Discos

[perfil BILLY BRAGG] “One man Clash”

“One man Clash” ou “national treasure” são duas expressões utilizadas para descrever BILLY BRAGG. O facto desta última ter sido utilizada pela primeira vez muito recentemente pelo institucional jornal The Times, pode ser apenas sinónimo do reconhecimento de uma carreira já longa de vinte e muitos anos, mas não deve ser encarada como uma rendição ao politicamente correcto, tão demasiado presente em todos o sectores desta nossa tristemente globalizada sociedade.

É na convulsão do punk, indissociável da situação político/social que se vivia no Reino Unido nos finais da década de setenta do século passado, que surgem, no meio de um turbilhão de bandas, os RIFF RAFF, que eram BILLY BRAGG e PHILIP ‘WIGGY’ WIGGS, geograficamente originários de Barking, Essex (encontraremos ‘WIGGY’ mais tarde a colaborar no projecto a solo do primeiro, nomeadamente no álbum “Don’t Try This At Home” de 1991).

THE CLASH despertaram indiscutivelmente em muito, muito boa gente, uma consciência política que estava adormecida nuns, entorpecida noutros (aqui também com a ajuda preciosa da brutalidade policial na época). Os temas que abordaram nas suas canções em conjugação com a atitude politicamente engajada que assumiram, através por exemplo da participação activa contra a ameaça da National Front (partido da extrema direita inglesa em preocupante ascensão na época), nos eventos promovidos pela Anti-Nazi League e pelo Rock Against Racism.

BILLY BRAGG não foi excepção. O primeiro concerto dos CLASH, a que assistiu na Rainbow deixou marca indelével, reflectindo-se certeiramente na confissão de BRAGG de que JOE STRUMMER alterou a sua forma de encarar o mundo.

É essa mesma consciência política e esse mesmo comprometimento com uma causa que define a carreira de BILLY BRAGG, indiscutivelmente ligado à esquerda inglesa. Em meados de oitenta muito próximo do Partido Trabalhista, então na oposição ao governo conservador da ‘dama-de-ferro’ Margaret Thatcher. Actualmente a situação é necessariamente diversa, uma vez que o Reino Unido é governado pelos trabalhistas, sob a liderança de Tony Blair, que é, no entanto e justamente, considerado um neo-conservador, à semelhança dos seus aliados da administração norte-americana.

Foi nesses anos uma voz forte no apoio às lutas sociais levadas a cabo contra o mencionado governo conservador. A Greve dos Mineiros em 1984 talvez tenha sido a mais importante batalha em que BRAGG se empenhou. Desde então e até ao presente, a luta e os motivos que à mesma conduzem, não terminou, e dificilmente terminará, e por isso a série de espectáculos que tem agendados para os próximos meses de Abril a Junho – Hope Not Hate tour – serão, também, de apoio às três principais organizações anti-fascistas inglesas, sem perder de vista as eleições locais em Maio (está, assim, explicada a expressão “one man Clash”!).

Os três discos que abordamos muito sumariamente a seguir, foram agora reeditados, devidamente remasterizados e providos de faixas extra, e são os que melhor espelham a componente interventiva que autor tão bem consegue entrelaçar com a vida simples e dura das classes ditas trabalhadoras (que no fundo, e em última análise, somos todos nós).

“Life’s a Riot with Spy vs Spy” em 1983 é o primeiro álbum. Um homem, uma guitarra e um amplificador (e aqui um parêntesis para destacar “Pay no more than…”, uma marca, inscrita em local visível na capa, que alerta o comprador para o facto de não dever pagar mais pelo disco que a quantia impressa, que representa o preço justo – um perfeito percursor do hoje chamado comércio justo, curiosamente em 1979 com “London Calling” os CLASH, prescindindo da sua quota parte de lucro, tinham conseguido que a multinacional CBS vendesse esse duplo álbum ao preço de um simples).

“Brewing Up With Billy Bragg” (1984) e “Talking with the Taxman About Poetry”(1986), representam o segundo e o difícil terceiro álbuns (neste já bem acompanhado entre outros, pelo genial JOHNNY MARR, na altura guitarrista dos SMITHS. Curiosamente ‘WIGGY’ não terá colaborado devido, ironicamente, a uma greve de autocarros).

As músicas dividem-se basicamente em dois capítulos. As de intervenção, como ‘To Have and Have Not’, ‘It Says Here’, ‘Ideology’, ‘There is Power in a Union’ ou ‘Help Save the Youth of America’,e as de amor, como ‘A New England’ ou ‘A Lover Sings’, enquadradas em retratos de quotidianos normais.

Estas e todas as outras merecedoras da nossa máxima atenção.

Pedro Neto Neves

Previous ArticleNext Article

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.

pt_PTPortuguese
pt_PTPortuguese

Send this to a friend