Conheci-o há quase 20 anos atrás, num dos concursos de Música Moderna do Rock Rendez Vous. Nessa altura, o seu primeiro projecto (os Sitiados), Farinha Master (malogrado mentor do projecto Ocaso Épico) e Essa Entente remavam contra a maré de um estado de espírito comum a imensos projectos musicais nacionais, nascidos na década de 80. De guitarra em punho, João Aguardela não tinha qualquer pejo em transformar canções com ritmos de chula e melodias populares do Portugal rural, em verdadeiros hinos pop. Muito antes dos incontornáveis “Vida de Marinheiro” e “A Noite”, “A Cabana do Pai Tomás” foi mais uma lança na Rua da Beneficência atirada contra os preconceitos e a vergonha que muitos dos «vanguardistas» sentiam pela genuinidade da nossa música.
Com os Sitiados, ou através dos projectos colectivos (Linha da Frente e A Naifa) e pessoal (Megafone), João Aguardela sempre fez questão de criar novos territórios musicais cantados (sempre) em português, estivessem eles mais ou menos ligados a tradições rurais ou urbanas, fossem eles mais ou menos acústicos ou electrónicos. Foi com esse espírito pioneiro e agitador das consciências mais conservadoras que Aguardela pegou em recolhas de Giacometti e as misturou com ritmos de drum’n’bass.
João Aguardela faleceu ontem, no Hospital da Luz, vítima de doença prolongada no estômago que o retirou dos palcos em Julho de 2008 (por altura da décima edição do FMM de Sines).
As CDT manifestam a todos os familiares e amigos os mais profundos sentimentos e informa que a cerimónia fúnebre realiza-se amanhã, terça-feira, dia 20 Janeiro, pelas 16h00, no Cemitério do Alto de São João.
Músicos portugueses recordam trabalho de João Aguardela
O músico João Aguardela, que morreu domingo em Lisboa, era “uma força muito positiva no meio musical”, disse Zé Pedro, guitarrista dos Xutos & Pontapés, à agência Lusa.
Zé Pedro recorda-se de João Aguardela dos tempos do Rock Rendez-Vous, ao qual os Sitiados concorreram em finais dos anos 1980, e da participação do grupo na colectânea “XX anos XX bandas”, dedicada aos Xutos & Pontapés.
Já a cantora Viviane, amiga de João Aguardela desde a génese dos Entre Aspas, definiu-o à Lusa como “um músico singular que teve uma profunda paixão pelas raízes da cultura e da música portuguesa e isso reflectia-se na música que fazia”.
Carlos Moisés, vocalista da Quinta do Bill, conheceu João Aguardela num concurso do Rock Rendez-Vous e mais tarde convidou-o para participar no álbum “Os filhos da Nação” (1994).
“Era um critivo à procura de novos roupagens para as nossas raízes da música tradicional”, disse Carlos Moisés à agência Lusa, recordando o trabalho de Aguardela no projecto a solo Megafone.
João Aguardela, que faria 40 anos em Fevereiro, morreu no domingo, em Lisboa, vítima de cancro.
O funeral realiza-se terça-feira às 16:00 para o Cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Distinguido em 1994 com o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Autores, João Aguardela liderou os Sitiados, grupo pop-rock que se inspirava na música tradicional portuguesa.
A busca das raízes e da tradição musical portuguesa levou-o também ao projecto Megafone, no qual recorria a recolhas etnográficas de Giacometti e José Alberto Sardinha, adicionando-lhes electrónica.
Liderou ainda o projecto “Linha da Frente” e desde 2004 integrava A Naifa, juntamente com Mitó e Luís Varatojo, com quem editou em 2008 o álbum “Uma inocente inclinação para o mal”.
in lusa
conheci-o pessoalmente há uns anos atrás quando o megafone veio à capela da misericórdia. constatei a dimensão do músico e do autor. mais tarde reencontrei-o no concerto da naifa aqui no auditório do cas. pareceu-me muito mais reservado e distante embora no palco mantivesse o brilho de um dotado. quando o luís varatojo me disse em maio ou junho passado que o joão não vinha ao fmm de porto covo e me revelou a causa da sua ausência fiquei muito triste. hoje mais triste fiquei e lamento imenso a perda. que a sua música e o seu legado viva entre nós. carlos s
foi uma noticia triste, realmente…..
Boas Carlos, Pedro, que esta lamentável e estúpida perda sirva para muitas bandas (e não só) deixarem de ter vergolha de «serem» portuguesas. Foram mais de 20 anos a remar contra a maré.
Privei com o João e os Sitiados algumas vezes ,era de facto um artista e um ser humano bom sem vedetismo e curioso musical em varias vertentes.Passei com o João e os Sitiados alguns bons momentos que não esqueço.Fica obra por agora,o artista vamos encontrar mais tarde para passarmos mais uns bons momentos.Eterno abraço.