São provavelmente um dos maiores fenómenos da folk nórdica da actualidade. Pelo menos em cima de um palco onde incendeiam qualquer audiência. Vamos vê-los hoje à noite no FMM de Sines com o mesmo interesse e enorme expectativa com que, nos anos 90 os Värttinä (da ainda líder Saari Kaasinen) se estrearam em palcos portugueses no Intercéltico do Porto e os Hedningarna nos Encontros de Tradição Europeia organizados pela Etnia.
Os Frigg, que apresentam uma demolidora frente de quatro violinos, descendem da família Järvelä que há mais de 300 anos tem desenvolvido o ensino deste cordofone na sua aldeia (a Järvelä Village), situada a meia-dúzia de quilómetros de uma outra aldeia (Kaustinen – que, curiosamente, apresenta um violino no brasão da localidade), onde se mantém há mais de duas décadas um dos mais importantes festivais de folk e de músicas do mundo dos países nórdicos e da Europa.
Os Frigg são descendentes directos dos JPP. Projecto que renovou, nos anos 80, as danças típicas de toda a região da costa ocidental finlandesa (do golfo da Ostrobótnia) e a forma tradicional de abordar o violino, mas que não teve exposição internacional semelhante aos carelianos Värttinä ou aos fino-suecos Hedningarna.
Em Sines conversámos com a violinista Alina Järvelä e com o contra-baixista Antti Järvelä. Curiosamente filha e sobrinho de Mauno Järvela, um dos mentores dos JPP.
– Em Kaustinen há um sem um sem número de músicos e de bandas que os próprios finlandeses não conhecem e que apenas tocam localmente. O que é que uma banda como a vossa precisa de ter para se afirmar não só entre os países nórdicos como também no resto da Europa e nos Estados Unidos?
Antti – Muitas pequenas coisas.
Alina – Antti estava determinado em ter um objectivo para a banda.
Antti – Sim. Na altura em que tentamos arranjar financiamento para gravar o primeiro disco, decidimos que tínhamos de ter objectivos a médio prazo. Que deveríamos estar em algum lugar passado 10 anos. Antes já tínhamos viajado muito. Por isso interiorizámos a ideia de que tínhamos que nos divertir… por exemplo, penso que a razão para o facto de a maior parte dos músicos de Kaustinen não tocarem muito no exterior é porque eles não pensam que haja algo de especial na música que tocam. Muitos dos músicos só tocam localmente em casamentos. Os finlandeses têm um grande orgulho na sua cultura. Por isso, sentem que na sua música não há nenhum elemento exótico que possa interessar a outras audiências. Passa-se o mesmo no sentido inverso. Um cantor português a actuar para uma audiência finlandesa é, para nós, também uma coisa exótica.
– Tocar em Portugal pode ser algo exótico, mas penso que nos Estados Unidos não, dado que a vossa música tem uma forte componente de bluegrass. Muita gente conhece-vos…
Antti – Não nos conhecem tão bem.
Alina – Mesmo na Finlândia há muita gente que não nos conhece nem fazem ideia do que é a música folk finlandesa. É a mesma coisa em todos os lugares. Onde quer que vamos surpreendemos as pessoas. As pessoas ficam espantadas, fascinadas. Nunca ouviram nada assim.
Antti – O que determina a ideia dos finlandeses acerca dos fenómenos culturais, é que a música folk fazia parte da cultura popular no final dos anos 60, início dos anos 70. Muita gente, especialmente os mais velhos continuam a ter a mesma imagem. Houve uma grande evolução, apareceram muitas bandas boas que não saem, mas não têm ideia de como trabalhar de forma diferente para sair.
No início, pensei que, se queria ser músico profissional a música que fazia tinha de vender. Se eu disser que a Finlândia é habitada por cinco milhões e meio de habitantes e que provavelmente apenas cerca de 10 mil conhecem a nossa banda…
– Foi por isso, pelo facto de não estarem interessados em vender, de manterem o estilo tradicional local, que a banda dos vossos pais e tios, os JPP, nunca tiveram a exposição internacional de, por exemplo, os Värttinä?
Anti – Acho que temos de viver o momento. Os JPP são muito bons naquilo que fazem. É muito difícil por isto em palavras, mas tem também a ver com a vida pessoal dos músicos. O Artö Järvelä é quem faz tudo para que a banda continue a tocar.
– Os JPP ainda continuam a tocar? Localmente?
Antti – Sim e eu também toco com eles, mas maioritariamente fora. Em Setembro vamos outra vez, durante duas semanas, para os Estados Unidos.
Artö tem tantas outras coisas para fazer: projectos a solo, actividade de professor. O Timo Alakotila também anda sempre muito ocupado a compor, a tocar com a Maria Kalaniemi, com as aulas. Conseguiu recentemente também o estatuto de professor de arte durante cinco anos, que lhe oferece emprego a tempo inteiro.
Alina – Se pensarmos na antiga tradição de violinistas de Kaustinen, os JPP podem situar-se aí. Mas o que eles começaram a desenvolver nos anos 80 era muito moderno para essa altura.
– Porque é que nos anos 90 os Värttinä explodiram e os JPP que tinham também potencialidades para isso (música enérgica, muito dançável), não explodiram?
Alina – Os JPP não tinham vozes, não tinham set de percussão.
– Os Frigg também são um projecto instrumental, também não têm esse set de percussão.
Alina – Mas é um projecto com uma postura mais pop. Os JPP são mais clássicos.
Antti – As pessoas não conhecem muito a música hoje em dia e necessitam de a relacionar com algo. Connosco, funciona os elementos energia e diversão. Exteriorizamos isso em palco.
Os JPP também são enérgicos, mas a emoção é interna. Nunca explode para a audiência. Os JPP não seriam a banda mais indicada para este tipo de festival [FMM Sines], mas são uma grande banda numa festa mais íntima.
– Para os Frigg não basta serem grandes músicos e estarem muito entrosados, é necessário pensar nos pormenores do espectáculo. Como interagir com o público e mantê-lo interessados até ao fim?
Antti – Temos de ter estilo em palco [risos] para que as pessoas possam ver e sentir toda essa alegria. O público tem de sentir que tem o direito de entrar no espectáculo. Basicamente, é música de dança. Muitos dos projectos que escutámos na WOMEX quando lá estivemos em 2010, são muito orientados para o beat. Nós temos o beat, além de muitas outras coisas. Não precisamos de bateria para por as pessoas a dançar e a sorrir com a música.
[continua]