Entrevistas

[Entrevista LILA DOWNS]: A “cantina” dos amores perigosos

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Depois de ter passado há dois anos atrás pelos Jardins do Palácio de Cristal, LILA DOWNS regressa ao nosso país para apresentar ao vivo a sua mais recente criação: “La Cantina ‘Entre Copa Y Copa'” (ver crítica ao disco neste espaço). É já no próximo dia 18 de Julho, na Casa da Música do Porto um dia depois na Aula Magna em Lisboa.

Olhando para os quatro discos que editou anteriormente, houve uma grande mudança em “La Cantina”. O que é que aconteceu para ter mudado bastante a forma de interpretar estas canções?

Este álbum é, para mim, o recordar um pouco essas canções com as quais cresci cantando. A minha mãe cantava-as na “Cantina” antes de eu nascer. E repete-se a história comigo. Tenho de viver essas canções para as poder cantar. Creio que antes somente interpretava canções. Não sabia qual era o verdadeiro sentimento da canção.

O que é que sucedeu para cantar com muito mais sentimento?

Estive muito doente e cheguei ao ponto de perder a minha voz. Na altura em que estava a gravar este disco cheguei a ter muito medo de nunca mais voltar a cantar. Creio que isso ensinou-me a respeitar a minha voz e a vida de uma “cantante”.

Será que “La Cantina” é um disco que reflecte a sua formação de antropóloga (ao recuperar relíquias perdidas) e a visão modernista do seu marido PAUL COHEN (ao dar arranjos mais actuais às rancheras)?

Em parte. Creio que é um disco que obedece mais ao meu ponto de vista. Queria fazer coisas diferentes com a música. O PAUL e um outro produtor, ANEIRO TAÑO deram uma grande ajuda. Mas a maioria das ideias foram minhas. Gosto de combinar os dois elementos. Aborreço-me de cantar todo o tempo com acompanhamento acústico. Gosto de ir buscar outra maneira de dizer as coisas, num contexto mais moderno.

Há um corrido que fala das “teiboleras” [jovens adolescentes que abandonam a sua comunidade rural para irem para as cidades ou para os Estados Unidos desempenhar tarefas “duvidosas”]. Qual o trabalho que a tua associação tem feito de modo a impedir que as adolescentes indígenas da tua comunidade se transformem em “teiboreras”, ou que se casem precocemente?

Convidaram-nos a fazer um concerto em cada ano para contribuir para a educação destas raparigas. Elas têm de ter um interesse pela sua própria comunidade. Nós apoiamo-las para que tenham uma educação que as ajude a chegar à universidade..

Que resultados têm obtido?

Tem sido muito bom. O importante não é tanto a quantidade de raparigas que podemos apoiar, mas o resultado que obtemos com esse apoio. Cada ano, apoiávamos sete raparigas e agora já triplicamos o seu número. Muitas delas já terminaram os seus estudos e, felizmente, têm regressado às suas comunidades. A ideia é apoiá-las a desenvolver os seus estudos mas que elas depois disso não tenham que para os Estados Unidos ou para outro sítio. Para que possam continuar a sua vida em Oaxaca.

Actualmente, não se tem ouvido falar tanto dos Zapatistas como há uns tempos atrás, quando o Subcomandante marcos organizava as marchas zapatistas até á Cidade do México. O que é que se passa? O movimento estará um pouco adormecido? Será que os media já não se interessam pela luta pelos direitos sociais dos indígenas?

Creio que continua a haver interesse. Talvez tenha diminuído o público que segue o Marcos, porque agora vêm as eleições e temos um candidato de Esquerda para Presidente da Nação que se chama Andrés Manuel López Obrador. Há muita gente de esquerda que vai votar nesse candidado e que não concorda com as críticas que Marcos lhe fez. Então, há uma certa divisão na Esquerda. Mas continuo a seguir os passos do Delegado Zero (como agora se chama) e ele continua muito presente entre a nossa juventude.

Pensa que o candiDato que refere irá ter em atenção os direitos civis que os povos indígenas reclamam, caso seja eleito Presidente?

Espero que sim. Temos que pressionar e estar mais atentos ao que possa suceder. Espero que ele possa trazer coisas positivas para a sociedade indígena.

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4 Comments

  1. Olá Pedro, toda a actividade e discussão em torno da “W” têm-me dado um suplemento vitamínico para pegar nas Crónicas. Ainda falta actualizar muuuuuita coisa.

    abraço

    LR

    PS: foste ao Coleur café?

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