Entrevistas

[Entrevista MAWACA]: Sete mulheres Paulistas

Na etnia hausa do norte da Nigéria, MAWACA designa o conjunto de músicos que recorrem ao poder mágico da palavra cantada para atrair a força dos espíritos. Em São Paulo, sete mulheres pesquisam e recriam músicas étnicas de todo o mundo, com múltiplos instrumentos de percussão (tablas indianas, darbuka, djembé, berimbau, vibrafone, pandeirões do Maranhão, marimba e koto japonês) tentando, ao mesmo tempo, encontrar ligações com elementos da música brasileira. Talvez, por isso, o projecto MAWACA tenha uma ligação muito próxima com a cultura portuguesa. “Pra Todo o Canto” (2004) e “Astrolábio.tucupira.com.brasil” (2000), os dois últimos registos de Mawaca (cuja discografia inclui uma banda sonora para uma peça de teatro denominada “Os Lusíadas”), acabaram de ser distribuídos no nosso país.
MAGDA PUCCI, fundadora de Mawaca, deseja actuar em Portugal no próximo mês de Setembro e, se possível, gravar algo com Janita Salomé. Vamos torcer para que os seus desejos se concretizem.

Na altura em que se formaram – 1993 – a MAGDA e a KITTY tinham uma certa dificuldade em conseguir partitutas, CD, Cassettes de sons da Bulgária, de Inuits, de Tuva, etc. Consegue comparar esses tempos com a realidade de 2006?

Hoje é muito mais fácil! A Internet facilitou muito o contacto com pessoas de outros lugares. Lembro-me do tempo do fax que se apagava… tudo desapareceu!
Recebo muito material para meu programa de rádio Planeta Som ). Por conta disso, estou sempre em contacto com artistas de fora. Agora mesmo, vamos fazer uma parceria com o YAIR DALAL, um alaudista e violinista israelita que vem ao Brasil. Conheci-o por causa do meu programa de rádio. Tornamo-nos amigos. Mostrei-lhe o CD do MAWACA, ele viu uma apresentação nossa no Womex em Sevilha e ficou nosso amigo. Quando chegar, provavelmente, faremos uma gravação para o nosso próximo CD. Esses contactos e colaborações são muito importantes e rendem anos de estudo.

O facto de ter experiência em gravar música para teatro torna a vossa sonoridade mais cénica? Será a música de MAWACA uma história com muitos contos (tantos quantos as raças, as línguas) que relata a diversidade cultural do mundo? Ou, será o relato das origens comuns da música, em que a música dos índios da amazónia cola-se a uma canção japonesa e o cordel nordestino à runa finlandesa?

A performance das cantoras do MAWACA aconteceu naturalmente. No início do trabalho, tínhamos até um director cénico que trabalhava marcas no palco. Com o tempo, percebemos que não precisávamos disso porque acabavam dando um carácter muito teatral e o que queríamos era contar histórias subliminares através das canções. As histórias estão nas canções. Contamos cada uma à sua maneira com as particularidades de cada cantora. Mas o dado das origens musicais é importante também. Não que eu tenha ido atrás disso, mas ao pesquisar vários tipos de músicas e sonoridades vocais de diferentes povos, ia percebendo essas semelhanças, que nem sempre se explicam historicamente, mas que esteticamente faziam o maior sentido e com isso enriquecem o nosso trabalho.

O repertório que interpretam é essencialmente feminino, ou também há temas cantados em coro por homens? Viam-se a interpretar temas de cante alentejano, de mineiros ingleses, ou de tenores da Sardenha?

Por um acaso, o grupo foi formado por cantoras. Nos primórdios, eu tinha convocado alguns amigos cantores e nenhum deles tinha disponibilidade e/ou interesse. E quando me dei conta, só haviam cantoras. Por coincidência, o repertório que acabei seleccionando estava totalmente voltado para o universo feminino.
Adorava ter os tenores da Sardenha cantando com MAWACA. Isso seria lindo demais!. Aliás, os TENORES DI BITTI MIALINU PIRA, com que eu trabalhei num outro projecto, vêm ao Brasil novamente e eu estou querendo convidá-los para participar do nosso CD também. Adoro o cante alentejano, também. Conheci recentemente o trabalho do JANITA SALOMÉ e fiquei apaixonada. O disco VOZES DO SUL é lindíssimo, um primor de projecto. Seria muito bom tê-lo no nosso próximo disco. Quem sabe?

Como é que conheceram a NÉ LADEIRAS, que aparece em “Astrolábio Tucupira.com.brasil” a interpretar “Reis” e “Alvíssaras” de origem portuguesa?

NÉ foi um presente para MAWACA. Conheci-a através do CHICO CÉSAR. Ela veio a São Paulo para actuar na Casa de Portugal. Espectáculo que tinha a participação de CHICO CÉSAR. Ele nos apresentou à NÉ. No camarim, cantamos para ela o canto das Maçadeiras que ela conhecia, evidentemente. Ela cantou junto connosco e ficou entusiasmada. Daí, convidei-a para cantar uma música no nosso disco. Encontramo-nos em minha casa e ela me apresentou temas lindos. Um deles, foi “Alvíssaras” que misturamos com um boi lá do Pará. O solo dela de “Reis” – que está no “Astrolábio” é uma pérola. Que voz a NÉ tem! Depois de alguns anos, apresentamo-nos com ela novamente no Theatro Municipal de Sao Paulo, com orquestra onde apresentamos trechos da minha banda sonora para “Os Lusiadas”, entre canções dela que fizemos novos arranjos. Foi um concerto emocionante.

Para além da NÉ LADEIRAS, com que músicos portugueses é que já colaboraram ou gostariam de colaborar? Que outros temas da tradição portuguesa gostariam de trabalhar no futuro?

Gosto muito do trabalho dos GAITEIROS DE LISBOA (são criativos e divertidos), do JANITA SALOMÉ, dos MADREDEUS (que, aliás, assistiram ao concerto de MAWACA d´Os Lusiadas com Orquestra, quando cá estiveram), LULA PENA e da música do VICTOR GAMA, com aqueles instrumentos maravilhosos que ele cria.

Quando é que ouviu pela primeira vez “As Sete Mulheres do Minho”?

Ouvi a versão da DULCE PONTES. Fiquei encantada com aquele arranjo vocal que ela fez com vocoder. Mais tarde, quando estive em Portugal, consegui um CD com a versão original do ZECA AFONSO, que era completamente diferente. Então, descobri a estória da canção (que tinha sido feita para uma banda sonora de um peça teatral usando um texto tradicional do Minho). Quando começámos a cantar a música, não resistimos e acrescentamos ao arranjo vocal, os pandeirões, o acordeão. Mais tarde, entraram o violoncelo e o violino. O arranjo foi crescendo e se transformou num canto épico que virou a marca registrada de MAWACA. Em nenhum espectáculo pode faltar “As Sete Mulheres do Minho”.

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1 Comment

  1. Ver o grupo Mawaca se apresentando no Teatro de Manaus foi um presente dos deuses para uma piauiense que visitou esta cidade cheia de encantos. Estou completamente extasiada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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