Concertos

THOMAS MAPFUMO: a luta continua [em Sines]

É um dos nomes mais fortes do cartaz do FMM de Sines. Aos 61 anos de idade, THOMAS MAPFUMO é um dos artistas nascidos em África com mais histórias para contar. O “Leão do Zimbabué”, como é comummente conhecido, por ser o líder e o principal impulsionador da música da tribo Shona, tem sido ao longo de décadas o braço musical armado contra a opressão e a tirania que vigorou na Rodésia de Ian Smith e vigora actualmente no país governado por Robert Mugabe.

A sua música “chimurenga” (que “Shona” significa luta) desempenhou um papel na conquista da independência em 1980 dando, sobretudo, força espiritual à guerrilha armada que combatiam na selva.

MAPFUMO como “rei” dos que nada possuem, para além da importância que teve na “libertação” do Zimbabué, sempre foi a voz de protesto actual mais audível e ousada contra os métodos usados por Mugabe para se manter no poder. Contra as medidas incendiárias que levaram à destruição da riqueza do país. “Corruption”, editado há cerca de década e meia [em 1989], é um dos álbuns mais críticos de MAPFUMO, que não se inibe de criticar duramente o abuso de poder e corrupção e de trazer para ordem do dia vários flagelos sociais que assolam o seu povo: a pobreza extrema, a fome e as doenças infecto-contagiosas.

Dez anos depois, a canção “Disaster” incluída no álbum “Chimurenga Explosion” de 2000, prevê o desmoronamento de uma nação, como se de um baralho de cartas se tratasse. O tema foi banido da rádio Nacional do Zimbabué e motivo para MAPFUMO se tornar prisioneiro político de Mugabe. Nada de novo. Já o antigo governador da Rodésia o havia mandado prender pelos mesmíssimos motivos.

Exilado em Eugene-Oregon (Estados Unidos) desde o ano 2000, o músico continua a concentrar toda a sua energia numa nova luta de “libertação” do seu povo Shona. Ao perguntarmos-lhe se deseja candidatar-se à presidência do seu país, apenas nos diz que deseja ser músico (actividade pela qual é tão ou mais conhecido entre o seu povo do que Mugabe) e ser “a voz dos que não têm voz”.

O mais recente álbum, “Rise Up” [comercializado inicialmente em 2005 através de formato mp3, via site Calabash Music, e editado em CD apenas este ano pela editora Real World], mais do que condenar pela milésima vez o estilo autocrático de Mugabe “que nos envergonha” e que “faz de nós marionetes”, de acordo com palavras de MAPFUMO, propõe em onze canções a mudança de regime, a reconciliação do povo (que se encontra minado pelas “mentiras” que alimentam a luta e a destruição) e a reconstrução do país, encorajando os mais jovens a tornarem-se a chave da prosperidade do Zimbabué.

Canções de intervenção que continuam, como sempre, revestidas de arranjos afro-pop e afro-jazz centrados no sul de África (da Marrabenta moçambicana ao “monstro” ABDULAH IBRAHIM), reggae (BOB MARLEY continua a ser um dos seus heróis) e de um poder espiritual, encantatório e hipnótico, por via das três omnipresentes mbiras electrificadas (lamelofone usado em cerimónias espirituais dos Shonas). Atributos que tornam a música de Thomas Mapfumo (e da sua banda suporte, THE BLACKS UNLIMITED), numa das mais sugestivas dietas sonoras da África actual.

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