso ritmo: batuko, tabanka, funaná, coladera, colá, etc. Badyo é o ancestral do homo criolo. Não só nos trouxe ao mundo, como também ao mundo nos levou: para América do Norte, Cuba, América Central, Brasil, Argentina, Europa, espalhando e assimilando novos ritmos além-mar, toques e tiques que um dia voltariam em instrumentos como o bandonéon, o cavaquinho, a guitarra, o piano. Badyo é o homem da rota dos escravos e a sua música, a primeira música mestiça do Planeta, a música síntese do maior encontro de culturas da história. É esta mestiçagem universal que eu busco e proponho na reminiscência dos sons que vieram, dos que foram, e dos que regressaram. foi aqui em Santiago de Cabo Verde que as músicas dos povos e das etnias africanas (que nunca antes tocaram juntas) viraram a música africana que anunciou a música americana que tocou a música europeia que conhecerá a música do mundo que é a música de Cabo Verde, que é mais antiga do que se pensa e mais moderna do que parece.»
Nesta emissão da Terra Pura, falamos com Mário Lúcio sobre o fim dos Simentera, o álbum “Badyo”, a mestiçagem e da riqueza musical do arquipelago cabo-verdiano.
Rádio Zero – Segunda a Sexta-feira, entre as 18h às 19h. Repete no dia seguinte entre as 8h e as 9h da manhã.
Rádio Universitária do Minho – Terças-feiras, às 21h
Miróbriga – Domingos, entre as 21h e as 23h
Mario Lucio e um artista de excepcao que transmite com a sua musica a verdadeira alma de Cabo Verde. Vai ser bom conhecer o seu novo trabalho no Terra Pura!