Sons em Tr�nsito, Teatro Aveirense, 22Nov03
“Incendiaram o palco”. “Deitaram aquilo abaixo”. Lugares comuns que t�o bem se aplicam a um projecto que, desde o segundo “round”, agarrou uma plateia e um balc�o bastante distinto da noite anterior, composto por estudantes espanh�is do Erasmus, Galegos, rastas, freaks e hippies da tribo “Manu Chao”, etc. Os Ojos de Brujo trouxerem consigo uma verdadeira legi�o de f�s, conhecedores dos dois discos (“Vengue” e “Bari”) e das letras de algumas can��es. Arrepiante a explosiva ova��o final. O caso n�o � para menos. H� muito que n�o me lembrava de assistir a um espect�culo t�o intenso, do primeiro ao �ltimo minuto. Sem qualquer tipo de quebra. Partindo sempre de uma base de flamenco e suced�neos – bulerias, rumbas catal�s (o farol que os ilumina), os Ojos de Brujo parecem barco � deriva em mares t�o difusos quanto complementares de funk, hip hop, dub, reggae, � procura da rota mar�tima para o ber�o da civiliza��o cigana (a �ndia). L� v�m eles pela mil�sima vez com mais uma fus�o inconsequente. O tempo de Transglobal Underground e de Loop Guru j� passou, podiam dizer voc�s. S� que, nos Ojos de Brujo, tudo parece perfeito. A alma cigana encontra-se bem presente. Ramon (o guitarrista e uma das principais figuras do projecto) � um m�sico grande, grande. Toca com o nervo e o virtuosismo daqueles ciganos de leste que animam festas durante dias seguidos. Parte uma corda da sua guitarra e toca como se nada tivesse acontecido. Acompanha com as m�os e todo o corpo, os ritmos demolidores que saem do arrebatador despique de tr�s cajons e de momentos de percuss�o vocal carn�tica (que Trilok Gurtu popularizou entre os seguidores da movimenta��o “asian underground”) em “Zambra”. J� a carism�tica Marina desdobra-se, ora em pura cantora rumbera, ora em inquieta “rapper”. Uma panflet�ria de esp�rito zapatista. Denuncia as injusti�as do sistema capitalisa e luta pelos direitos dos sem-abrigo e dos “sem papeis”. � ela o principal elo de liga��o entre a nobre tradi��o andaluz e a cultura de rua, bem amplificada por um baixista t�o “swingante” quanto “afunkalhado” (sa�do picante escola de Kiedis) e por um eficaz MC e domador de pratos. �, ali�s, este dom�nio da cultura de “la calle” numa “Barcelona Zona Bastarda”, onde fervilham tantos e tantos interessantes projectos, que faz dos Ojos de Brujo uma das mais intensas e bem sucedidas propostas de fus�o. Excelentes em palco, bons em est�dio.
e, por falar em flamenco, o concerto de Vicente Amigo foi EXCELENTE!