Reportagens

Cibelle: O camale�o e a Leoa

Sons em Transito, Teatro Aveirense, 21Nov03

� com um certo sabor a injusti�a que leio algumas cr�ticas ao concerto de Cibelle, na imprensa nacional de refer�ncia. Se um diz mata, o outro diz esfola. Houve quem gastasse mais de metade do pouco espa�o que tem, para referenciar o extenso rol de azares e problemas t�cnicos dessa noite. Ser� que Cibelle garantir� um lugar no Guiness na categoria do concerto mais desastrado at� hoje realizado? Houve de tudo: problemas nos microfones, um comprometedor curto-circuito, uma correia de uma guitarra � tiracolo que caiu (como se isso n�o acontecesse regularmente – v� l�, o guitarrista n�o partiu nenhuma corda). S� faltou mesmo evocar a carta astral como forma de argumentar que os m�sicos n�o deveriam ter sa�do do hotel naquela noite. Estranho que, quem esbo�ou tantos pormenores num pequeno texto, n�o soubesse distinguir um vibrafone de um xilofone, nem tivesse conhecimento de que Suba � o nome de um falecido produtor jugoslavo e n�o a designa��o de um projecto musical. O outro escriba disse simplesmente – curto e grosso – que eles valeram zero. Ponto final. � a “puta da subjectividade” em forma.

� certo que Cibelle ainda tem pouca experi�ncia de palco. � certo que o espect�culo teve incidentes a mais, desde falhas cont�nuas no som dos microfones a um comprometedor curto-circuito que fez parar o espect�culo durante uns cinco minutos. � certo que Cibelle, aqui e ali desafina um pouco e at� chega a dar um ar de menina mimada. Mas, gabe-se-lhe o profissionalismo com que foi contornando os problemas que encontrou pela frente; como foi quebrando, um a um, os “galhos” e o gelo da assist�ncia, improvisando, contando pequenas hist�rias e pegando nas congas, durante o hiato do curto-circuito; como tornou el�stica a sua m�sica e a sua actua��o, balan�ando entre a densidade noise das guitarras e dos sintetizadores anal�gicos e a simplicidade de um viol�o acompanhando a despida voz de Cibelle, numa singular can��o baiana. Apesar de uma certa ingenuidade, Cibelle “agarrou sempre o touro pelos cornos”. Se alguns erros mais se notaram, deveram-se � inquietude, � constante necessidade de experimenta��o da jovem cantora. Ela que sempre que podia, tinha dois micros na m�o. Um de amplifica��o normal, o outro ligado a um pedal de reverbera��o, de forma a projectar ecos cont�nuos na sua voz. Por vezes, sentia-se o esp�rito Mutantes a rondar por ali.
Cibelle em palco mistura a pele de camale�o com a alma de leoa. A pedalada dela � enorme. As pilhas duram, duram e duram. Pensamos se ela n�o estar� dopada, tal a entrega e aus�ncia de cansa�o que demonstrou ao longo de uma hora e meia. A secund�-la, uma discreta e eficiente banda de seis elementos. Meticuloso o eg�pcio Tarek Abou-Chanab na cria��o de ambientes densos e on�ricos, atrav�s do seu vibrafone e de teclados anal�gicos. O mesmo se pode dizer do guitarrista brasileiro, Filipe Pagani ao mostrar um vasto leque de guitarras languidas, plenas de distor��o e wah wah. E do baterista italiano, Vladimiro Carboni, ao exibir um mancial r�tmico assaz diversificado, em todo semelhante ao resultado final: uma “middle of nowere village” que cruza ambientes electro-jazz, sombrios e intimistas, acabados de sair dos est�dios berlinenses da editora Compost, algumas pinceladas de bossa nova e de samba revistos a partir da Europa e algum ru�do e um certo esp�rito “screamad�lico”. Apesar de tudo, valeu.

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7 Comments

  1. Desculpe-me caros senhores, mas desafino nao ouvi algum.
    A senhora fez juz ao seu disco, apesar dos problemas tecnicos, mateve-se em forma.
    tenho apenas congratulacoes
    Maria

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